Surgida em 1959 como «reflexo» da Revolução cubana triunfante, a Agência Informativa Latino-americana Prensa Latina nasceu para divulgar uma visão que «punha em causa a hegemonia dos monopólios mediáticos» de então, aspecto em que mantém hoje a sua vigência, disse Enrique Amestoy, investigador uruguaio e assessor na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, em declarações à Prensa Latina no seu escritório em Montevideu.
«A "ideia de Fidel e do Che" de que era necessário dar luta às campanhas de confusão dos inimigos dos movimentos progressistas na América Latina» foi destacada por Amestoy, que atribuiu o epíteto de «enormes» aos que integraram a primeira equipa editorial da Prensa Latina, como o colombiano Gabriel García Márquez, o uruguaio Carlos María Gutiérrez e o argentino Rodolfo Walsh (desaparecido durante a ditadura militar na Argentina).
O investigador uruguaio evocou também a figura do primeiro director-geral da agência, Jorge Masetti, que «destacava o carácter radical, libertador, independentista, latino-americanista, humanista, unitário e anti-imperialista da Prensa Latina», e ia mais além, «fazer a revolução no jornalismo da América Latina» fazendo uso do instrumento recém-criado.
Enrique Amestoy destacou ainda o «trabalho incansável» que a Prensa Latina mantém «em condições totalmente desiguais face ao domínio de velhos e novos oligopólios», num contexto que «actualmente é ainda mais complexo», pois os donos das novas tecnologias, das redes sociais, dos sistemas operativos, dos algoritmos da Inteligência Artificial «escondem a informação».
EUA deram-lhe um mês, mas já lá vão 60 anos de trabalho
No segundo de dois artigos dedicados à fundação da agência cubana, o mexicano Teodoro Rentería, escritor e presidente do Colégio Nacional de Licenciados em Jornalismo, destaca o dinamismo da Prensa Latina, dando como exemplo disso o facto de que, três meses após a sua criação, já tinha 18 escritórios espalhadoes pela América Latina.
Depois de no primeiro artigo, publicado na coluna «Comentario a tiempo», se ter centrado na figura de Jorge Masetti, no segundo Rentería destaca as características da Prensa Latina por oposição às «agências imperialistas», que se disseminaram pelo mundo «para que cada império pudesse esconder aos povos que oprimia as notícias que mais lhes interessavam».
Lembrando palavras de Masetti, o autor mexicano recorda que o imperialismo recorreu a todos os meios para perseguir os correspondentes da Prensa Latina, para que as suas equipas não passassem nas alfândegas.
«Nós somos objectivos, mas não imparciais»
«Acusam-nos de ser uma agência de agitadores», disse então Masetti. «E logicamente que para eles o somos. Porque não escondemos a pressão sobre os operários bananeiros da Costa Rica, nem os ataques da United Fruit, nem as concessões petrolíferas ao imperialismo. Para eles somos agitadores porque dizemos a verdade que faz perder o sono».
«Nós somos objectivos, mas não imparciais. Consideramos que é uma cobardia ser imparcial, porque não se pode ser imparcial entre o bem e o mal. Chamam-nos agitadores, mas isso não nos assusta», disse o primeiro director-geral da agência.
As agências yankees e os círculos mais reaccionários norte-americanos deram um mês de vida à Prensa Latina, como lembrou um dos seus fundadores, Juan Marrero, falecido em 2016. Eles não concebiam uma agência feita ao «serviço da verdade» e não dos monopólios imperialistas.
Masetti disse que a «Prensa Latina nasceu em Cuba porque em Cuba nasceu a Revolução da América Latina», assumindo a missão de fazer a revolução no jornalismo da região. Em 60 anos, teve de se renovar constantemente, por vezes em circunstâncias duras, mas sem abandonar os seus princípios. Teodoro Rentería diz que «tem séculos para viver».
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