Fernando Paulouro Neves morreu um dia depois de ter apresentado o seu último livro, As Sombras do Combatente, numa sessão realizada na Biblioteca Eugénio de Andrade, no Fundão. O romance «resgata do esquecimento», como escreveu Fernando Paulouro no seu blogue Notícias do Bloqueio, Eduardo Monteiro, figura da resistência contra a ditadura de Salazar, «o fascismo de Franco e o nazismo até à libertação».
Nascido em 1947, dedicou quase toda a vida ao Jornal do Fundão, cuja liderança assumiu após a morte do tio, António Paulouro, fundador e director do jornal desde 1946. Sob a direcção de Fernando Paulouro Neves, o jornal «manteve-se como um bastião da liberdade de expressão, mesmo durante períodos de censura e repressão política», refere o Mais Beiras. Foi jornalista, chefe de redacção e director, tendo integrado várias estruturas do Sindicato dos Jornalistas e da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, até que deixou a direcção do jornal, em 2012, durante a gestão da Controlinveste.
Dedicado à preservação da memória histórica da região, Fernando Paulouro Neves presidiu também ao Teatro das Beiras e integrou o Conselho Geral da Universidade da Beira Interior (UBI), entre 2012 e 2016. Recebeu inúmeras distinções, entre as quais o título de sócio de honra da Sociedade Ibero-Americana de Antropologia Aplicada, o Prémio Gazeta de Mérito do Clube dos Jornalistas ou o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos, e em 2013 foi-lhe atribuída a Medalha de Ouro da cidade do Fundão.
No próximo ano iria presidir à Comissão de Honra das Celebrações dos 80 anos do Jornal do Fundão.
Como escritor, publicou, entre outros, A Guerra da Mina e os Mineiros da Panasqueira (com Daniel Reis), Os Fantasmas Não Fazem a Barba (com Zé d’Almeida), A Materna Casa da Poesia, Sobre Eugénio de Andrade, Fellini na Praça Velha, Brasil em Mim, O Informador e Outros Contos, Catorze Histórias Incríveis ou o Fabuloso Imaginário das Lendas da Beira Baixa (com José Manuel Castanheira) e O Tribunal das Almas. Organizou ainda a antologia António Paulouro: As Palavras e as Causas.
«A liberdade é uma batalha sem fim, e os que vierem depois de nós devem continuá-la, mesmo se tiverem de ser combatentes da sombra!», disse na apresentação do seu último livro, este domingo.
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