A iniciativa foi promovida pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP). No seu portal, dá-se conta da surpresa com que ex-presos políticos receberam «a notícia sobre a concessão do Forte de Peniche a privados», bem como a sua indignação, que já tornaram pública, por considerarem que «a preservação do Forte de Peniche» constitui «a salvaguarda da memória da resistência ao fascismo e da luta pela liberdade».
No encontro desta tarde, que contou com a presença de muitos ex-presos políticos e seus familiares, foi aprovada, «com salvas de palmas, emoção e lágrimas nos olhos de alguns» um documento intitulado «Apelo ao Governo em defesa da Fortaleza de Peniche, símbolo da repressão e da luta contra o fascismo», refere a Lusa.
«pelo Forte de Peniche passaram 2500 presos e "histórias de vidas privadas da liberdade e sujeitas a um regime prisional odioso"»
O texto expressa a indignação com a intenção do Governo de concessionar a privados a Fortaleza de Peniche, considerado «um dos mais fortes símbolos da repressão fascista», e defende a instalação de um «verdadeiro Museu da Resistência»
Também se recorda que pelo Forte de Peniche passaram 2500 presos e «histórias de vidas privadas da liberdade e sujeitas a um regime prisional odioso que não poupava os familiares dos presos».
No encontro-convívio dos ex-presos políticos, esteve Domingos Abrantes, dirigente histórico do PCP, preso em Peniche em 1960 e entre 1965 e 1973, sendo o preso vivo com maior número de anos em detenção no forte. «O projecto de privatizar a Fortaleza de Peniche deve ser considerado um atentado contra a própria democracia e a violação do dever de qualquer Governo democrático de honrar a memória de todos aqueles que deram a própria vida para que o povo português pudesse ter liberdade», declarou.
Para este ex-preso político, tornar o Forte de Peniche numa unidade hoteleira onde os turistas vão ter vista para o Atlântico «é um insulto à memória» dos que aí estiveram detidos e que nem o mar conseguiam ver. António Rogério Reizinho, detido entre 1967 e 1971 em Peniche, partilhou a opinião.
Subscrevendo esta posição, Eulália Miranda, filha do ex-preso político Dinis Miranda, relembrou que, aos quatro anos, percorria com a família «muitos quilómetros com grandes dificuldades financeiras para visitar, durante uma hora duas ou três vezes vezes por ano, o seu pai, após horas de espera à porta».
«tornar o Forte de Peniche numa unidade hoteleira onde os turistas vão ter vista para o Atlântico "é um insulto à memória» dos que aí estiveram detidos"»
Machado dos Santos, um dos militares que no 25 de Abril de 1974 tomaram o Forte para libertar os detidos, também contestou a decisão, depois de recordar as dificuldades da libertação dos presos, devido à resistência ainda existente após a revolução, sendo que o primeiro saiu só à meia-noite do dia 27.
O encontro de ex-presos políticos integrou intervenções, declamação de poesia e visita ao monumento, que recebe por ano cerca de 40 mil visitantes. O actual museu foi criado no início dos anos 80 por locais e pela Câmara Municipal de Peniche.
Um dos três pavilhões do forte passou a estar aberto ao público como museu municipal, onde foi reconstituído o ambiente como prisão política e se pode visitar parlatórios e celas individuais, como a que ocupou Álvaro Cunhal, antigo líder do PCP.
Petição
No início de Outubro, foi lançada uma petição em que se exige que a Fortaleza de Peniche se mantenha como património nacional e saia da lista que contém 30 monumentos que deverão ser concessionados a entidades privadas para desenvolvimento unidades hoteleiras e turísticas.
«Os abaixo assinados democratas antifascistas, surpreendidos com as recentes notícias sobre a concessão do Forte de Peniche, empenhados na defesa da necessária preservação da memória e resistência ao fascismo e pelo respeito de milhares de portugueses que deram o melhor das suas vidas para que o povo português pudesse viver em liberdade, apelam ao Governo para que o Forte de Peniche permaneça património nacional, símbolo da repressão fascista e da luta pela liberdade», declara o texto da petição.
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