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|Privatizações

Vinci e Ryanair: eles bem que as embelezam, mas são mesmo feias estas coisas

Em Portugal, os apoios públicos (e da gestora aeroportuária) têm a Ryanair como destinatário privilegiado e não as empresas públicas nacionais.

CEO da Ryanair, Michael O'Leary
CEO da Ryanair, Michael O'LearyCréditosChema Moya / EPA

Acto 1

Esta semana, fruto da publicação de um relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), vimos a comunicação social a destacar o facto de «a ANA dar as primeiras receitas ao Estado acima do esperado» (Negócios Online). O título é completamente falso, uma mentira grosseira mesmo. A ANA, antes de ser privatizada, dava receitas de milhões ao Estado. De muitos milhões. Além de suportar todo o investimento na rede aeroportuária nacional com as suas receitas.

A única verdade por detrás da mentira colocada em destaque é a de que a ANA, pela primeira vez, vai dar receitas ao Estado depois de privatizada, no âmbito da «partilha de receitas» prevista no contrato de concessão. Essa espantosa receita já partilhada foi de 186 mil euros, estimando o jornalista que a verba a entregar no total deste ano serão uns loucos 370 mil euros. Mas já agora recordamos que o lucro da ANA em 2022 foi de 334 milhões de euros (cerca de MIL VEZES mais que a receita «partilhada») e que, tudo aponta, em 2023 será ainda maior que em 2022. Por exemplo, o lucro da multinacional Vinci, que detém a ANA, cresceu 12,6% no primeiro semestre de 2023 atingindo os 2 089 milhões de euros.

Mas claro, os defensores de todas as privatizações só viram o que queriam ver, e só valorizaram o que queriam valorizar: que a generosa multinacional entregou ao Estado... um milésimo do lucro arrecadado.

Acto 2

A Ryanair veio queixar-se em público das taxas da ANA. E ainda bem. Porque as queixas da Ryanair são sempre notícia em Portugal pois são queixas de uma multinacional. Que o PCP já denunciou o aumento de taxas, já questionou o Governo sobre isso, já exigiu da ANAC uma intervenção mais firme? Que importa, que interesse jornalístico pode ter isso? Não perturbemos as pobres almas que estão a ser cultivadas na ideia de que os políticos são todos iguais menos o salvador da pátria de turno. Mas voltemos ao tema: a Ryanair queixou-se das taxas e isso foi notícia.

É que desta vez o aumento médio foi de 14,55% e também tocou os aeroportos onde a Ryanair tem maior peso na operação (os aumentos em Lisboa, que desde a privatização têm sido sistemáticos e brutais, variando entre 40% e 250% conforme as taxas, massacram essencialmente a TAP, coisa que não indigna a Ryanair). No estilo elegante a que já nos habituou, o CEO da Ryanair chamou a Vinci de «monopolista francês» e comunicou que assim sendo ia reduzir o número de voos no Porto e Faro e de aviões baseados na Madeira.

Recordamos que este episódio se soma ao protagonizado há uns meses, onde a Ryanair apresentou a exigência pública de receber apoios extraordinários do Governo dos Açores – qualquer coisa como 15 euros por pessoa - para manter a frota a voar para o arquipélago, tendo-a reduzido quando a resposta não lhe agradou.

Acto 3

A ANA/Vinci respondeu publicamente à Ryanair, e ainda bem. Ainda bem porque as respostas da Vinci são notícias, e assim há informação útil que acaba por ser pública. Mostrou-se a Vinci indignada por a Ryanair reduzir a sua presença «em aeroportos onde recebe apoios».

Pena não ter reconhecido publicamente a lista de todos esses apoios. É que em Portugal os apoios públicos (e da gestora aeroportuária) têm a Ryanair como destinatário privilegiado e não as empresas públicas nacionais. O que também já foi várias vezes denunciado, e mesmo comprovado pelos trabalhos da CPI à TAP no que respeita às verbas oriundas do Estado Central.

Mas disse mais a ANA, disse que a Ryanair aumentou os bilhetes em média 21% entre 2022 e 2023, uma média de 16 euros por passageiro, e que a ANA quer uma parte desse aumento, pois não é justo que a Ryanair ganhe tudo. Ora nós sabemos (não pela leitura da comunicação social «de referência», que não perde tempo com tais detalhes) que nenhuma destas empresas aumentou os salários dos trabalhadores nos valores supracitados: nem nos 12,6% (aumento lucro da Vinci), nem nos 14,55% (aumento de taxas da ANA) nem nos 21% (aumento de preços da Ryanair). Bem pelo contrário. Aqui ficando mais um exemplo onde os aumentos (a inflação) têm origem: no aumento de lucros e no desejo de aumentar ainda mais esses lucros. Num caso que só ficou exposto pelo facto dos dois grupos de capitalistas terem guerreado pelo aumento do seu quinhão.

Acto Final

A privatização – em curso - da TAP SA e da SATA Internacional colocaria Portugal nas mãos das Ryanair deste mundo. A não reversão da privatização da ANA manteria Portugal a ser espremido por uma multinacional que em 10 anos recuperou o dinheiro investido e tem agora mais 40 anos para acumular uma gigantesca renda.

Como todos os problemas do país, estes são problemas cuja solução está nas mãos do povo português.  

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