|Museu Nacional da Resistência e da Liberdade

Futuro Museu da Resistência em Peniche com 50 mil visitantes em apenas três meses

Três meses e cinco dias foi o tempo necessário para as instalações do futuro Museu Nacional Resistência e Liberdade, na Fortaleza de Peniche, serem visitadas por mais de 50 mil visitantes.

Inauguração do Memorial em Homenagem aos Presos Políticos, na Fortaleza de Peniche
CréditosCarlos Barroso / LUSA

Três meses e cinco dias foi o tempo necessário para as instalações do futuro Museu Nacional Resistência e Liberdade, na Fortaleza de Peniche, serem visitadas por 50 mil visitantes, segundo informação da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) recolhida pela Agência Lusa.

«Um significativo afluxo» que não dá mostra de abrandar: durante o passado mês de Julho a DGPC registou 20832 entradas no forte e foi a 30 de Julho que o quinquagésimo milésimo visitante passou as portas da antiga prisão, reporta a Lusa a partir da página da DGPC na internet.

Durante a actual fase de instalação do futuro museu, o acesso à exposição Por Teu Livre Pensamento e a toda a área visitável da Fortaleza faz-se de forma gratuita, de quarta-feira a domingo, entre as 10h e as 18h.

O futuro Museu Nacional Resistência e Liberdade, que será o 15.º museu nacional sob tutela da DGPC, recebeu já «mais de três mil visitas guiadas de grupo e cerca de mil visitas com recurso aos audioguias», pode ler-se na bem estruturada e apelativa página do museu.

Inauguração a 25 de Abril

A Fortaleza de Peniche, um dos mais importantes cárceres do fascismo lusitano, foi reaberta ao público no passado dia 25 de Abril, ao celebrar-se a passagem de 45 anos sobre o derrube da ditadura fascista pelo Movimento das Forças Armadas e o início daquela que ficou conhecida como a Revolução dos Cravos, um dos momentos altos da luta do povo português pela liberdade.

O dia foi marcado pela inauguração de um Memorial aos Presos Políticos que tem inscritos os nomes dos 2510 presos políticos identificados que, entre 1934 e 1974, passaram pela fortaleza, pela abertura de um módulo do futuro museu – o chamado «parlatório», onde os presos recebiam a visita das suas famílias, separados por grades e sob a estreita vigilância dos carcereiros – e pela apresentação da exposição Por Teu Livre Pensamento.

Na cerimónia que marcou o arranque da futura instituição museológica – um acto público com a participação de largas centenas de pessoas, nomeadamente ex-presos políticos e familiares, incluindo militares de Abril e personalidades de diversos quadrantes políticos, deputados, membros do Governo, autarcas, dirigentes sindicais e de associações militares – intervieram o primeiro-ministro António Costa e Domingos Abrantes, ex-preso político em Peniche e actual membro do Conselho de Estado.

Vinte governos depois cumpre-se Abril

No dia 24 o AbrilAbril tinha entrevistado Domingos Abrantes sobre o significado deste passo na recuperação e permanência da memória da luta popular e dos que a protagonizaram.

«Este acontecimento tem um enorme significado político e histórico», afirmou-nos então o histórico dirigente comunista, ele próprio um dos que sofreram a tortura e as prisões fascistas, para a seguir sublinhar que, tendo sido decidido em 1976, dois anos depois da revolução, o estabelecimento em Peniche de «um Museu da República e da Liberdade, passaram 20 governos sem que este facto tenha acontecido».

Tanto desgoverno é o retrato simbólico da política de direita que, desde aquele ano, se instalou nos gabinetes e salões dos ministérios, e que apenas foi travada pelo novo quadro político saído das eleições parlamentares de 2015.

Essa «política de silêncio e de apagamento da memória», lembrou Domingos Abrantes, «não é só dos governos de direita. Passaram 20 governos de várias composições com PS, PSD e CDS», embora reconheça haver «um facto histórico: este passo foi dado com este Governo e neste quadro político concreto e isso não é pouco. É muito difícil imaginar que um governo de direita recuava neste aspecto. Antes pelo contrário».

A inauguração popular

A União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) e muitos antigos presos e seus familiares escolheram o dia 27 de Abril, aniversário da libertação dos presos políticos em Peniche, como dia para uma «inauguração popular».


Domingos Abrantes, em nome dos ex-presos políticos e da Comissão Instaladora do Museu, e Graça Fonseca, ministra da Cultura, intervieram perante milhares de pessoas, entre as quais ex-presos políticos e suas famílias.

Aquele dirigente político e antigo prisioneiro em Peniche lembrou o dia 27 de Abril de 1974 e a «acção da população de Peniche, de muitos populares e de famílias dos presos vindas de longe, dos militares de Abril, e em particular do Comandante Machado dos Santos», na libertação dos presos do Forte de Peniche, os últimos a serem libertados, sem esquecer que, ao mesmo tempo que, «por todo o país, multidões imensas ocupavam as ruas e as praças para vitoriar a conquista da liberdade, o general Spínola decidia manter a PIDE, nomear um novo director para a sinistra instituição e manter nas cadeias os presos políticos, que só viriam a ser libertados no dia 27».

A cerimónia foi precedida por uma manifestação organizada e encabeçada pela URAP, que desfilou nas ruas da cidade para depois assaltar simbolicamente a Fortaleza, assim celebrando o significante momento da libertação dos últimos presos políticos, há 45 anos atrás, e assinalando a abertura da primeira fase do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade. Foi um dia diferente em Peniche.


Com Agência Lusa

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