Não cresceu em Alhandra, também não fez parte da geração que trabalhava nos esteiros do Tejo nem foi amiga e companheira de Gaitinhas, Gineto ou Sagui, mas aos 19 anos parou de estudar para se dedicar à «holding familiar». Paula Amorim é assim a CEO e nunca foi menina devido à dureza de um conselho de administração que a forjou.
Foi no podcast de Francisco Pinto Balsemão, no Expresso, sintomaticamente chamado «Deixar o Mundo Melhor» que surgiu a pergunta se Paula Amorim sentia especial responsabilidade por ter nascido numa família com dinheiro e mordomias. No tom pesado do sofrimento, a empresária diz que começou a trabalhar cedo, com uma educação muito baseada nos princípios do trabalho, na criação de valor e na importância do legado: uma vez que é da quarta geração da família que assumiu o «grupo familiar», que tem cerca de 150 anos anos. Esperou menos que o Rei Carlos III, apesar da semelhança da forma como passa lento o tempo, o ramo de negócios é diferente. Enquanto a dinastia Winsdor está no ramo da chefia de um Estado por desígnio divino, a família Amorim está no ramo do condicionamento da chefia de um Estado por desígnio de classe.
A classe não é divina, mas essa gigantesca riqueza foi herdada daqueles que se apropriaram do trabalho dos muitos que a produziram. Foi por via da sua mãe, herdeira do marido Américo Amorim, que Paula Amorim figura na lista dos mais ricos do mundo, coligida pela revista Forbes, com um património avaliado nos 4,7 mil milhões de dólares. Uma vida dedicada à apropriação do trabalho de muitos milhares de trabalhadores que certamente não tiveram nunca uma vida que desse o justo valor ao seu contributo.
Paula Amorim não se encaixa bem no perfil da geração retratada por Soeiro Pereira Gomes nos Esteiros, e nunca se viu confrontada com o facto de não ter o que calçar, mas foi certamente este duro trabalho de apropriação que a permitiu investir em roupa de luxo. Podemos até admitir que actualmente pode não sofrer na pele com o aumento do preço dos combustíveis provocados pela especulação, mas foi o trabalho árduo, em direcções de empresa, que a permitiu chegar a presidente do conselho de administração da Galp.
Ser presidente de uma holding que tem participações na Galp Energia, na Corticeira Amorim, na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, no Banco Luso-Brasileiro, na Sivarol Brasil e representa a Tom Ford deve ser dificíl, especialmente quando a Amorim Energia B.V está sediada em Amesterdão (simplesmente para partilhar a criação de valor com outros países e não pagar sequer os devidos impostos no seu).
Infelizmente, Paula Amorim foi privada de estudar e da sua juventude. Nem tudo é mau, os que trabalham nas suas empresas não sofrem tantas pressões familiares: podem não conseguir meter os seus filhos a estudar, mas não por imperativo do clã, somente porque Paula Amorim não lhes paga salários melhores.
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