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|50 Anos de Futuro

Há 90 anos, vidreiros da Marinha Grande revoltaram-se contra a opressão do fascismo

A corajosa luta dos operários vidreiros da Marinha Grande, em 18 de Janeiro de 1934, é assinalada esta quinta-feira com várias iniciativas. A «hidra subversiva comunista», como lhe chamou o ditador, continua a ser uma inspiração para todos os que desejam um mundo melhor.

A 18 de Janeiro de 1934, a Marinha Grande acordou com um levantamento operário vidreiro contra a fascização dos sindicatos enquadrada pelo Estatuto Nacional do Trabalho. Os revoltosos conseguiram tomar o poder por algumas horas, mas a repressão de Salazar acabaria por esmagar a revolta e enclausurar os revoltosos nos cárceres do fascismo, onde alguns jaziram. Em 29 de Outubro desse ano, 57 marinhenses que participaram no 18 de Janeiro inauguraram o Campo do Tarrafal, na ilha de Santiago, em Cabo Verde
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«Pela uma hora da madrugada do dia 18 de Janeiro de 1934 reuniram-se os membros Comité Local em conjunto com os componentes de todas as células, ao todo 9, e cada uma composta de 9 camaradas que tinham sido já previamente preparados. Esta reunião efectuou-se num local próximo desta Vila, num casão. Todos os trabalhadores se faziam acompanhar de ferramentas diversas para ser empregadas consoante as necessidades», lê-se no Relatório da revolta do proletariado vidreiro da Marinha Grande, que haveria de vincar a história da resistência à ditadura. 

«Após esta reunião que terminou às 2 horas começaram a partir as brigadas armadas de espingardas caçadeiras e machados, estes últimos para ser utilizados na obstrução das linhas e estradas [...] Eram 3 horas da madrugada, soou o primeiro tiro! Sinal da luta… 4 brigadas atacam simultaneamente o posto da Guarda Nacional Republicana e a estação dos correios e telégrafos, esta foi tomada sem resistência, o que não aconteceu com o posto da guarda», prossegue o texto assinado pelo comunista Pedro Amarante Mendes, que os fascistas acusaram de ser «o chefe dos sediosos». 

Foi uma noite cheia de coragem e esperança de quebrar as «algemas salazaristas», mesmo estando os heróicos operários em inferioridade material relativamente à Polícia e ao Exército. Apesar de disporem apenas de caçadeiras carregadas com zagalotes, pelas 6h da manhã, todos os postos de comando estavam em poder do comité revolucionário, mas a fome, companheira habitual, ceifava energia aos revolucionários. «Às 8 horas da manhã, devido à falta de alimentação, as massas começam a desfalecer e alguns vão às suas casas confortar o estômago».

Entretanto, e após ataque da Polícia e da GNR de Leiria, para reprimir o movimento, seguido de um novo, «mais impetuoso», com artilharia pesada, os revoltosos recuaram em direcção às matas. «Ainda pretendemos defender os pontos com tantos sacrifícios conquistados mas tudo debalde, ao meio da tarde chegam os jornais de Lisboa anunciando o fracasso do movimento nos outros pontos do país, então resolvemos refugiar-nos no interior das matas, aqui permanecemos 2 dias mas neste momento último dia dos jornais anunciam uma batida às matas para prender a maioria dos revolucionários que ainda pretendiam resistir», prossegue o Relatório.

A reacção do governo fascista de Salazar não se fez esperar, pautando-se por grande violência e arbitrariedade. Prisões em massa, despedimentos, condenações a pesadas penas de prisão e deportações foram, a par do assalto ao que restava das organizações operárias livres, algumas das atrocidades cometidas pelo regime, que em resposta à Revolta de 18 de Janeiro decidiu construir o Campo de Concentração do Tarrafal (Cabo Verde). Dos 152 presos que inauguraram o Tarrafal, em Outubro de 1936, 57 haviam participado no levantamento operário da Marinha Grande e alguns já não saíram com vida do conhecido Campo da Morte Lenta. 

Por que lutavam os operários vidreiros?

A greve geral revolucionária de 18 de Janeiro de 1934 foi a negação da retórica fascista de que o País estava pacificado com o regime, e o primeiro grande desafio que Salazar enfrentou, após a entrada em vigor da Constituição de 1933 e das leis laborais, que dissolveram os sindicatos e proibiam a negociação colectiva e as greves, na perspectiva de acabar com qualquer tipo de contestação social.

Esta foi uma das razões para a luta contra a exploração, a «hidra subversiva comunista», como lhe chamou o ditador e que, ao contrário do que o próprio previa, não saiu esmagada, mas antes passou a ser exemplo de abnegação dos trabalhadores portugueses para as gerações vindouras.

Os operários lutavam pela defesa da livre organização dos trabalhadores, mas também por um horário de oito horas, contra a ofensiva patronal e do Estado salazarista contra os salários, pela liberdade e contra as chagas que alicerçavam a ditadura, designadamente prisões, torturas, assassinatos, censura e o incremento da exploração e da pobreza.

O povo volta a sair à rua 

Há 90 anos, a Marinha Grande viu a classe operária a tomar as ruas, a assumir o papel de vanguarda da luta dos trabalhadores e a desafiar o regime fascista. Em homenagem à revolta dos vidreiros, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Vidreira (STIV/CGTP-IN) preparou um conjunto detalhado de iniciativas, que arrancou esta quarta-feira com um jantar-convívio. Para hoje, estão agendadas acções a partir das 10h, hora a que acontece uma romagem aos cemitérios de Casal Galego e da Marinha Grande, com a colocação de flores nas campas dos prisioneiros por participação no Movimento Operário do 18 de Janeiro de 1934, seguindo-se um desfile comemorativo, pelas 11h15, «Por mais salário, pelo fim da precariedade».

Pelas 12h, junto ao Monumento do Vidreiro, está prevista a actuação do grupo de percussão Tocándar e intervenções sindicais, com a participação da comissão executiva da CGTP-IN. As iniciativas prosseguem este sábado, 20, com a peça infantil A Vendedora de Assombrações, do Grupo Teatro Pirata, e modelagem de balões e pinturas faciais no foyer do Museu do Vidro.

As comemorações dos 90 anos do 18 de Janeiro terminam no dia 13 de Abril, com o Festival do Vidreiro.

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