Esta iniciativa foi organizada pela Quercus e pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Cerâmica, Cimentos e Similares, Construção, Madeiras, Mármores e Cortiças do Sul e Regiões Autónomas para lembrar as vítimas do amianto e alertar para a necessidade de realizar estudos epidemiológicos às populações envolventes a estas unidades.
Em declarações à imprensa, o secretário-geral da CGTP- IN, Arménio Carlos, adiantou que a iniciativa pretende servir de «alerta à opinião pública para a necessidade de se tomarem medidas urgentes para resolver o problema do amianto em Portugal».
No chão, em frente à porta principal da fábrica da Lusalite, estavam cartazes com as inscrições «amianto mata», «estudos epidemiológicos» e «39 mesoteliomas» (cancro da pleura do pulmão), cercados de 39 velas que representam as mortes pela doença cuja principal causa se suspeita ser a exposição ao amianto.
Realizou-se um minuto de silêncio, pelas 10h, mesma hora que a vigília se repetia nas fábricas Novinco, em Alhandra, e na Cimianto, em São Mamede de Infesta.
«Estas empresas empregaram centenas de trabalhadores. Primeiro, é preciso acompanhar, fazer o rastreio da situação de saúde destes trabalhadores e, segundo, é preciso tomar medidas objectivas para resolver de uma vez por todas o problema do amianto», disse Arménio Carlos.
Mais de 50 anos a laborar com amianto
Estas três fábricas, as que mais produziram materiais com amianto, possuem uma dimensão significativa e laboraram durante mais de 50 anos utilizando este contaminante como matéria prima, suspeitando-se que tenha conduzido ao desenvolvimento de neoplasias comprovadamente associadas a essa exposição, como placas pleurais, asbestose, cancro da laringe, cancro do pulmão, mesotelioma, cancro gastrointestinal, cancro do ovário.
Apesar de comprovado o risco das fibras e a relação casual entre a sua exposição e o desenvolvimento de doenças, em Portugal não existe informação caracterizada e quantificada sobre a população laboral e ambiental exposta a amianto, nem foram realizados rastreios médicos aos antigos trabalhadores, durante os 30 anos após a exposição a estas fibras, período em que se podem desenvolver as doenças relacionadas com a exposição a este contaminante.
«Pelo facto de não serem reconhecidos como doença profissional, suspeitamos que haja muito mais do que 39 mortos por mesotelioma», sublinhou o secretário-geral da CGTP-IN.
Para Arménio Carlos, cabe ao Governo «tomar medidas de fundo» para controlar o problema e, por isso, sugeriu a criação de um fundo para respostas que, em parte, terá de ser suportado pelo Estado, mas também por empresas privadas.
«Se há dinheiro para colocar no sector financeiro, também tem de haver dinheiro para preservar a saúde das pessoas», sustentou.
«Se há dinheiro para colocar no sector financeiro, também tem de haver dinheiro para preservar a saúde das pessoas»
Arménio carlos, secretário-geral da cgtp-in
«Queremos saber quem adoeceu e quem é que está em risco de adoecer e por isso é que pedimos estudos epidemiológicos às populações residentes nas envolvências destas fábricas», revelou Carmen Lima, da Quercus. A ambientalista suspeita que muitos casos de mesotelioma causados pela exposição ao amianto daquelas fábricas vão aparecer agora e até 2020.
«A partir do momento em que estas fábricas fecham, a responsabilidade sobre as doenças que são desenvolvidas deverá ser assumida pelo Governo, bem como o rastreio médico preventivo para diagnosticar possíveis doenças ainda numa fase em que haja possibilidade de tratamento», acrescentou Carmen Lima. O pedido dos estudos, segundo contou, já foi enviado para o Ministério da Saúde, mas ainda não houve resposta.
A CGTP-IN já anunciou que vai solicitar uma audiência ao Ministro da Saúde, para discutir, em primeiro lugar, as questões relacionadas com as doenças resultantes da exposição ao amianto, tendo anunciado várias reivindicações sobre o tema.
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