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Graça Mexia, uma vida dedicada ao parto mais humanizado

Quando passam dez anos da publicação da sua obra 45 anos e 38 000 grávidas depois, o AbrilAbril entrevistou a mulher cujo trabalho e vida contribuíram para a implementação no País do método psicoprofilático de preparação para o parto.

Graça Mexia, em entrevista ao AbrilAbril
Graça Mexia, em entrevista ao AbrilAbril CréditosHelena Amador / AbrilAbril

O AbrilAbril foi à conversa com Graça Mexia, mulher dinâmica, alegre e confiante que dedicou a sua vida às mulheres e aos casais para que usufruíssem da gravidez e do parto de forma mais descomplicada e feliz. Diplomada em Fisioterapia Obstétrica e licenciada em Psicologia Clínica, trabalhou desde 1962 como preparadora de partos pelo Método Psicoprofilático.

Graça, conhecendo um pouco do teu percurso, deste muito da tua vida ao trabalho junto das grávidas, para alterar e melhorar a forma como vivem este momento da sua vida. Gostaríamos de saber como tudo começou.

Bom, isto não é exactamente como tudo começou. Mas passou pela minha própria experiência, com o parto da minha filha, cuja preparação fiz com o Dr. Pedro Monjardino. Pode dizer-se que entrei logo «no máximo» com o Dr. Monjardino, de quem me lembrarei sempre como um marco profissional e como amigo. Fiquei fascinada, não só pela forma como tudo foi feito, mas porque o parto foi belíssimo. Daí em diante, pensei «é isto que quero fazer, porque não hei-de fazer isto com outras pessoas? Por que é que hei-de ser só eu a ter esta experiência? Isto tem de se estender a outras pessoas». Começou aí realmente esta ideia. Lembro-me perfeitamente de pensar: isto nunca mais pode ser de outra maneira. É para começar e continuar.

Inspirada e com apoios do Dr. Pedro Monjardino e de outros profissionais, nomeadamente também da Dra. Cesina Bermudes, como sentes que este trabalho contribuiu para chegar a mais gente?

Foram apoios enormes. Eram dois médicos muito conhecidos, muito importantes e o facto de a minha intervenção poder passar pelo trabalho com eles, foi uma porta aberta a tudo o resto. Tive muito mais experiência com o Dr. Monjardino do que com a Dra. Cesina Bermudes e ele foi, de facto, fundamental para que este método avançasse. Era uma pessoa muito dinâmica, muito aberta; tudo o que ele fazia era muito bem recebido. Foi muito bom trabalhar com ele.

«[O método psicoprofilático] contribui para um parto mais rápido, mais eficiente, mais desejado. E permite ainda identificar e prevenir situações de risco.»

Em que consiste o método psicoprofilático?

Consiste alterar o comportamento da grávida, da mãe, em relação ao parto. Para que esse momento não seja um momento violento, mas, muito pelo contrário, seja uma experiência e com uma participação positiva e colaboradora da mãe. Com a meta de equilibrar toda a vivência da gravidez, a qual deve ser encarada como um meio importante de poder chegar lá, de ter um bebé.

Essa importância é tanto na preparação como na recuperação do parto.

Claro, é um todo, porque uma coisa está ligada à outra. São raras as mulheres que fazem preparação e não fazem recuperação.

Este trabalho é sobretudo orientado para a mulher...

Sim. E para o casal. Eu gostava sempre de envolver o casal dentro da medida do possível, para que participasse nas sessões e estivesse presente. Sempre achei isto muito importante. E cada vez mais se tornou possível. Ao princípio não tanto, mas a pouco e pouco alterou-se. Acho que não passa pela cabeça de um casal jovem, hoje em dia, que não participem os dois. Tornou-se um facto.

Era difícil desconstruir preconceitos culturais e históricos?

Foi sendo cada vez menos. À medida que o tempo passava, havia cada menos problemas culturais. Foi uma história que se ia desvanecendo à medida que o tempo avançava.

No teu livro demonstras, com recurso a dados estatísticos, inúmeros benefícios do método psicoprofilático.

Absolutamente. Em termos de redução da ansiedade da mãe. Mas também na forma como as mães encaram toda esta fase da vida, e até da relação com o bebé. Reforça os laços entre os casais e combate o isolamento das mães e dos casais neste momento das suas vidas. Contribui para um parto mais rápido, mais eficiente, mais desejado. E permite ainda identificar e prevenir situações de risco. São detectadas situações que, se não se estivesse a fazer preparação com este método, não se detectavam. E podem-se mesmo evitar alguns riscos e até evitar-se cesarianas, contribuindo para uma recuperação do parto melhor e mais rápida.

