Com 545 334 votos, Zohran Mamdani, um socialista democrático de origem ugandesa e Membro da Assembleia de Estado de Nova Iorque pelo 36.º Distrito, derrotou com estrondo o favorito à vitória nas primárias democratas para o cargo de mayor (equivalente a presidente da câmara) de Nova Iorque, Andrew Cuomo, governador de todo o Estado entre 2011 e 2021. Com uma diferença de 12 pontos percentuais (56% contra 44%), Mamdani inverteu todas as previsões das sondagens, alcançado o melhor resultado desde 1989 (quando David Dinkins, que viria a ser o primeiro mayor negro da cidade, alcançou 547 mil votos, cerca de 2 mil votos acima de Mamdani).
A confirmação de Mamdani como candidato oficial dos democratas foi oficializada hoje, mas o resultado era inevitável desde a primeira ronda de votações da semana passada (nestas primárias, os eleitores fazem um ranking dos seus candidatos preferidos). Os resultados causaram um enorme desconforto nas elites políticas e económicas democráticas e republicanas, assustadas com a popularidade de uma campanha que tinha como principais medidas o congelamento das rendas e a criação de uma rede de supermercados públicos.
O ataque republicano, no entanto, assumiu outros contornos.
Andy Ogles, republicano, membro da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América pelo Tennessee, exigiu a «desnaturalização» e «deportação» de Mamdani, que se tornou um cidadão norte-americano em 2018, depois de se ter mudado com os pais para os EUA em 1998. A «desnaturalização», o cancelar da cidadania, é um processo extremamente incomum no país, com uma média de 11 casos por ano. Outro colega, Brandon Gill, republicano eleito pelo Texas, mandou Mamdani «voltar para o terceiro mundo», em resposta a um vídeo em que o agora candidato democrático aparece a comer arroz com as mãos (um aparente sinal de inferioridade que não se aplica a comer pizzas e hambúrgueres com as mãos, uma verdadeira tradição americana).
Em visita a um novo «campo de concentração», Trump avisa que vai prender opositor se não colaborar com a ICE, a «gestapo» do novo regime (como a apelidou Tim Walz)
Donald Trump não aderiu imediatamente à campanha de ataques islamofóbicos da sua comitiva (que acusam Mamdani de ser «jihadista» e «apoiante de terroristas»), escolhendo a posição mais contida de ameaçar cortar qualquer apoio estatal à cidade de Nova Iorque e apelidar o agora candidato de ser um perigoso «comunista». A situação mudou ao longo do dia 1 de Julho.
Durante uma visita ao centro de detenção de imigrantes Alligator Alcatraz, na Flórida (que figuras como Gustavo Petro, presidente da Colômbia, apelidam de campo de concentração), Trump afirmou que prenderia Mamdani se este se recusasse a colaborar com a Agência de Imigração e Controlo de Alfândegas (ICE, na sigla em inglês), a organização que anda a sequestrar pessoas por toda a América, por suspeitas de serem imigrantes ilegais. O presidente dos EUA insinuou ainda que Mamdani estava «ilegal» no país.
Dias antes, numa entrevista dada à ABC News, Zohran Mamdani assumiu que estava disponível para trabalhar com Trump em todos os assuntos que beneficiassem os nova-iorquinos, mas recusou aceitar qualquer colaboração das instituições públicas de Nova Iorque se a acção de Trump «prejudicar as pessoas que represento».
Já me estou a habituar ao facto de que o presidente vai falar sobre a minha aparência, a minha voz, as minhas origens, sobre quem eu sou. Em última análise, ele quer desviar a atenção daquilo pelo qual estou a lutar», afirmou Mamdani. «Estou a lutar pelos trabalhadores que ele prometeu representar na sua campanha. Trabalhadores esses que, desde então, ele traiu».
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