Francisco relançou um acutilante repto à Europa: será que ainda será capaz de «trazer, para o cenário internacional, a sua originalidade específica»? Terá a Europa mestria para fazer com que, do crisol dos conflitos mundiais, «faça saltar a centelha da reconciliação, tornando verdadeiro o sonho de se construir o amanhã juntamente com o inimigo de ontem»?
Conseguirá ainda ou não a Europa «uma diplomacia da paz que extinga os conflitos e acalme as tensões»?
O Papa Francisco requereu respostas que os governantes de cada um dos países da União Europa são agora impelidos a dar ao mundo: «Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz, vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia e com tantos conflitos que ensanguentam o mundo?». Estarão disponíveis os governantes, aqueles que escutaram o Papa, para a edificação dessa Europa, de «uma Europa que inclua povos e pessoas, sem correr atrás de teorias e colonizações ideológicas»? Consideram os governantes que a União Europeia «tem por objetivo promover a paz, os seus valores e o bem-estar dos seus povos»?
Em lugar da palavra que apavora, em contraposição aos alarmismos, o Papa Francisco desenhou a exigência das perguntas. Onde fedem as pestilências da cultura da morte, escavou uma saída. Até onde chega a noite, lançou um fio de esperança. Ante a terra devastada, projetou um movimento de vida, uma espécie de caudal. Apontou os conflitos que desfiguram o mundo e fez ecoar súplicas e um clamor de paz, como se fosse uma exigência, uma urgência para o agir.
Os radares assinalam na Europa vozes alucinadas, de intolerâncias. Sentimos o perigo, o frio, o declive, a cegueira em nossas ruas, «o declínio da vontade de viver». Na desordem das injustiças e na solidão sem causa, no caminho às cegas, o vento interroga os monólogos sobre o futuro. Francisco abre fendas nas cidades cheias de medo, de desesperança. Propõe uma União Europeia a salvo dos especuladores, a Europa salva-vidas, capaz de abrigar, mestra no acolher, lugar de amparo e de ousadas formas de tecer laços de humanismo, e na arte de persuadir o mundo para a paz.
O Papa Francisco protagoniza uma outra Europa capaz de ser a portadora do azimute para «rotas corajosas para a paz», não só «para extinguir focos de guerra», mas com o papel «construtor de pontes e de pacificador». Neste sentido usa o seu engenho para «acender luzes de esperança».
É a utopia de Francisco?
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui