A Accenture é uma empresa multinacional de consultoria de gestão, tecnologia da informação e outsourcing, com mais de 5 000 trabalhadores em Portugal e 167 clientes, incluindo 11 empresas do PSI-20. Embora a empresa afirme que «os seus líderes gerem o negócio de forma eficaz, honesta e ética, sendo inovadores na criação de instalações que contribuem para um bom ambiente de trabalho», a verdade é que centenas de trabalhadores aderiram à greve realizada no dia 26 de Dezembro.
O CESP foi ontem impedido de entrar nas instalações da Accenture, em Miraflores, para realizar actividade sindical no âmbito da semana de combate à precariedade. Os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN) foram barrados à porta das instalações da empresa Accenture. A acção de contacto com os trabalhadores marcada para quarta-feira inseria-se na semana de combate à precariedade lançada pela CGTP-IN, que decorre de 2 a 6 de Dezembro. Um responsável da empresa abordou os dirigentes, alegando não haver fundamento legal para entrar e contactar os trabalhadores. «O impedimento desta iniciativa por parte da empresa só prova que o flagelo da precariedade é procurado e promovido pelo patronato, chegando até a agir à margem da lei com o intuito de impedir que os trabalhadores se organizem e lutem pelo trabalho com direitos», afirmou o sindicato em nota enviada à imprensa. O CESP chamou ao local a PSP e a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), por «não tolerar qualquer atropelo à liberdade sindical». No entanto, garante que nem sindicato nem trabalhadores «se deixam intimidar» e informa que, apesar de não terem entrado na empresa, não deixaram de contactar com os trabalhadores e de eleger um delegado sindical. Têm chegado ao CESP várias denúncias de trabalhadores sobre desigualdades salariais, alterações aos dias de descanso sem o seu consentimento, condições de trabalho precárias, intimidação e repressão. A estrutura sindical afirma ainda que tem havido vários casos de empresas que impedem o acesso às suas instalações, verificando-se a existência de uma «cultura empresarial que não vive bem com os direitos laborais». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Accenture «não vive bem com direitos laborais»
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O auto-proclamado «bom ambiente de trabalho» não substitui a necessidade, muito real, de concretizar «aumentos salariais de 15%, com um aumento mínimo de 200 euros, para todos os trabalhadores, bem como o aumento do subsídio de alimentação para 12 euros». Os trabalhadores e o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN) exigem ainda «a redução do horário semanal para as 35 horas para todos, sem perda de salário».
Os trabalhadores na Accenture laboram em três turnos distintos, muito diferentes de um típico horário das 9h às 17h: das 10h às 16h; das 16h à 1h da manhã e das 22h às 7h da manhã. A desregulação de horários, fora dos períodos de funcionamento dos transportes públicos, levaram a empresa a instituir um shuttle que leva os funcionários a casa, na ausência de outros meios de transporte, explicou Milena Barbosa, delegada sindical do CESP na Accenture, ao AbrilAbril.
«Se, por um acaso, você não for trabalhar, se acontecer alguma coisa e não pudermos avisar com antecedência, você fica bloqueado [no serviço de shuttle] durante três meses». Milena não consegue ainda perceber qual é o padrão que leva a empresa a aplicar o padrão: «algumas pessoas foram de baixa e quando voltaram, já não tinham mais acesso». Por enquanto, sempre que o assunto é levantado pelos trabalhadores, a Accenture descarta responsabilidades.
É uma empresa de fachada. «Quando você entra pela primeira vez e vê uma mesa de ping-pong, sumo de laranja para todo o mundo, bolachas, acolhedor, claro que se imagina que a empresa é preocupada com os trabalhadores», só que quando começaram a crescer a operação em Portugal, as regalias não acompanharam. Neste momento, para além de não serem ouvidos, os salários estão estagnados há vários anos.
O novo ano na Accenture só se celebra a dia 2 de Janeiro
Por isso mesmo, outras greves e lutas ainda estão por vir. Depois de dia 26 de Dezembro, a Accenture vai enfrentar um novo período de paralisação já no dia 2 de Janeiro de 2024, em luta, também, pelo direito a parar a laboração nos dias 25 de Dezembro e 1 de Janeiro, feriados nacionais.
Presentes na concentração de greve em frente aos escritórios da Accenture em Miraflores esteve uma delegação do PCP e da JCP, assim como o eleito comunista em Oeiras, saudando esta luta e assumindo total compromisso com as suas reivindicações.
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