A destituição de López Julio, conhecido como o «ministro da morte» e apontado como um dos responsáveis pelos massacres de Senkata (em El Alto) e Sacaba (Cochabamba), seguiu-se ao voto de censura aprovado, sexta-feira passada, na Assembleia Legislativa Plurinacional, depois de este órgão ter convocado o ministro da Defesa a comparecer em três ocasiões, sem sucesso.
Os deputados queriam questionar López sobre os massacres em Sacaba e Senkata, em Novembro do ano passado – com um saldo de mais de 30 mortos –, e sobre a saída dos militares para as ruas nos dias que antecederam 22 de Janeiro, quando o mandato inconstitucional de Áñez foi prolongado até às próximas eleições gerais.
Mesmo com a moção de censura, Jeanine Áñez insistiu em manter Luis López Julio como titular da pasta da Defesa no seu governo golpista, mas ontem teve de retroceder, uma vez que o Parlamento ameaçou instaurar-lhe um «processo penal por resoluções contrárias à lei e incumprimento de deveres», segundo revelou a presidente do Senado, Eva Copa, do Movimento para o Socialismo (MAS).
López Julio não era o único ministro do governo golpista que o Parlamento queria ouvir, segundo a Prensa Latina. Na lista estão Arturo Murillo (Interior), Iván Arias (Obras Públicas), Isabel Flores (Comunicação) e Milton Navarro (Desporto).
Jornalista denuncia detenção e tortura
O jornalista René Huarachi, da Radio TV Bartolina Sisa, denunciou esta segunda-feira que foi alvo de detenção ilegal e torturas, por forças policiais do governo golpista, por fazer o seu trabalho na cidade de El Alto, na passada quinta-feira.
Na denúncia, realizada através das redes sociais, Huarachi afirma que a Polícia lhe retirou as credenciais e que o maltratou. «Quero denunciar perseguição, detenção ilegal sem notificação prévia e por último quero denunciar a tortura», diz num vídeo publicado nas redes sociais, um dos poucos locais onde ainda é possível encontrar notícias sobre o que se está a passar na Bolívia, na sequência do golpe de Estado.
De acordo com a denúncia, as torturas ocorreram nas instalações da Polícia, onde os agentes, plenamente identificados, também o ameaçaram caso denunciasse os factos. Por isso, pediu garantias para ele e a sua família.
Também o secretário-geral do Sindicato de Trabalhadores da Imprensa da cidade de El Alto, David Ticona, denunciou as torturas sofridas por Huarachi, tendo exigido o apuramento dos factos e justiça para este caso, informam a Prensa Latina e a TeleSur.
Huarachi foi detido quando fazia a cobertura do que se passou na quinta-feira passada, por ocasião do 35.º aniversário de El Alto e de uma sessão especial em que Jeanine Áñez participou.
Então, as forças policiais dispersaram de forma violenta e com recurso a gás lacrimogéneo habitantes que exigiam justiça para os caídos em Senkata, na cidade referida, junto a La Paz.
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