Duas explosões afectaram os gasodutos Nord Stream 1 e 2 no passado mês de Setembro. Por essa altura, o AbrilAbril fez o enquadramente histórico, económico, mas essencialmente político de toda a história dos gasodutos que ligam a Rússia à Europa. Como noutras situações, de que é exemplo o míssil ucraniano que atingiu a Polónia (para gáudio de ululantes belicistas, satisfeitos com o potencial agravar da guerra), uma parte significativa de comentadores com lugar cativo nas redacções, apressou-se a afirmar imediatas, e infundadas, certezas.
Como o AbrilAbril defendeu, as explosões enquadraram-se num clima de incerteza onde cada parte desempenhava um papel num quadro de tensão geopolítica por demais evidente. Sobre o assunto, era indispensável compreender a importância estratégica dos gasodutos em questão e a quem é que poderia interessar mais a sua destruição.
Não coube (nem cabe) a uma análise meramente factual apurar os culpados das acções, algo que cabe às autoridades competentes. Além das fotografias, pouco se sabia sobre as explosões, para além da sua localização e o facto de os danos serem, possivelmente, irreversíveis, dado o avançado estado de corrosão pela água salgada.
Numa tentativa de comprovar a autoria da Rússia, foi aberta uma investigação por parte de vários países europeus com jurisdição marítima sobre as zonas afectadas. Inesperadamente, esta investigação europeia, como o AbrilAbril reportou, foi realizada individualmente, tendo os países europeus rejeitado a opção de uma iniciativa conjunta.
De antemão, os comentadores já conheciam o resultado: as explosões correspodiam a uma acção de terrorismo de Estado, já que tudo apontava para um acto de sabotagem da Rússia contra os seus próprios gasodutos.
A teoria era de que, com a aproximação do Inverno, a Rússia tivesse provocado as explosões nos Nord Stream para estrangular o fluxo de energia para milhões de pessoas no continente europeu, «um acto de chantagem», como o descreveram alguns líderes europeus, mais precipitados.
Com um resultado inconclusivo nas investigações, o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Pekka Haavisto, não pode fazer mais do que confirmar que, com a quantidade de explosivos utilizados, o ataque «tem de ter sido perpetrado por um actor a nível estatal».
Mesmo sem provas, a Rússia continua a ser, nos meios ocidentais, a principal suspeita, muita embora o estado alemão se tenha apressado a inventar desculpas para não responder a questões colocadas por deputados. Isto levou a que Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, afirmasse, ao The Guardian, que, «após as explosões no Nord Stream – que, ao que parece, ninguém na União Europeia vai investigar objectivamente – a Rússia teve de interromper o transporte de gás pelas rotas do norte», expressando ainda o seu desagrado por não terem sido incluídos no processo.