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Évora - Pichardo: da polémica aos argumentos que merecem debate

Nélson Évora deu uma entrevista, Pedro Pablo Pichardo reagiu nas redes sociais e estalou, finalmente, a discussão entre duas grandes figuras do desporto nacional. 

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Peneirar os argumentos que merecem discussão da polémica que permanece estéril é o esforço de quem tem palco para a debater. 

Por muito que tentemos resistir a participar nas polémicas que nos vão distraindo pelos dias, cada uma delas pode transformar-se numa oportunidade para conseguirmos discutir temas que são verdadeiramente importantes. A entrevista de Nélson Évora ao Observador entrou na onda mediática pela polémica pessoal entre ele e Pedro Pablo Pichardo, mas acabou por lançar uma série de temas que merecem discussão e que, sobretudo na forma como o tema é tratado e absorvido na conversa pública, merece várias anotações. 

O ponto de base, que seguramente mais comentários e réplicas gerou na opinião pública é a questão da nacionalidade. Não há qualquer ilegalidade na naturalização de Pedro Pablo Pichardo, que beneficiou de uma das alíneas do Artigo 6 da Lei da Nacionalidade para se tornar português. Isso torna Pedro Pichardo um português sem contestação. A forma como muitos tentaram transformar mais esta oportunidade para denegrir os imigrantes que procuram Portugal para fazer a sua vida e desenvolver as suas atividades demonstra que, ao nível do racismo, ainda temos questões latentes por resolver. Por outro lado, faz sentido perguntar porque é que, se existem condições para a desburocratização de processos relativos à nacionalidade, então porque essas não são alargadas para todos aqueles que procuram o nosso país e que enfrentam imensas dificuldades para se legalizar. Esse tem sido o caso de diversos jovens, alguns até nascidos em Portugal, que acabam por atingir elevados níveis competitivos no desporto. 

«Há, por certo, uma situação de alguma indefinição entre investimento público e mercado de patrocínios no desenvolvimento de vias de rendimento na prática desportiva. Ao nível das políticas públicas, o Desporto está longe de ser visto como uma prioridade.»

Por outro lado, escutando a entrevista de Nélson Évora, existe um outro argumento que merece ser pesado. O investimento em formação desportiva em Portugal. Sabemos que muitas das estruturas formativas estão, nos dias de hoje, em esforço. No Desporto Escolar existem muitas falhas que merecem maior atenção. As próprias questões da Atividade Física não têm merecido a devida atenção das nossas autoridades. Por outro lado, com muitas responsabilidades deixadas para os clubes desportivos, a situação de crise que muitos acabam por ultrapassar limitam o desenvolvimento dos atletas. Há, por certo, uma situação de alguma indefinição entre investimento público e mercado de patrocínios no desenvolvimento de vias de rendimento na prática desportiva. Ao nível das políticas públicas, o Desporto está longe de ser visto como uma prioridade. E todos aqueles que se dedicam à prática desportiva e atingem o alto rendimento compreendem como os seus resultados são alcançados a um custo muito menor do que dos seus concorrentes de outros países, onde a aposta no Desporto surge mais estruturada. 

Quem procurou aproveitar esta situação para revelar o seu racismo, o seu clubismo ou um certo moralismo sobre a forma como os atletas manifestam as suas opiniões, falhou claramente o alvo e desperdiçou uma grande oportunidade de esclarecer a população sobre temas que são prementes na forma como nos relacionamos uns com os outros e na maneira como o nosso país pode continuar a evoluir.

É certo que entidades com responsabilidade, como a Federação Portuguesa de Atletismo e o Comité Olímpico Português, permitiram que a má relação entre os atletas passasse dos limites, sendo que estão em causa dois desportistas de alto nível, com lugar marcado na história do desporto nacional e que ainda estão em competição em representação do país. Mas também tem que ser claro que a forma como transformamos a espuma dos dias em discussões que nos beneficiem a todos é procurar sempre afinar os argumentos que importam e colocar de lado as questiúnculas que não servem a ninguém.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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