O Don't Pay UK é um movimento de cidadãos. Em Junho, alguns amigos imprimiram 20 000 folhetos e distribuíram-nos numa manifestação. A sua ideia: se um milhão de pessoas se inscreverem até Outubro, prometem suspender o seu débito directo com o seu fornecedor de energia, isso vai impedir os aumentos selvagens. Cerca de 120 000 pessoas já se inscreveram.
A campanha «Enough Is Enough» reuniu centenas de milhares de assinaturas em poucos dias e vai realizar em Londres a primeira manifestação nacional para protestar contra o aumento do custo de vida. A iniciativa de base «Enough Is Enough» (Basta), que conta com o apoio de sindicatos, bancos alimentares e deputados de esquerda do Partido Trabalhista, anunciou esta sexta-feira que Londres será palco, no próximo dia 17, da primeira de 50 manifestações previstas, em todo o país, contra a crise do custo de vida. Isto corre numa altura em que foram avançadas previsões de que as facturas anuais da energia poderão chegar às 5300 libras (mais de 6200 euros). Pela campanha dão a cara figuras conhecidas como Mick Lynch e Eddie Dempsey, do sindicato dos transportes RMT, Dave Ward, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação (CWU), e a deputada do Partido Trabalhista Zarah Sultana (eleita por Coventry Sul). A iniciativa, que exige «aumentos salariais reais, cortes nas facturas da energia, o fim da pobreza alimentar, habitação decente para todos e impostos aos ricos», reuniu mais de 300 mil assinaturas desde que foi lançada, na segunda-feira, segundo se refere na sua conta de Twitter. «Os trabalhadores vêem como uma pequena elite quer fazer com que as suas vidas sejam trabalhar mais duramente por menos», disse Dave Ward. Os trabalhadores da ferrovia fizeram greve por não haver acordo com as empresas que operam no sector. Exigem aumentos salariais, melhores condições de trabalho e garantias de que não serão despedidos. Embora a paralisação desta quarta-feira não tenha tido a dimensão da greve de três dias realizada em Junho, o serviço ferroviário viu-se bastante afectado nos vários territórios do Reino Unido. Segundo revela a imprensa, nas redes nacionais circulou apenas um em cada cinco comboios – e nalguns casos não se registou qualquer circulação –, tendo a conta a adesão à greve de maquinistas, sinalizadores e outros funcionários. A paralisação abrangia os trabalhadores filiados no sindicato RMT que laboram na Network Rail e em 14 operadores privados, bem como os trabalhadores organizados no sindicato TSSA que trabalham para a empresa Avanti West Coast. Em declarações à BBC, o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, disse que a paralisação se deve às empresas que operam no sector, uma vez que a sua atitude conduziu ao fracasso nas negociações com os representantes dos trabalhadores. «Não nos apresentaram nenhuma proposta sobre salários, nem nos deram garantias de que não haverá despedimentos em massa», afirmou Lynch. Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia. «Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter. Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor». «A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch. «Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia. «Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star. Sindicatos, utentes, partidos de esquerda estão a denunciar o «Health and Care Bill» do governo de Boris Johnson, afirmando que se trata de um cavalo de Tróia para aprofundar a privatização da saúde pública. À medida que o projecto da Lei da Saúde e dos Cuidados avança, depois de ter sido apresentado, em Julho, pelo governo conservador britânico, sobe de tom a oposição de vários sectores progressistas e de esquerda, que vêem na «lei do assalto corporativo» ao National Health Service (NHS; serviço nacional de saúde) uma forma de aprofundar a sua privatização e de colocar áreas-chave da saúde pública nas mãos dos privados. Esta semana, um deputado do Partido Trabalhista exigiu a reversão da privatização do NHS, bem como a supressão do projecto de lei conservador, refere o Peoples Dispatch. Reclamou ainda o financiamento adequado do serviço nacional de saúde, incluindo um aumento salarial de 15% para os seus funcionários. Organizações como We Own It e Unite the Union, iniciativas e campanhas como Save the NHS e Just Treatment também têm estado activas e a expressar as suas preocupações sobre o projecto de lei, acusando o governo de Johnson de usar a pandemia de Covid-19 para privatizar serviços importantes do NHS. O governo britânico defende a necessidade de reorganizar o sistema, aproximando os hospitais do apoio social e atribuindo um papel mais formal às empresas privadas na «colaboração» com o serviço público – que já detêm. Os oponentes afirmam que a referida reorganização – que irá dividir o NHS em 42 unidades integradas, «cada qual com o seu orçamento apertado» – significa um aprofundamento da privatização do sistema, quando, no contexto da pandemia, se exige um maior investimento público. O projecto de lei, que já foi aprovado na Casa dos Comuns duas vezes em Julho, encontra-se na fase da Comissão, prevendo-se que seja submetido a uma terceira votação em Outubro. De acordo com a fonte, o governo de Boris Johnson quer lançar a «reforma» a todo o vapor em Abril do próximo ano. Numa declaração proferida na terça-feira, Jacalyn Williams, responsável da área da Saúde do sindicato Unite the Union, sublinhou que o «NHS é a nossa maior conquista e, depois de uma década de subfinanciamento e de lidar com a pandemia de Covid-19, esta lei não é a receita de que necessitamos». Disse ainda que a lei é um cavalo de Tróia, que vai trazer maior privatização, clientelismo, austeridade, e dará carta branca para «atropelar e vender o NHS». Por seu lado, a organização Just Treatment afirmou que o projecto de lei vai conduzir o serviço público para um estilo à americana, onde os lucros são postos à frente da saúde, e destacando que lucrar com a saúde das pessoas contraria os princípios do NHS. O organismo lembrou ainda que, entre os muitos poderes que as empresas privadas passarão a ter, está o de decidir aquilo que os trabalhadores ganham, o que significará cortes para enfermeiros e médicos sobrecarregados. De acordo com as estimativas do Unite the Union, o nível de privatização do NHS em 2018-19 variou entre 7% e 22%, e mesmo o valor mais baixo representou a transferência de 9,2 mil milhões de libras (10,7 mil milhões de euros) do orçamento do NHS para os bolsos dos privados. Robert Griffiths, secretário-geral do Partido Comunista Britânico, também criticou a «proliferação de cuidados de saúde privados, a transferência de serviços do NHS para empresas guiadas pelo lucro, a drenagem de recursos do NHS para Inciativas de Financiamento Privado (PFI) e a duplicação dos pagamentos a entidades privadas desde 2010», informa o Peoples Dispatch. Segundo um inquérito realizado pela campanha We Own It (é nosso) e pela Survation, 76% dos inquiridos disseram que desejavam ver o NHS «restabelecido como um serviço totalmente público», frente a apenas 15% que aceitaram a colaboração privada com a saúde pública. «Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no nosso NHS – queremos mais financiamento, uma voz democrática sobre o modo como funciona, apoio adequado aos trabalhadores e o fim dos planos de privatização», afirmou a Just Treatment numa declaração da sua campanha contra o projecto de lei de Boris Johnson. