A exposição «Memória e Mitos – o Touro na obra de Jorge Vieira[fn]Jorge Vieira (Lisboa, 1922 - Estremoz, 1998). Entre 1944 e 1953 frequentou a Escola de Belas-Artes de Lisboa em arquitetura e depois escultura. Em 1954 frequenta a Slade School of Fine Arts em Londres, trabalha sob a orientação de Henry Moore, F. E. Mc’William e Reg Butler. Regressa a Portugal em 1956, onde retoma a sua atividade docente, participando em inúmeras exposições coletivas e individuais, em Portugal e no estrangeiro e ganhando diversos prémios.[/fn]», no Centro de Arqueologia e Artes[fn]Centro de Arqueologia e Artes de Beja - Praça da República n.º 42 7800-426 Beja. Horário: terça a sábado (encerra à segunda-feira e domingo) 10h–13h / 15h–19h[/fn], em Beja, pode ser vista até 18 de março próximo. «Esta exposição celebra Jorge Vieira, por ocasião do seu centenário, proporcionando o contacto com uma das obras maiores da arte portuguesa do século XX. Através dela, é possível compreender valores da arte moderna, nomeadamente os confrontos entre a figuração e a abstracção. Para Jorge Vieira, esta foi uma questão essencial, manejada numa perspectiva de articulação, não de oposição», assinalou Raquel Henriques da Silva no texto de apresentação da exposição.
O tema da exposição é centrado na figura do Touro, tema que é recorrente na obra de Jorge Vieira e que é visível desde a «auto-representação à elaboração de séries percorridas por uma inventividade transbordante». Raquel Henriques da Silva chama-nos à tenção que este tema além de abrir «um fundo território de memória e de mitos» coincide com o símbolo da cidade de Beja, cidade que o artista escolheu para acolher grande parte da sua obra, doando parte do seu espólio a Beja em 1994, por altura da inauguração do seu Monumento ao Prisioneiro Político Desconhecido numa rotunda de acesso à cidade. O Museu de Jorge Vieira, local onde se encontra exposta parte dessa obra, poderá também ser visitado na antiga casa do Governador, no Castelo de Beja, integrando um importante conjunto de esculturas, maquetas e desenhos da autoria do artista plástico que marcou o percurso da arte portuguesa ao longo do século XX.
«O retrato nas artes plásticas. Múltiplas leituras», é uma exposição que ocupa o espaço expositivo do Museu de Setúbal/Convento de Jesus[fn]Museu de Setúbal/Convento de Jesus -Largo Miguel Bombarda, Setúbal. Horário: terça a sábado, das 10h às 18h, e domingo, das 15h às 19h, podendo ser visitada até ao dia 2 de abril[/fn]. A exposição, que tem como curadora Francisca Ribeiro, é composta por obras de vários artistas, entre os séculos XVII e XX, que pertencem ao acervo do Museu de Setúbal. Retratos de homens e mulheres e autorretratos dos 25 artistas aqui representados em 33 obras de várias técnicas, entre pintura, gravura, desenho e escultura, permitindo uma reflexão acerca das transformações que a prática artística do retrato foi assumindo ao longo da história.
A curadora, Francisca Ribeiro, apresenta um texto, onde afirma que «há retratos plenos de energia, de força, em que o observador sente cumplicidade com o retratado», referindo, no entanto, que «nem sempre a semelhança com o retratado foi o mais importante». Apresenta diferentes intenções no retrato: como Símbolo de estatuto social ou profissional; Representação de poder político, militar, financeiro; Distinção de valor intelectual e artístico; Autoafirmação do indivíduo; Representação do caráter, da moral e valores, de interesses e objetivos; Representação de estados psicológicos e emocionais; Evocação e intenção de perpetuação na memória coletiva.
Francisca Ribeiro leva-nos por um breve percurso do retrato na arte europeia, desde os seus primórdios até ao século XX: «Com a Pintura de Género, que surgiu no séc. XVII nos Países Baixos, e posteriormente com o Naturalismo e o Realismo do século XIX... Entretanto, com o surgimento da fotografia, o retrato nas artes plásticas libertou-se, por meio de correntes artísticas inovadoras do século XIX e do século XX, da necessidade de imitar o modelo... Correntes artísticas do modernismo figurativo continuaram a usar o retrato, mas de forma mais livre (como o Fauvismo), mais estilizada ou de forma especialmente expressiva (como o Expressionismo). Com o avançar do século XX também surgiram novas correntes figurativas (em simultâneo com as não figurativas) como o Hiper-realismo, o Neofigurativismo e a Nova Figuração», não deixando contudo de assinalar que estas correntes «nada têm em comum com o tardo naturalismo que se prolongou, de forma anacrónica, no Portugal novecentista».
