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Uma crise de despejos sem precedentes pode atingir em breve os EUA

Com as moratórias sobre despejos a expirarem e o fim dos cheques de apoio aos desempregados, muitas famílias não conseguem pagar as rendas e enfrentam o risco de serem expulsas de suas casas.

Apenas 26% dos inquilinos afro-americanos disseram estar confiantes em poder continuar a pagar a renda
CréditosValerie Macon / CNBC

Na sexta-feira, expirou a moratória federal sobre despejos em propriedades com hipotecas apoiadas pelo governo e para inquilinos em andares também apoiados pelo governo, depois de o Congresso ter aprovado, em Março, um pacote de mais dois mil milhões de dólares em ajudas de emergência, no contexto da crise da pandemia. O Urban Institute estima que estes fundos cobriam quase 30% de todas as habitações alugadas no país, revela a CNBC.

O assessor económico da Casa Branca Larry Kudlow disse no domingo que iria prolongar a moratória, mas, neste momento, os inquilinos estão desprotegidos contra os despejos. Quase em simultâneo, cerca de 25 milhões de norte-americanos deixam de receber, no dia 31 de Julho, os cheques federais com 600 dólares semanais pela situação de desemprego. No entanto, o Gabinete do Orçamento do Congresso dos Estados Unidos estima que a taxa de desemprego continue elevada ao longo deste ano e do ano que vem, refere a CNBC.

Entretanto, também está a terminar a maioria das moratórias sobre os despejos aprovadas nos diversos estados, sendo que os processos de despejo já podem continuar em cerca de 30 estados. No Hawai e Illinois terminam esta semana e, em Agosto, os despejos serão retomados em Nova Iorque e no Nevada.

Emily Benfer, especialista em despejos e advogada na área da justiça da saúde, estima que, no contexto da crise de saúde pública, cerca de 40 milhões de norte-americanos possam ser despejados, sendo obrigados a sair de suas casas nos próximos meses.


Na primeira semana deste mês, um em cada três inquilinos não conseguiu pagar por completo a renda do seu apartamento, segundo revelou a Apartment List. «Não é nada que alguma vez tenhamos visto», disse John Pollock, coordenador da National Coalition for a Civil Right to Counsel, um movimento sediado em Baltimore que defende o direito de todos os cidadãos à assistência jurídica, na defesa dos seus direitos fundamentais.

Em 2016, houve 2,3 milhões de despejos, disse Pollock. «Esse número pode ser alcançado em Agosto», sublinhou.

Uma análise da firma de assessoria Stout Risius Ross revela que o desemprego massivo deixou mais de 40% das famílias com casas alugadas em risco de despejo. Alguns estados serão mais duramente atingidos do que outros, segundo a Stout. Por exemplo, quase 60% dos inquilinos na Virgínia Ocidental estão em situação de risco, quando no estado de Vermont essa percentagem não ultrapassa os 22%.

Os afro-americanos são especialmente vulneráveis. Enquanto quase metade dos inquilinos brancos afirma estar confiante em poder continuar a pagar a renda, apenas 26% dos inquilinos afro-americanos dizem o mesmo.

Cerca de metade dos inquilinos hispânicos disseram ter pouca ou nenhuma confiança em poder ficar a viver nas suas casas.

«Sabemos que os despejos sempre tiveram um impacto desproporcionado nos inquilinos de cor devido à discriminação e à falta de recursos», disse Pollock. «Mas, quando olhamos para esta disparidade entre as pessoas que podem pagar a renda e as que não podem, é quase difícil expressar quão grave será a desigualdade se não houver uma intervenção de monta», frisou.

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