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre». «A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou. O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços. «Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady. Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais». O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70». As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos. Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia». «30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições. Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa. No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa. Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla. De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos. O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários. Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral. A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho. No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém». Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas. Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito. A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia. Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras. É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «O sindicato continuará a negociar de boa-fé, mas não se deixará intimidar por ninguém», disse ainda Lynch, em alusão às ameaças veiculadas por representantes das empresas. Sublinhou também a necessidade de o governo conservador britânico «deixar de interferir nas negociações, para que possa haver um acordo entre as empresas do sector e os trabalhadores». A este propósito, a secretária-geral do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, acusou o secretário dos Transportes do executivo britânico, Grant Shapps, de ter bloqueado as negociações que podiam ter evitado a greve. «Todos nós queremos ver negociações bem-sucedidas para pôr fim a este conflito», disse O'Grady, que acusou Shapps de ter dado «instruções secretas» às empresas do sector ferroviário para que não chegassem a um acordo, indica o periódico Morning Star. Entretanto, apesar de a direcção do Partido Trabalhista ter dado instruções aos seus membros para não apoiarem a greve, alguns deputados desafiaram essa orientação e dirigiram-se a estações e outros locais onde havia piquetes, em solidariedade com os trabalhadores. Jeremy Corbyn, ex-líder dos trabalhistas (2015-2020) e agora deputado independente, esteve com um piquete de greve em Euston (Londres), tendo afirmado os trabalhadores da ferrovia falam por muita gente no país. Num texto publicado no Morning Star, Sarah-Jane McDonough, do sindicato TSSA, pergunta: «Quanto tempo mais espera o governo que os trabalhadores aceitem que os ricos fiquem mais ricos enquanto nós ficamos mais pobres?» E acrescenta que aqueles que «lucram com a nossa exploração» receberam com «fingida surpresa» a exigência de aumentos salariais. «Isso não os devia surpreender de todo. Mais e mais trabalhadores estão a perceber que os lucros das empresas privadas são os salários não pagos dos trabalhadores e que essa injustiça existe há demasiado tempo», afirma. McDonough aponta a vontade de despedir trabalhadores, a falta de manutenção na rede, a pouca propensão para aumentar salários e contrapõe a isso os lucros de muitos milhões de libras que as empresas privadas têm estado a fazer com a concessão do sector ferroviário no Reino Unido. «O dinheiro está lá e sempre esteve. Esta acção [sindical] não é apenas sobre os salários, termos e condições dos trabalhadores filiados no TSSA e no RMT no sector ferroviário, mas faz parte de um quadro muito maior», frisa a sindicalista. Em seu entender «a situação económica que vivemos hoje não é tanto uma crise de "custo de vida", mas uma crise de lucro privado cujo custo a classe dominante espera que os trabalhadores paguem». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Agora, essa mesma elite está a lucrar com uma crise de custo de vida que levará milhões para a pobreza», acrescentou, citado pelo diário Morning Star. «As coisas não podem continuar assim – é tempo de dizer basta!», clamou. O seu apelo foi feito num momento em que a empresa de consultoria Auxilione avançou que o tecto que fixa um limite para o preço da energia em Inglaterra, no País de Gales e na Escócia pode chegar a 5277 libras em Abril de 2023. Esta previsão, que estima que o preço anual do gás e da electricidade chegará a 3628 libras (4290 euros) em Outubro e 4358 libras (5150 euros) em Janeiro do próximo ano, é a pior alguma vez realizada. Paralelamente, foi lançada uma campanha de desobediência civil intitulada «Don't Pay UK» (Não pagues, Reino Unido), que reuniu, até ao momento, mais de 105 mil assinaturas. Afirma-se como um movimento contra a subida do preço da energia, e, além das redes sociais, os seus promotores instalaram mesas de informação em várias cidades do país, com o propósito de explicar à população os objectivos da campanha. Exigem a redução do preço das facturas de energia para «um nível comportável» e dizem que irão cancelar os pagamentos por débito directo a partir de 1 de Outubro, caso não sejam ouvidos. A sua meta é alcançar um milhão de assinaturas de pessoas que se comprometem a não pagar as suas facturas, lembrando que já existiram movimentos de «não pagamento» no país. Algumas vozes – desde associações de consumidores até ao regulador do preço da energia no Reino Unido – alertaram que, no actual contexto, a medida de «não pagamento» poderá fazer aumentar o nível de endividamento e empobrecimento dos britânicos. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Mobilizações a caminho no Reino Unido contra o aumento do custo de vida
Uma pequena elite a lucrar e a levar milhões para a pobreza
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«Os lucros deles são os nossos salários não pagos»: ferroviários britânicos em greve
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Reino Unido: democratas «devem opor-se» à limitação de direitos sindicais
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«Precisamos de atingir os fornecedores na carteira, para os forçar a renegociar os seus preços», explica, ao diário francês Le Monde, Simon Howard que foi um dos primeiros a inscrever-se no início de Julho, quando a campanha se limitava a uma página do Facebook.
