Onze anos depois, a campanha de sportswashing (usar o desporto para lavar a imagem de um país que comete graves crimes contra a humanidade) de Israel no mundo do ciclismo chegou ao fim. Na segunda-feira, a Israel-Premier Tech anunciou a sua intenção de «renomear e renovar a imagem da equipa, afastando-se da sua identidade israelita actual», e de afastar o actual dono, o multimilionário israelo-canadiano Sylvan Adams, que, em 2023, justificava a acção genocida de Israel como uma luta do «bem contra o mal e da civilização contra a barbárie».
A decisão da equipa israelita surge apenas três semanas depois da última etapa da Vuelta a España, um dos eventos mais importantes no mundo do ciclismo. Os protestos contra o massacre em Gaza e a participação da equipa israelita foram crescendo ao longo de toda a competição (o primeiro não tinha mais do que 10 pessoas), culminando numa enorme manifestação que juntou mais de 100 mil em Madrid e forçou o cancelamento da última etapa a 56km da meta.
O êxito dos protestos contra a Israel-Premier Tech em Espanha bloquearam, efectivamente, qualquer hipótese de se realizar uma corrida sem incidentes no futuro. Há duas semanas, a Factor, a maior patrocionadora da equipa, exigiu a mudança imediata do nome e da identidade, sem a qual retiraria o seu apoio. Já no início da semana passada, a organização do Giro dell'Emilia (que termina na cidade de Bolonha) invocou razões de segurança para cancelar a participação da equipa, que desistiu, por sua própria vontade, de participar na Coppa Bernocchi, Tre Valli Varesine e Gran Piemonte.
Muito embora a Israel-Premier Tech continue a afirmar que «é, e sempre foi, um projecto desportivo», Sylvan Adams e outras figuras da equipa nunca esconderam o propósito de limpar a imagem de um Estado envolvido em inúmeros crimes contra a humanidade. Guy Niv (o primeiro ciclista israelita a participar na Volta a França) assumiu, em 2021, que todos os atletas da equipa, com ou sem nacionalidade israelita, são «embaixadores da nação. Não temos um patrocinador como as outras equipas, a nossa marca é Israel e levamos o nome de Israel para onde quer que vamos».
A biografia de Sylvan Adams no World Jewish Congress (transformado, hoje, num órgão de propaganda e lobbying israelita) descreve-o como um «autoproclamado embaixador do Estado de Israel» que promoveu e «fortaleceu a posição internacional do país ao trazer eventos culturais e desportivos de nível mundial para Israel». O facto de ser dono da Israel-Premier Tech não é ignorado: «leva o bom nome de Israel para todo o mundo».
O sionismo terá de encontrar outra modalidade para lavar as suas mãos do sangue de centenas de milhares de crianças, mulheres e homens inocentes - o projecto de sportswashing no ciclismo chegou ao fim.
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