Na arte contemporânea tem vindo a desenvolver-se essencialmente o conceito de autorrepresentação, sofrendo diversas interpretações. Assinalamos alguns exemplos na arte contemporânea portuguesa, nos desenhos-ficção de Gaëtan, com Jorge Molder, como uma ficção sobre o outro (duplicidade), à volta da noção de identidade em Júlia Ventura ou ainda como um modo de arte performativa, como em Helena Almeida.
A exposição «Em Matéria de Matérias-Primas» no Atelier-Museu Júlio Pomar[fn]Atelier-Museu Júlio Pomar Rua do Vale, 7 – Lisboa. Horário: terça a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h[/fn], será apresentada até 31 de março. Esta será mais uma exposição, como acontece regularmente, no sentido de cruzar a obra de Júlio Pomar com outros artistas, estabelecendo novas relações entre a obra do pintor e a contemporaneidade. Comissariada por Sara Antónia Matos, esta exposição, convoca os trabalhos do artista, que são expostos lado a lado com os de André Romão, Jorge Queiroz e Susanne Themlitz.
«Neste âmbito, e porque o trabalho dos três artistas convidados, de forma e em meios distintos, toca uma matéria-prima da ordem da estranheza e da inquietação, revelou-se a ocasião certa para reunir algumas obras da série de pinturas «Mascarados de Pirenópolis» realizada por Júlio Pomar em 1987 –88. Este conjunto de pinturas é desencadeado a partir da observação pelo pintor da referida ocasião – Festas do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis, no Brasil. A festa acontece nas ruas da cidade de Pirenópolis, sob a forma de «cavalhada», em que os habitantes da cidade, montados sobre um cavalo enfeitado com fitas e flores de papel colorido, carregam também eles máscaras com cornos, enfiadas nas suas cabeças, por sua vez alusivas a animais como a onça e o boi – alegorias à morte e ao diabo», segundo a curadora.
Acerca das obras dos três artistas convidados, refere-se no texto da exposição, que «a disrupção, a surpresa ou perturbação que as obras de André Romão, Jorge Queiroz e Susanne Themlitz desvelam à nossa frente constituem a própria condição de arte. Interrogam-nos nas incertezas mais profundas de nós mesmos, roçando – diríamos – todas as incertezas existenciais».
A Galeria Zé dos Bois[fn]Galeria Zé dos Bois - R. da Barroca 59, 1200-049 Lisboa. Horário: segunda a sábado, das 18h às 22h[/fn] apresenta na sua programação a exposição «waters of night» de Pádraig Timoney[fn]Pádraig Timoney (n. 1968, Derry, Irlanda) vive e trabalha no Brooklyn. Realiza exposições individuais na Cidade do México, Brooklyn, Nápoles e Londres e participou em inúmeras exposições coletivas e o seu trabalho está incluído nas coleções permanentes da Albright-Knox Art Gallery, Buffalo, Centre Georges Pompidou, Paris, Museo Madre, Nápoles, Arts Council England e Arts Council Ireland, entre outros.[/fn], até 8 de abril. Esta é a primeira exposição individual do artista irlandês Pádraig Timoney em Portugal, com a curadoria de Natxo Checa e Gérard Faggionato e onde podemos ver cerca de trinta obras, que ocupam os dois andares da Galeria, «entre espelhos materializados pelo próprio e telas, Timoney traz a Lisboa uma nova nuance da sua investigação sobre a construção da imagem». Os curadores acompanharam o desenvolvimento do trabalho de criação deste artista, em atelier, desde inícios de 2022, e depois na galeria Indipendenza em Roma onde também apresentou a exposição «waters of night», entre 28 de outubro de 2022 e 7 de janeiro de 2023.
Acerca do trabalho artístico de Pádraig Timoney, o texto da exposição apresenta-nos como fazendo parte de uma «investigação contínua sobre a mecânica da criação de imagens – cada tela representa a sua própria investigação sobre as formas como as imagens são construídas ou reconstruídas por meio da pintura. Resistindo a um estilo singular, as obras de Timoney são unas na sua abordagem; cada pintura visa conectar perfeitamente uma imagem escolhida com o material utilizado e o seu processo...».