Desde então, a ideia tem vindo a crescer como uma bola de neve. Em Manchester, Patrick Foster, 24 anos, juntou-se ao movimento. « Este movimento pode tornar-se como o movimento poll tax», diz ele, referindo-se ao imposto cuja criação provocou motins em 1990 e levou à queda de Margaret Thatcher.
«Já chega, temos de agir agora», confirma Dan Stern. Quando montou a sua loja de peixe em Bristol, The Fish Shop, há uma década, pagou 8 pence por quilowatt hora. «Subiu para 12 pence, depois 14 pence há dois ou três anos, e acabou de subir para... 30 pence». E está com sorte. O fruticultor vizinho está a renegociar o seu contrato, e o seu fornecedor está a oferecer 70 pence. «Uma grande parte da nossa economia depende das lojas. Se as pessoas não tiverem dinheiro por causa das suas contas, terão de cortar nas suas compras. Há um risco de colapso da economia», diz Stern.
O governo conservador nada faz: Boris Johnson está de saída, e Liz Truss, a favorita para o suceder, parece não pretender fazer nada e deixar o mercado funcionar. As consequências da cegueira ideológica da inacção são conhecidas: em 2021, havia 4,5 milhões de famílias em «pobreza energética» (que pagam mais de 10% do seu rendimento em contas de energia); em Outubro, haverá 8,9 milhões; em Janeiro de 2023, 15 milhões, de acordo com os cálculos do Grupo de Acção contra a Pobreza Infantil. Isto é, mais de um em cada dois lares no Reino Unido estará na pobreza.
Em Outubro de 2021, o limite máximo do regulador nas contas de gás e electricidade no Reino Unido era de 1277 libras (1527 euros) por ano. Em Abril de 2022, tinha subido para 1971 libras, um salto de 54%. Até Outubro, o seu nível futuro, que ainda não foi oficialmente anunciado, deverá atingir «cerca de 3500 libras», segundo o governador do Banco de Inglaterra Andrew Bailey. Isto representa uma quase triplicação das contas de energia num ano para os lares britânicos.
O choque energético é global, mas sem uma limitação aos aumentos de preços ou sistema equivalente, a população será duramente atingida. «As famílias enfrentam aumentos de preços não vistos durante uma geração», observa, ao Le Monde, Jack Leslie, um economista da Fundação Resolution, um grupo de reflexão. Em Junho, a inflação foi de 9,4% numa base anual, a mais elevada em quatro décadas.
Trabalhadores em greve podem ser substituídos por contratados temporariamente. Aquilo que era uma «infracção penal» passa a ser «uma opção para as empresas», frisou o secretário dos Negócios e Energia. «Não vamos deixar os sindicatos paralisar a nossa economia», disse Kwasi Kwarteng ao dar conta da alteração legislativa na sua conta de Twitter. Comentando a medida do governo, Mick Lynch, secretário-geral do sindicato Rail, Maritime and Transport (RMT), sublinhou que se trata do «último passo da repressão sobre a dissidência democrática a que todos os sindicalistas e democratas se devem opor». «A utilização de trabalho temporário para acabar com as greves não é apenas anti-ética e moralmente repreensível, é totalmente impraticável», frisou Lynch. «Os trabalhadores das empresas de trabalho temporário (ETT) não terão a habilidade, o treino ou as competências necessárias para conduzir um combóio, fazer trabalhos complexos de manutenção na via, sinalizar comboios ou fazer toda uma série de trabalhos críticos de segurança na rede», alertou o dirigente sindical, referindo-se à área da ferrovia. «Em vez de tentar reduzir os direitos dos sindicatos, que já são os piores da Europa ocidental, o governo devia libertar a Network Rail e as empresas que operam a ferrovia, para que chegássemos a um acordo», disse, citado pelo Morning Star. Sindicatos, utentes, partidos de esquerda estão a denunciar o «Health and Care Bill» do governo de Boris Johnson, afirmando que se trata de um cavalo de Tróia para aprofundar a privatização da saúde pública. À medida que o projecto da Lei da Saúde e dos Cuidados avança, depois de ter sido apresentado, em Julho, pelo governo conservador britânico, sobe de tom a oposição de vários sectores progressistas e de esquerda, que vêem na «lei do assalto corporativo» ao National Health Service (NHS; serviço nacional de saúde) uma forma de aprofundar a sua privatização e de colocar áreas-chave da saúde pública nas mãos dos privados. Esta semana, um deputado do Partido Trabalhista exigiu a reversão da privatização do NHS, bem como a supressão do projecto de lei conservador, refere o Peoples Dispatch. Reclamou ainda o financiamento adequado do serviço nacional de saúde, incluindo um aumento salarial de 15% para os seus funcionários. Organizações como We Own It e Unite the Union, iniciativas e campanhas como Save the NHS e Just Treatment também têm estado activas e a expressar as suas preocupações sobre o projecto de lei, acusando o governo de Johnson de usar a pandemia de Covid-19 para privatizar serviços importantes do NHS. O governo britânico defende a necessidade de reorganizar o sistema, aproximando os hospitais do apoio social e atribuindo um papel mais formal às empresas privadas na «colaboração» com o serviço público – que já detêm. Os oponentes afirmam que a referida reorganização – que irá dividir o NHS em 42 unidades integradas, «cada qual com o seu orçamento apertado» – significa um aprofundamento da privatização do sistema, quando, no contexto da pandemia, se exige um maior investimento público. O projecto de lei, que já foi aprovado na Casa dos Comuns duas vezes em Julho, encontra-se na fase da Comissão, prevendo-se que seja submetido a uma terceira votação em Outubro. De acordo com a fonte, o governo de Boris Johnson quer lançar a «reforma» a todo o vapor em Abril do próximo ano. Numa declaração proferida na terça-feira, Jacalyn Williams, responsável da área da Saúde do sindicato Unite the Union, sublinhou que o «NHS é a nossa maior conquista e, depois de uma década de subfinanciamento e de lidar com a pandemia de Covid-19, esta lei não é a receita de que necessitamos». Disse ainda que a lei é um cavalo de Tróia, que vai trazer maior privatização, clientelismo, austeridade, e dará carta branca para «atropelar e vender o NHS». Por seu lado, a organização Just Treatment afirmou que o projecto de lei vai conduzir o serviço público para um estilo à americana, onde os lucros são postos à frente da saúde, e destacando