Em nota publicada nas redes sociais, a estrutura da CGTP-IN que representa os jovens trabalhadores, a Interjovem, evocou «o espírito criativo e transformador da juventude, que luta e reivindica por um mundo melhor, como foi em 1947, no acampamento em Bela Mandil», mesmo tendo sido «severamente reprimidos pela polícia política».
«Dando asas aos sonhos da juventude», assim se intitula a exposição inspirada na jornada de Bela Mandil contra o fascismo, patente ao público na Biblioteca Municipal de Olhão. Integrado na Semana da Juventude, promovida pelo Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, entre 21 e 28 de Março, o Festival da Juventude de Bela Mandil, no concelho de Olhão, realizado a 23 de Março de 1947, representa uma «jornada de grande significado na luta da juventude contra o fascismo e pela liberdade que, apesar de fortemente reprimida, deixou sementes que haveriam de florir com a Revolução de Abril». A caracterização é da iniciativa do PCP, promotor da exposição inaugurada no passado dia 23 na Biblioteca Municipal de Olhão, e responsável pela concepção e desenvolvimento do MUD Juvenil, fundado em Abril de 1946, com o objectivo de alargar a luta de resistência e a unidade antifascista. Cerca de mil participantes, maioritariamente algarvios, participaram no festival cujo programa, pleno de palestras, canções, recitais de poesia e danças, haveria de ser interrompido por um forte contingente policial (PSP, PIDE e GNR), que por sua vez intimou a organização e todos os participantes a abandonarem o local. Em protesto, os jovens cantaram o hino nacional, que haveria de ser também proibido, e foram alvo de agressões pelos polícias durante a escolta. A exposição tem como objectivo alertar os mais jovens para os reflexos da ditadura de Oliveira Salazar para os trabalhadores e o povo. A brutal repressão contra os jovens e o movimento operário marcou a identidade do fascismo português, materializada na eliminação de todas as liberdades democráticas, na proibição dos sindicatos livres e na instauração da censura, recorrendo a um violento aparelho repressivo. Um regime assente na tortura, em assassinatos e na condenação à «morte lenta», em campos como o do Tarrafal, em Cabo Verde. O MUD Juvenil consubstancia a criação de uma forte consciência democrática e anti-fascista no período do pós-guerra. Desenvolve desde a sua criação um intenso trabalho de organização do qual surgem numerosos homens e mulheres que haveriam de se destacar no combate antifascista e anticolonialista, com a democracia na mira. Depois de Bela Mandil, organiza a participação de jovens portugueses nos festivais mundiais da juventude nos anos de 1951, 1953, 1955 e 1957. Em 1956, o movimento é alvo de nova acção repressiva. São presos mais de uma centena de dirigentes e apoiantes, 50 dos quais haveriam de ser levados a julgamento em Tribunal Plenário. Um ano mais tarde, novo golpe para o MUD Juvenil: mais de vinte elementos são condenados a penas de prisão. O movimento acabaria por ser ilegalmente extinto em 20 de Junho de 1957 por acórdão do Tribunal Criminal Plenário do Porto. O que não o impediu, porém, de prosseguir o desenvolvimento da sua actividade, designadamente no movimento estudantil de Lisboa. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional
70 anos de Bela Mandil: a força da juventude não se apaga
A consciência democrática que nasce com o MUD
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Para a estrutura, este é um dia que «deve ser celebrado por isso em luta, como o fizeram os jovens trabalhadores na passada quinta-feira, dia 25 de Março com as grandes manifestações no Porto e em Lisboa». Estas acções tiveram como reivindicações «mais emprego, mais salário, mais estabilidade».
«Com coragem e confiança, com alegria e criatividade, os jovens prosseguirão a luta em cada empresa, serviço e local de trabalho por melhores condições de vida e de trabalho», pode ainda ler-se no documento.
«Mil lutas» para um futuro com direitos para a juventude
Também a JCP assinalou o dia, com uma acção no Largo José Saramago, em Lisboa, que contou com a participação de dezenas de jovens.
O secretário-geral do PCP também marcou presença e assinalou as acções de luta recentes, quer dos estudantes, quer dos jovens trabalhadores e lembrou que a precariedade e baixos salários, que afectam particularmente os jovens «permitem ao capital acentuar a exploração, mas que significam instabilidade na vida» da juventude.
Estiveram presentes diversas reivindicações, tanto em mensagens colocadas no local, como na intervenção de Jerónimo de Sousa, que lembram que os jovens querem ter acesso à educação, à cultura, à saúde, ao desporto, a um ambiente ecologicamente equilibrado e não se conformam as «discriminações mais abjectas pelo país de origem, pela cor da pele, pela orientação sexual, pela afirmação da identidade de cada um».
Os jovens comunistas têm agendado o seu 12.º Congresso, para os dias 15 e 16 de Maio, em Vila Franca de Xira, «Mil lutas no caminho de Abril – Organizar, Transformar».
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