Foi no passado mês de Outubro que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) celebrou um protocolo com a Fundação Champalimaud para a realização, gratuita, de mamografias a mulheres com menos de 50 anos, residentes no respectivo concelho. Mas a iniciativa suscitou reservas por parte de membros da comunidade médica e científica, designadamente do presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que alertou para uma desarticulação com todo o trabalho realizado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Em declarações à Lusa, após a assinatura do protocolo, Francisco Ferreira Cavaleiro assumiu que a iniciativa da autarquia «dificilmente pode ser apresentada como um rastreio, na medida em que um rastreio implica o cumprimento de uma série de regras e metodologia e organização». «Não vejo, por exemplo, como é que a Câmara tem a lista das mulheres, que recebemos das administrações regionais de saúde, filtradas pelos critérios de elegibilidade», acrescentou, tendo alertado ainda que o protocolo «cria dispersão e vai ser mais difícil aumentar a taxa de participação» das mulheres no programa nacional de rastreio vigente há mais de 30 anos.
As reservas relativamente a este processo, que segundo o presidente da Liga pode ser mesmo prejudicial – «se chamarmos uma mulher para fazer uma mamografia e nas verificações de elegibilidade for constatado que fez uma mamografia há menos de seis meses, fica impedida de fazer outra ao abrigo do programa nacional, havendo mulheres que, em vez de entrarem num programa nacional que salva-vida, vão simplesmente fazer uma consulta» –levaram os vereadores do PCP na Câmara Municipal de Lisboa a apresentar um requerimento ao presidente, esta segunda-feira.
Os comunistas questionam Carlos Moedas sobre os riscos elencados pelos especialistas, onde também se aponta para os efeitos cumulativos da sobre-exposição à radiação, bem como para o problema dos falsos positivos. «Tenciona a CML dar às mulheres que realizarão estes exames nas suas instalações informação cabal sobre a exposição à radiação associada a estes exames e aos seus efeitos cumulativos na saúde?», indagam os eleitos, que querem saber como será feita a articulação e comunicação entre os exames a realizar pela autarquia e os dados existentes no SNS, nomeadamente da Administração Regional de Saúde, que lista as mulheres a realizar o rastreio com critérios de elegibilidade.
No documento, pergunta-se ainda se o município lisboeta vai assumir as responsabilidades decorrentes da eventual sobre-exposição à radiação por parte de mulheres que efectuem estes exames, bem como de eventuais falsos positivos.
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