que lucrar com a saúde das pessoas contraria os princípios do NHS. O organismo lembrou ainda que, entre os muitos poderes que as empresas privadas passarão a ter, está o de decidir aquilo que os trabalhadores ganham, o que significará cortes para enfermeiros e médicos sobrecarregados. De acordo com as estimativas do Unite the Union, o nível de privatização do NHS em 2018-19 variou entre 7% e 22%, e mesmo o valor mais baixo representou a transferência de 9,2 mil milhões de libras (10,7 mil milhões de euros) do orçamento do NHS para os bolsos dos privados. Robert Griffiths, secretário-geral do Partido Comunista Britânico, também criticou a «proliferação de cuidados de saúde privados, a transferência de serviços do NHS para empresas guiadas pelo lucro, a drenagem de recursos do NHS para Inciativas de Financiamento Privado (PFI) e a duplicação dos pagamentos a entidades privadas desde 2010», informa o Peoples Dispatch. Segundo um inquérito realizado pela campanha We Own It (é nosso) e pela Survation, 76% dos inquiridos disseram que desejavam ver o NHS «restabelecido como um serviço totalmente público», frente a apenas 15% que aceitaram a colaboração privada com a saúde pública. «Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no nosso NHS – queremos mais financiamento, uma voz democrática sobre o modo como funciona, apoio adequado aos trabalhadores e o fim dos planos de privatização», afirmou a Just Treatment numa declaração da sua campanha contra o projecto de lei de Boris Johnson. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Por seu lado, a secretária do Congresso dos Sindicatos (TUC), Frances O'Grady, disse que a medida do governo é uma «receita para o desastre». «A utilização de trabalhadores de ETT para tentar quebrar as greves colocaria estes trabalhadores numa posição tremenda, agravaria os conflitos e envenenaria as relações laborais», alertou. O governo quer minar o «direito fundamental à greve», destacou O'Grady, lembrando ainda que a medida constitui uma ameaça à segurança pública, uma vez que pôr trabalhadores não treinados em determinadas funções pode colocá-los em risco a eles e aos utentes dos serviços. «Numa altura em que milhões lutam para chegar ao fim do mês, o governo ataca a capacidade dos trabalhadores para reivindicar salários mais altos», disse O’Grady. Na sua página online, o governo britânico afirma que, a partir de ontem, as empresas afectadas por greves «podem recorrer a funcionários temporários e qualificados, com pouca antecedência, para preencher postos essenciais». O secretário britânico dos Negócios e Energia justificou a medida à luz «da acção sindical militante que ameaça paralisar serviços públicos essenciais», acrescentando que tinha agido com rapidez para «revogar estas restrições onerosas, ao estilo dos anos 70». As «pessoas honestas e trabalhadoras podem prosseguir com as suas vidas», ou seja, sem ter pela frente os incómodos das consequências da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e melhores salários, para denunciar o aumento do custo de vida ou a má gestão governamental dos recursos públicos. Para Kwarteng, esta quinta-feira trouxe boas notícias «à nossa sociedade e à nossa economia». «30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições. Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa. No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa. Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla. De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos. O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários. Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral. A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho. No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A medida já andava a ser comentada da imprensa desde o mês passado, na sequência das greves com forte impacto no sector dos transportes. Precisamente o secretário dos Transportes, Grant Shapps, mostrou-se determinado a fazer frente ao que chamou o poder dos dirigentes sindicais, que acusou de manter «o país refém». Em tom igualmente populista ao de Kwarteng e querendo gerar divisão no seio das camadas atingidas pelo efeito bumerangue das sanções contra a Rússia e pelas políticas neoliberais do executivo conservador, Shapps também pôs de um lado os maus dos grevistas, que têm o poder de perturbar o funcionamento do país, e as coitadas das pessoas trabalhadoras, que, agora, com esta legislação quebra-greves, já vão poder continuar a fazer as suas vidas. Que as coitadas das pessoas honestas e trabalhadoras podem continuar a ser roubadas e que os trabalhadores lutam por direitos – já não foi coisa que o secretário tenha dito. A legislação passa a ter efeito em Inglaterra, País de Gales e Escócia. Quando uma acção de luta promovida por um sindicato é considerada ilegal, o limite pelos «danos» que podiam ser imputados à estrutura sindical estava fixado em 250 mil libras; agora passou para um milhão de libras. É outra das alterações promovidas pelo governo conservador, enquanto os media se entretêm com «prognósticos, apostas e pontos de interrogação» sobre Sunak e Truss. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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«Os utentes e os trabalhadores não querem mais poder corporativo no NHS»
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Neoliberais a atacar direitos dos trabalhadores e com discurso para dividir as camadas populares
Internacional|
Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas
Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»
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Este quadro sombrio é muito agravado pela invasão russa da Ucrânia no final de Fevereiro. «Desde Maio [quando foi feita a previsão anterior do Banco de Inglaterra], os preços do gás por grosso quase duplicaram devido a restrições no fornecimento da Rússia», diz Bailey.
A situação difícil do Reino Unido está longe de ser única. Em Junho, a inflação nos EUA era de 9,1% e 8,6% na zona euro, próximo do nível do Reino Unido. A Europa Central e a Alemanha estão muito mais expostas aos cortes de gás russo do que o Reino Unido, que obtém a maior parte do seu gás do Mar do Norte. Além disso, muitos economistas estão a prever uma recessão na zona euro e nos EUA nos próximos meses.
