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|Irlanda do Norte

Veterano inglês condenado pelo assassinato de cidadão irlandês

É uma situação inédita desde 1998. Agora, o Governo britânico quer ilibar os soldados do seu exército ocupante de todo e qualquer crime cometido contra a população irlandesa, incluindo o assassinato de civis.

De braço dado, a família de Aidan McAnespie chega ao tribunal de Laganside, em Belfast, para ouvir a sentença do ex-militar inglês que assassinou o seu familiar há 34 anos. 25 de Novembro de 2022 
De braço dado, a família de Aidan McAnespie chega ao tribunal de Laganside, em Belfast, para ouvir a sentença do ex-militar inglês que assassinou o seu familiar há 34 anos. 25 de Novembro de 2022 CréditosLiam McBurney / PA

Há quase quatro décadas, Aidan McAnespie, um jovem trabalhador de 23 anos, foi morto em Aughnacloy, condado de Tyrone, na Irlanda do Norte, em 1988. Sem ligações a organizações paramilitares, McAnespie era candidato do Sinn Féin, partido republicano e independentista, e colaborador assíduo do partido em diferentes actos eleitorais.

Operário desde os 16 anos, McAnespie tinha de atravessar, diariamente, o posto de controlo das forças militares de ocupação inglesas para chegar ao seu local de trabalho, na República da Irlanda. Foi lá que, a 21 de Fevereiro de 1988, um soldado inglês, David Holden, o baleou pelas costas, cumprindo uma ameaça reiterada em diversas ocasiões.

Durante o julgamento, Holden confirmou ter identificado Aidan McAnespie como uma «pessoa de interesse», com possíveis ligações a movimentos independentistas, reportando-o aos serviços de informação.

No primeiro relatório sobre o incidente produzido pelo exército inglês, que ocultou, conscientemente, o ocorrido, o antigo militar alegava em sua defesa que o disparo tinha sido meramente acidental, ocasionado por «ter as mãos molhadas». A situação não passou impune, 34 anos depois, o tribunal considerou que Holden deu um «testemunho deliberadamente falso» do ocorrido.

O soldado apontou a metralhadora a McAnespie e premiu o gatilho, assassinando o jovem pelas costas, deliberou a justiça. O arguido disparou «sem motivo, em circunstâncias em que não estava sob pressão e não estava em perigo». David Holden foi condenado pelo crime de homicídio por negligência.

A teoria de que o jovem tinha sido atingido por uma bala que sofreu o efeito de ricochete, foi rapidamente desmontada pela acusação: «de todos os sítios que poderiam ter sido atingidos pelo ricochete, o arguido conseguiu atingir 0 alvo que vinha investigando». Mesmo assim, o tribunal considerou que o assassino assumiu que a arma não estava pronta a disparar.

Governo conservador inglês quer amnistiar todos os soldados envolvidos na ocupação criminosa da Irlanda

Em 2021, o governo britânico apresentou um projecto de lei para resolver, de uma vez por todas, o legado dos Troubles (o conflito na Irlanda do Norte entre 1968 e 1998) e acabar com qualquer hipótese de julgar antigos soldados ingleses pelos crimes que cometeram contra a população civil.

Ao abrigo desta legislação, todos aqueles que cooperassem com investigações conduzidas por um novo organismo de recuperação da verdade, constituído para o efeito, receberiam imunidade. Como se viu nesta situação, quando a cooperação é feita «dentro de casa», o exército inglês sente-se confortável ao adulterar os factos e proteger assassinos e outros criminosos.

As forças de ocupação inglesas mataram, ao longo desses 30 anos, pelo menos 160 civis desarmados na Irlanda, incluindo 61 crianças. Existem, no entanto, centenas de casos por investigar. Até ao dia de ontem, apenas quatro soldados tinham sido condenados por parte dos seus crimes.

A Amnistia Internacional pediu ao Governo Irlandês que este avançasse com um processo contra o Governo britânico no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, caso os conservadores insistissem neste projecto de lei. No dia 23 de Novembro, a intenção de levar a lei por diante foi reiterada na Câmara dos Lordes.

«Estou a pensar no meu pai e na minha mãe, que rezaram e rezaram por este dia. Eles não estiveram aqui para o ver chegar»

«Esperámos 34 anos por isto... nunca pensámos alguma vez alcançá-lo», afirmou Sean McAnespie, emocionado, relembrando os seus pais, que morreram antes que fosse feita justiça. 

Nas suas redes sociais, o Sinn Féin saudou a família de Aidan McAnespie, «vindicada na sua luta pela verdade e pela justiça. Ao longo de 34 anos, mantiveram-se firmes e corajosos. Hoje o dia pertence-lhes».

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