Como é que foi promover este trabalho em plena ditadura fascista?

Como tantas outras coisas, foi tudo difícil, como é evidente. Mas de qualquer maneira, não acho que tenha sido uma barreira. A pouco e pouco, o método psicoprofilático ficou muito conhecido, a ser visto como muito útil, as pessoas começaram a exigir fazê-lo e, em pleno fascismo, avançou-se. Às vezes até se dizia que pelo menos em relação ao parto que façamos as coisas de forma avançada, para a frente.

Li que te recusaste assinar aquela declaração da ditadura fascista que proibia os funcionários públicos de militarem ou fazer parte de associações democráticas ou comunistas.

Sim e realmente nunca isso me opôs a coisa nenhuma, nunca deixei que isso fosse um travão de maneira nenhuma. Porque ser uma militante comunista estende-se a tudo.

Depois do 25 de Abril, com as profundas transformações na sociedade, o que sentiste no teu trabalho?

Procurava-se muito mais pela preparação para o parto e também houve mais partos. O que é um facto muito importante. Havia gente que antes não pensava ter filhos e passou, depois da Revolução, a querer.

Ainda hoje continua a batalha por um parto mais humanizado. Em que por um lado respeite as condições de segurança da mãe e do bebé, mas que não deixe de ter em conta a grávida como agente activa no parto. Como olhas para esta batalha que continua?

Continuará sempre esta batalha. Dependerá das grávidas e dos tempos, e o caminho terá de ser em sentido positivo e de avanço.

Infelizmente persistem ainda relatos de situações de partos em que esta realidade do parto mais humanizado não se verifica.

Aquelas parteiras mais antigas, ainda muito ligadas à ideia da mulher não participar, deixaram de trabalhar. Vão-se reformando. E, nos novos tempos, não deveria passar pela cabeça das pessoas novas tais coisas. Eu penso que, com os tempos modernos, os novos médicos obstetras devem estar mais abertos à participação do casal e à preparação do parto. Espero que sejam dados adquiridos.

Têm também ressurgido ideias tidas como inovadoras de, por exemplo, voltar ao parto em casa.

São duas coisas que se chocam. Porque um parto em casa exige evidentemente um grande acompanhamento de que não se pode descurar. Não pode ser uma balda. Pelo contrário, é uma situação que exige acompanhamento técnico e muito eficiente.

«[Este método] torna tudo mais bonito, mais agradável, permite reduzir a ansiedade face a toda a gravidez e ao momento do parto. A preparação incentiva as mulheres a terem vontade de experimentar, de fazer, é tudo muito mais positivo.»

Como vês as debilidades, nomeadamente nos casos em que alguns centros de saúde não promovem cursos de preparação para o parto?

Isso é um problema e têm também de ser os profissionais que têm de se impor e fazer esse trabalho. Os profissionais têm de se impor.

Realizaste um trabalho com dezenas de milhares de grávidas e suas famílias. Sentes que este trabalho deixou sementes para o futuro?

Eu acho que sim, porque normalmente este trabalho é completamente contagioso. É uma experiência que, pela sua natureza positiva, é difundida pelas próprias pessoas que o fazem, porque, quando alguém faz esta preparação para o parto, acaba por passar a informação para os filhos, sobrinhos, irmãos, etc., e depois também eles querem fazer a preparação para o parto.

Também foi importante a formação que deste a outros profissionais...

Não era muito fácil. Havia alguma retracção de alguns profissionais, de alguns obstetras. Havia alguma dificuldade de entrar, não era tão fácil como se possa imaginar. Era pela prática, era pela experiência e por verem como tudo se passava, que se conseguia que este método contaminasse, no sentido positivo, os profissionais.

Que mensagem gostarias de deixar a profissionais e pessoas que possam beneficiar disto?

As vantagens são sempre tão maiores em relação a tudo o que era o antigamente, que deve caminhar-se no sentido de haver cada mais preparação, cada vez mais casais preparados, cada vez mais obstetras a considerar que isto é importante, uma ligação muito grande entre o obstetra e o casal. É fundamental que essa ligação seja feita pelas pessoas e pelo método psicoprofilático. Eu acho que as pessoas que fazem preparação, não lhes passa pela cabeça passar por um parto de outra maneira. Torna tudo mais bonito, mais agradável, permite reduzir a ansiedade face a toda a gravidez e ao momento do parto. A preparação incentiva as mulheres a terem vontade de experimentar, de fazer, é tudo muito mais positivo. E a recuperação do parto permite também contribuir para a mãe ganhar confiança para si, para tratar do bebé e para prosseguir a vida. Quanto à prática deste método, é preciso avançar, não andar para trás, não retroceder!

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