No entanto, no Reino Unido a situação é mais grave na medida em que as pessoas mais pobres estão particularmente expostas aos custos da energia. A 3 de Agosto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou um estudo que mede o impacto do choque energético nos 20% mais ricos dos lares e nos 20% mais fracos em toda a Europa. Em França, Finlândia e Suécia, o aumento do custo de vida é semelhante para ambos os grupos, cerca de 4%. No Reino Unido, é de 7% para os mais ricos e 16% para os mais pobres. Apenas a Estónia mostra um fosso tão grande.
Para Torsten Bell, director da Fundação Resolution, a explicação reside no cocktail tóxico de baixo crescimento e alta desigualdade ao longo dos últimos 15 anos. «As famílias mais pobres [20%] já tinham visto as suas despesas em bens essenciais aumentar de 51% do seu rendimento em 2006 para quase 60% em 2019». Para eles, o impacto da triplicação das contas de electricidade e gás é desproporcionado.
O Verão de todas as lutas
O empobrecimento da população tem levado à reacção do movimento sindical. Este Verão assistiu-se a um impressionante recrudescimento da acção sindical no Reino Unido.
Uma onda de greves, protestos e lutas no Reino Unido veio pôr a nu o que separa os trabalhadores de um partido tomado pelo neoliberalismo como o Labour. Há muito que o Labour não é o partido dos trabalhadores britânicos. É verdade que a direita (lá como cá) continua a idolatrar saudosamente as máximas de Margaret Thatcher de que «não há alternativa» ao sistema capitalista. Para a discussão que nos importa, e que não comece necessariamente com as sucessivas traições do Labour aos trabalhadores desde tempos remotos, podemos afirmar com segurança que, desde o governo de Tony Blair, é no mínimo irónico chamar trabalhista a um partido que, chegado ao poder em 1997 nos escombros do thatcherismo, que levou à fragilização da esquerda britânica e à fragmentação do movimento sindical, já não tinha nada a perder em adoptar o neoliberalismo «com rosto humano». Com a criação do New Labour, Blair montou ardilosamente uma Terceira Via (cruxis) para os trabalhadores: com a paulatina privatização de serviços públicos12 e desmantelamento do Estado Social, a acumulação de riqueza dos mais poderosos, o embrião das parcerias público-privadas, o mercado «evangelizado» dos empreendedores, a demonização da classe trabalhadora (os «chavs»), a diabolização dos funcionários públicos tornados precários e subcontratados. Uma (terceira) via enfim aberta, aproveitada a toda a velocidade pelos governos conservadores que lhe seguiram, desde 2010. Como dizia Peter Mandelson, político, barão e Lord (estas coisas no Reino Unido nunca se excluem), braço direito e «spin doctor» de Blair (e de Gordon Brown) nos seus governos trabalhistas: «Estamos imensamente relaxados se as pessoas se tornarem absurdamente ricas, desde que paguem os seus impostos.» Os ricos tornaram-se absurdamente ricos. A classe média, entrincheirada no elevador social e nas suas ilusões de classe (aquelas férias anuais, ou até uma segunda casa, no Algarve ou na Costa del Sol, com as recém-criadas companhias aéreas low-cost), deixou para trás a classe trabalhadora nas cinturas urbanas das cidades pós-industriais e no rescaldo do desmantelamento de grande parte do sector produtivo do Reino Unido. Mas eram os anos 90: a «história» tinha finalmente «acabado», e o crescimento económico, a integração europeia «plena» e prosperidade eram uma larga autoestrada rumo à aparente «conciliação» das classes. «as Ilhas Britânicas continuam a ser, pelo menos na Europa, palco privilegiado das tensões entre trabalhadores e capital: entre acumulação da riqueza e a sua desigual distribuição, caldinho de oligarquias no poder económico, financeiro e político, mas também mobilizadora dos movimentos sindicais, comunistas ou trabalhistas» Para os portugueses, este retrato não é muito diferente do que aconteceu no nosso País com os governos do PS, pelo menos desde António Guterres (que era, aliás, fã de Anthony Giddens, pai da «terceira via»), com a gradual «direitização» do Partido Socialista até à intervenção da troika, e as subsequentes opções de classe – dominante – que o PS continua a ter, mais e mais próximo do capital, cada vez mais distante dos trabalhadores, de que aliás esta maioria absoluta está a ser a todos os títulos exemplar. Não foi por acaso que, já no século XIX, Marx e Engels usaram o Reino Unido como laboratório da sua análise do capital. Ontem (século XIX), como no final dos anos 90 e, novamente, hoje, as Ilhas Britânicas continuam a ser, pelo menos na Europa, palco privilegiado das tensões entre trabalhadores e capital: entre acumulação da riqueza e a sua desigual distribuição, caldinho de oligarquias no poder económico, financeiro e político, mas também mobilizadora dos movimentos sindicais, comunistas ou trabalhistas, de resistência da classe trabalhadora, e na luta por muitas conquistas que (ainda) hoje são nossas – do direito à greve, à jornada de trabalho. No rescaldo da derrota do Labour em 2010 e da sua completa desorganização (apenas interrompida pelo curto mandato de Jeremy Corbyn, aniquilado pela campanha mediática dos «moderados de esquerda» levada a cabo pelo The Guardian34, por ser demasiado «militante» e «radical»); de uma série alterações à lei eleitoral (que favoreceram e continuarão a favorecer o partido Conservador); após três PM dos Tories (David Cameron, Theresa May, Boris Johnson), a caminho do quarto (só em Setembro saberemos quem); após a caótica posta em prática do Brexit – o Reino Unido continua a ser o espaço por excelência das mais modernas «experimentações» do capital. Trabalho escravo de apanhadores de fruta e simultânea criminalização da imigração, importação de mão-de-obra para o SNS (enfermeiros e médicos) sem reforço de investimento na formação nacional e progressão nas carreiras, sub-orçamentação e investimento em PPP, progressiva privatização do SNS (recentemente, com a entrada de seguradoras e farmacêuticas norte-americanas no negócio da Saúde); neoliberalização do Ensino Superior e subida exponencial de propinas; privatização dos Correios (Royal Mail) e das empresas ainda públicas de energia (água, gás, electricidade); privatizações ou concessões de PPP nos transportes públicos (o que restava da aviação pública, mais linhas de comboio, companhias ferroviárias, transportes urbanos), subfinanciamento e subcontratações a privados em todos os serviços públicos (do SEF à recolha do lixo à cobrança de impostos). Colhendo os frutos dos alicerces lançados pelo neoliberalismo de Margaret Thatcher, que o Labour de Tony Blair tão bem aproveitou para alimentar a sua rede de poder, privilégios e amigos, os Tories da última década só tiveram de assinar de cruz o processo de destruição em curso do que resta do Estado Social britânico. «Colhendo os frutos dos alicerces lançados pelo neoliberalismo de Margaret Thatcher, que o Labour de Tony Blair tão bem aproveitou para alimentar a sua rede de poder, privilégios e amigos, os Tories da última década só tiveram de assinar de cruz o processo de destruição em curso do que resta do Estado Social britânico.» A pandemia, acelerando a concentração de capital e a destruição de milhares de postos de trabalho, a par do Brexit, da guerra na Ucrânia e da hiper-inflação, pôs a nu mais do que nunca a necessidade de organização dos trabalhadores. Este «Verão quente do descontentamento» no Reino Unido com greves, lutas e paralisações em sectores estratégicos como a ferrovia, transportes urbanos, correios, bombeiros, tribunais e, a preparar-se no Outono, professores e o SNS, está a mostrar que, ao contrário do que nos disseram, o movimento sindical britânico não está, de facto, morto e até parece ter uma força que não se via em anos. Mas está sozinho, porque o Labour o abandonou. O afastamento do ministro-sombra dos trabalhistas no sector dos Transportes, Sam Tarry, após este se juntar ao piquete de greve dos trabalhadores da ferrovia (do sindicato RMT, dos transportes urbanos, marítimos e ferroviários), na semana passada, mostra bem a que ponto chegou o Labour de Keir Starmer na defesa dos direitos dos trabalhadores. Já na primeira onda de greves da RMT, em Junho, vozes à esquerda dentro do Labour instigaram Keir Starmer a posicionar-se politicamente ao lado da luta e dos sindicatos, e a participar nos piquetes. Do líder do Labour só houve silêncio – em contrapartida, Jeremy Corbyn e os corbynistas lá estiveram nos piquetes, um pouco por todo o país. A discussão sobre o direito à greve – progressivamente atacado desde os governos de Thatcher, que feriram de morte a organização sindical em alguns sectores, sobretudo na indústria e nos minérios – voltou aos debates, talk shows da manhã ou em horário nobre, mais sérios ou mais entertainment, ao circo dos opinion makers e dos prós-e-contras nos jornais, rádio e televisões. Mas, subitamente, são os sindicalistas os convidados a explicar, perante as perguntas da praxe sobre «o papão» da greve – «perturbar» as pessoas que já pagaram o passe? Violar o «direito» a viajar? –, como a ferrovia assistiu ao empobrecimento da sua massa trabalhadora, quer através do despedimento ou da extinção de postos de trabalho, da redução de salários e perdas de direitos, de congelamento de carreiras, ao mesmo tempo que as empresas de transportes faziam 500 milhões em lucro, só em 2021, com a subida dos preços dos bilhetes e subsídios do Estado. O que vai acontecer se os salários dos trabalhadores não subirem, explica Mick Lynch, secretário-geral da RMT, «é que os lucros continuarão a ir para as empresas e os trabalhadores a empobrecer». «O que vai acontecer se os salários dos trabalhadores não subirem, explica Mick Lynch, secretário-geral da RMT, "é que os lucros continuarão a ir para as empresas e os trabalhadores a empobrecer"» Mas o que estes sindicalistas estão a fazer não é só explicar o bê-á-bá do direito à greve, num momento em que, na disputa pela liderança do Partido Conservador (Boris sairá em Setembro), Liz Truss e Rishi Sunak já vieram dizer que, com a maioria no Parlamento e perante esta onda «desproporcional» e «caótica» de greves, é necessário adoptar leis mais duras contra a organização sindical, fazendo com que seja cada vez mais difícil, senão impossível, trabalhadores organizarem-se de forma legal. Séculos de direitos adquiridos podem estar em risco nos próximos meses. Perante comentadores e jornalistas incrédulos, a agressividade dos think tanks de direita e o silêncio cúmplice dos trabalhistas, são os sindicalistas que estão nos media a fazer o trabalho de informação contra os economistas e os spins, a dizer o que políticos não têm a intenção de fazer: explicar aos britânicos a hiper-inflação, o aumento do custo de vida, as contas da energia, o aumento das rendas e a falta de habitação, os lucros pornográficos das petrolíferas, para onde vai o dinheiro dos cortes nos salários e pensões, dos subsídios das privatizações e concessões em PPP, quem são os oligarcas britânicos amigos dos ministros e dos empresários protegidos pela roda da alta finança e das offshores que estão realmente a lucrar com os sacrifícios dos trabalhadores britânicos. É também com incredulidade que os media têm recebido os resultados de sondagens em que mais de 50% dos britânicos inquiridos apoiam as greves e em que a maioria está de acordo que outros sectores se juntem aos protestos (nos transportes vão-se juntar também os urbanos da Arriva, e o TFL, sistema de transportes de Londres). É na cobertura mediática ao vivo na BBC ou Sky News que vemos jornalistas a perguntar a transeuntes se não estão indignados pela forma como os protestos estão a «afectar a mobilidade dos britânicos», recebendo, pelo contrário, palavras de encorajamento pela luta dos trabalhadores. É também surpreendente perceber como piquetes por todo o país têm sido acompanhados de manifestações espontâneas de cidadãos, de Glasgow a Liverpool, de Birmingham ao País de Gales, em apoio aos grevistas. Acusados de ambiciosos, manipuladores, militantes, extremistas, gananciosos, sindicalistas como Mick Lynch ou Eddie Dempsey (vice da RMT) estão na televisão de forma ponderada, articulada e didáctica a ganhar os trabalhadores contra os lucros do capital. Subitamente assistimos a estes corpos, vozes, sotaques, e até expressões e linguagem, que sempre estiveram arredadas da imprensa britânica (elitista e classista), invadindo sem pedir licença o espaço polido dos media sempre do lado do poder. À excepção das soap operas (da Coronation Street ao Eastenders), ou dos talk shows da ITV, nas caricaturizações dos dramas ou aspirações da classe trabalhadora, corpos e vozes como os de Lynch e Dempsey raramente são vistos ou escutados sobre temas como economia e política, energia e habitação, na análise sobre o estado do mundo. «Subitamente assistimos a estes corpos, vozes, sotaques, e até expressões e linguagem, que sempre estiveram arredadas da imprensa britânica (elitista e classista), invadindo sem pedir licença o espaço polido dos media sempre do lado do poder.» Electricista desde os 16 anos, filho de irlandeses que cresceu num bairro pobre de Londres, Mick Lynch não tem pejo em explicar por que os media britânicos não estão habituados a ouvir a classe operária56: «Temos jornais e meios de comunicação que são propriedade de oligarcas que estão a dizer às pessoas da classe trabalhadora, como eu e outros líderes sindicais, que somos uma espécie de aristocracia de elite ou barões sindicais. Isso é um completo absurdo. Alguns media parecem surpresos que pessoas da classe trabalhadora com sotaque possam articular um caso em defesa de outras, ou tenham ideias sobre a economia, sobre o modo como a política funciona. Eles acham chocante, mas se entrarem nos refeitórios da ferrovia ou forem ao pub local, à igreja ou à mesquita, encontrarão milhões de pessoas articuladas da classe trabalhadora. O facto é que não temos a oportunidade de nos expressar.» E onde está o líder do Labour, Keir Starmer? Face à onda de greves e protestos em todo o país, completamente mudo. Ninguém sabe o que pensa: sobre a luta, as negociações salariais, os lucros milionários das empresas de energia, ou o que realmente quer para a esquerda e para o país. Mas, em meados de Julho, Starmer deixou cair a promessa de que lutaria por um SNS público, deixando antever que não se opõe ao processo de outsourcing que o SNS tem vindo a sofrer. Segundo Lynch, a estratégia de «gestão da crise» do líder do Labour tem sido «não dizer nada de controverso» para «apaziguar o Daily Mail e o Telegraph» (jornais de direita). Para Lynch, Starmer tem de «puxar os cordões às botas e liderar o movimento dos trabalhadores», «tem de definir que valores defende e a sua mensagem, e decidir de que lado da luta está», tem de «se juntar à experiência da classe trabalhadora, não apenas na luta e na disputa, mas à sua experiência quotidiana». E, continua, admitindo que a receita para o Labour parece simples: «A classe trabalhadora precisa de um aumento salarial, e a resposta para a crise do custo de vida é através do pacote salarial, não é através de impostos extraordinários sobre rendimentos [windfall tax] e de resgates ocasionais aos trabalhadores; é um pacote de aumentos permanentes do poder de compra das pessoas através de salários, e Starmer tem que entender isso e tem que prometer, agora, financiar o sector público adequadamente, para dar às pessoas um conjunto de direitos laborais que sejam significativos, diariamente, no local de trabalho; tem que libertar os sindicatos, tem que nos dar a capacidade de negociar livremente o acordo que a classe trabalhadora precisa longe [do poder] das corporações e deste governo.» A receita pode ser simples, importa é saber se o Labour ainda está disposto a segui-la. Ou se a destruição completa da esquerda parlamentar britânica está por um fio. O Reino Unido continua, afinal, a ser um laboratório, uma lente útil para, desde o continente, podermos continuar a observar como uma esquerda ajoelhada ao capital e aos interesses das corporações se vira contra os trabalhadores. Em Maio, a Jacobin 7 desmontava o novo think tank apoiado por Tony Blair, The Britain Project, mostrando como o lobby de Blair para destruir Corbyn e expulsar os socialistas do Labour continua a dar frutos. O objectivo do «novo» New Labour é «a última tentativa de criar uma força ultra-neoliberal para destruir qualquer vestígio da social-democracia». «A receita pode ser simples, importa é saber se o Labour ainda está disposto a segui-la. Ou se a destruição completa da esquerda parlamentar britânica está por um fio. O Reino Unido continua, afinal, a ser um laboratório, uma lente útil para, desde o continente, podermos continuar a observar como uma esquerda ajoelhada ao capital e aos interesses das corporações se vira contra os trabalhadores.» Até o ministro-sombra da Saúde, Wes Streeting, jovem «blairista» que quer recuperar a narrativa do New Labour e que o Financial Times já anunciou como o «salvador» de que os trabalhistas precisam 8, apoiou as greves num debate na BBC, para logo sentir o «chicote» de Keir Starmer e retratar-se publicamente. O jornal socialista Morning Star conclui que não há solução à esquerda dentro deste partido Trabalhista, capturado por um sentimento anti-sindical, cada vez mais próximo de uma versão neoliberal e corporativista da luta laboral 9. «Se houver um desafio de liderança, a esquerda precisará de um candidato; e a liderança de Starmer tem sido suficientemente catastrófica na sua tentativa de expulsar todos os socialistas, impor apoio obrigatório aos Estados Unidos, à NATO e à guerra e encerrar todas as discussões sobre serviços públicos, para que a esquerda trabalhista esteja alerta às oportunidades de o derrubar. O que os sindicatos devem retirar deste momento é quão no fundo o Labour bateu.» Já se percebeu que este «Verão quente do descontentamento» no Reino Unido é acima de tudo o palco da destruição do que sobra da esquerda britânica pelo Labour. São os sindicatos e os trabalhadores que estão a dar corpo, voz e visibilidade às ansiedades dos britânicos – na saúde, no aumento do custo de vida, na luta pelos direitos, pelo trabalho, pelos salários. Mas se o Labour já não está do lado dos trabalhadores, quem ocupará o seu lugar? Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
Caldinho de oligarcas, uma «esquerda» ajoelhada ao capital: retrato dos trabalhistas
A onda de greves
Labour contra os trabalhadores
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Em resposta a dois anos de congelamento salarial e à ameaça de cortes perigosos de postos de trabalho, os sindicatos ferroviários RMT (National Union of Rail, Maritime and Transport Workers) e ASLEF (Associated Society of Locomotive Engineers and Firemen) estão a levar a cabo a primeira greve nacional dos caminhos-de-ferro desde 1989. Os trabalhadores do Grupo BT e da Royal Mail, organizados pelo CWU (Communications Workers Union), também ganharam mandatos dos seus trabalhadores para uma greve nacional. Nas universidades, a UCU (University and College Union) está a levar a cabo uma acção nacional contínua contra as condições cada vez mais precárias e inseguras enfrentadas pelos seus membros no ensino superior.
Nas escolas, o NEU (National Education Union) e o NASUWT (National Association of Schoolmasters/Union of Women Teachers) preparam-se para resistir a mais uma ronda de cortes nos salários reais que estão a empurrar os professores para fora do sector, e a acumular cargas de trabalho incontroláveis sobre os que permanecem.
Estas acções ocorreram apesar das leis anti-sindicais que legislam que uma maioria simples de trabalhadores a votarem por uma paralisação não é suficiente para tornar legal uma greve. Os sindicatos são obrigados a reunir uma participação de 50% de todos os trabalhadores, nas votações.
Milhares de professores associados têm agora um vínculo permanente com a Open University. Sindicatos referem-se ao facto como a maior vitória contra a precariedade no ensino superior no Reino Unido. As negociações, conduzidas pelo University and College Union (UCU), chegaram a bom porto, na medida em que 4800 professores associados que antes trabalhavam na Open University (OU) de modo informal viram garantido o direito a um contrato permanente. Com isto, passam a ter maior segurança laboral, além de um aumento salarial entre 10 e 15%, um período mais longo de férias e outros subsídios, refere o portal Peoples Dispatch. Esta vitória seguiu-se a longas negociações com responsáveis da OU e está a ser classificada pelos sindicatos como o maior passo contra a precariedade no sector do ensino superior no Reino Unido, informa o periódico Morning Star. O UCU, que, em conjunto com outros sindicatos, tem estado a organizar lutas a nível nacional contra cortes salariais e nas pensões, e a protestar contra a pesada carga de trabalho, fez um apelo a outras instituições universitárias para que acabem com a precariedade e vinculem de forma permanente, com contratos e todos os direitos, o seu pessoal académico. Estima-se que 70 mil docentes estejam contratados de forma precária no sector e as lutas desenvolvidas são por estabilidade no trabalho, melhores salários e o fim das discriminações salariais. Num inquérito realizado pelo UCU a 2700 trabalhadores em mais de 200 faculdades de Inglaterra, a maioria dos inquiridos (80%) disse ter hoje mais insegurança financeira do que há um ano e sete em cada dez afirmaram que estão a considerar abandonar o sector, a não ser que os salários sejam aumentados. «Mais de quatro em dez (42%) disseram que o seu rendimento não cobre o custo de vida. Destes, dois terços (64%) disseram que aquecem as suas casas com menos frequência; dois em cinco (40%) disseram que limitam o uso de água quente e um quarto (25%) disse que saltam refeições», lê-se no resultado do inquérito publicado pelo sindicato. A secretária-geral do UCU, Jo Grady, disse que «o novo contrato muda a vida dos 4800 professores associados, que passaram a contratos seguros e já não têm de se candidatar repetidamente aos seus empregos». «O UCU tem um orgulho enorme em alcançar este acordo com a OU, depois de muitos anos de trabalho duro, e, apesar de sabermos que há muito por fazer, celebramos este passo gigante para acabar com a precariedade», disse, citada pelo Morning Star. Ainda neste Verão, o sindicato vai realizar plenários em que os trabalhadores vão decidir uma eventual greve em Novembro próximo. Estão envolvidos 80 mil filiados de 149 faculdades e universidades. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Vitória contra a precariedade no ensino superior do Reino Unido
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O aumento maciço da mobilização sindical tem causas. Os trabalhadores estão fartos que lhe digam que a última crise significa que têm de enfrentar o facto de terem de empobrecer, ou de terem vivido para além das suas possibilidades, ao passo que este não é , manifestamente, o caso dos ricos. Doze anos de governo conservador resultaram na destruição sistemática do serviços públicos e na destruição deliberada do nível de vida para todos, excepto para os muito ricos.
A crise do custo de vida está a ser impulsionada por uma taxa de inflação dos preços de bens de consumo básicos não vista há décadas, enquanto que a inflação desenfreada dos preços das casas tem sido endémica há já algum tempo. Ao contrário que defendem os neoliberais os preços não sobem porque os trabalhadores estão a receber aumentos salariais; os preços estão a subir porque o impacto da pandemia e da guerra na Ucrânia fizeram subir o custo da energia e de outros bens básicos, como a alimentação. A inflação está agora a subir mais do dobro da taxa de crescimento salarial no Reino Unido; até ao final deste ano, o salário real dos trabalhadores estará a cair 7,75%. Isto é a maior contracção de salários dos últimos 200 anos.
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