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O Brasil comprovou a solidariedade e a competência dos médicos cubanos

Dilma Rousseff, presidente destituída em 2016, afirmou à Prensa Latina que o seu país constatou a solidariedade, fraternidade e competência dos cubanos que integraram o programa «Mais Médicos».

Médicos cubanos integrantes no programa «Mais Médicos»
Créditos / Jornal O Sul

Roussef falou à agência cubana em Brasília, onde esteve reunida, nos últimos dias, a direcção nacional do Partido dos Trabalhadores (PT). O programa «Mais Médicos», instituído em 2013, durante a sua governação, e a participação de profissionais cubanos foram temas naturais de conversa, na sequência dos ataques proferidos pelo presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, aos médicos cubanos e depois de o Ministério da Saúde Pública da ilha caribenha ter anunciado a sua saída do programa, em meados do mês passado.

Para Rousseff, tratou-se do «programa de atendimento básico mais importante para o povo brasileiro nos últimos 20 anos». Algo que a Organização Mundial da Saúde (OMS) também destaca.

Reconheceu que o seu país tem «uma enorme carência de médicos... e Cuba tem um sistema de saúde sólido e uma grande experiência de ensino assente na saúde pública, na prevenção de doenças e no tratamento de proximidade, junto às comunidades».

A criação do «Mais Médicos»

O «Mais Médicos» surgiu quando «descobrimos que neste país gigante havia 63 milhões de pessoas sem cuidados médicos», disse, explicando que, inicialmente, foi lançado um concurso para que os médicos brasileiros participassem, mas que poucos se apresentaram. «Foi então que decidimos completar [as vagas] e abrimos o concurso, de uma forma geral, a profissionais de várias nacionalidades».

No entanto, «não apareceram muitos e nós entendemos que um país respeitado internacionalmente não apenas nos cuidados de saúde básicos, mas capaz de enfrentar doenças surgidas nas guerras e em desastres naturais, era Cuba, que tem um sistema de saúde exemplar», afirmou a ex-presidente brasileira.

Tendo em conta o panorama existente no Brasil ao nível dos cuidados médicos, «recorremos a Cuba e assinámos um acordo através da OPS [Organização Pan-Americana da Saúde], ligada à OMS, e recebemos a solidariedade, fraternidade e competência dos médicos cubanos», sublinhou.

Os profissionais vieram da ilha caribenha para o Brasil «de forma extremamente generosa e, progressivamente, chegaram a ser 11 mil», no tempo em que Roussef ainda era presidente, antes do golpe de Estado de 2016, por via do chamado impeachment.

A diferença dos cubanos

A antiga chefe de Estado sublinhou que os médicos cubanos tiveram uma atitude importante, na medida em que trataram os brasileiros como pessoas, não como profissionais distantes, que apenas passavam receitas. Eles construíam o seu historial e diagnóstico, visitavam as casas, tinham uma relação próxima, a de quem ajuda de forma desinteressada. «Isso fez a diferença», lembrou a dirigente política.

E essa diferença foi tanta que, quando se realizaram inquéritos, «o povo brasileiro votou pelos médicos cubanos, que tiveram um nível de aprovação de quase 100%, superior a 94 ou 95%». Ao fazer as entrevistas, os responsáveis brasileiros aperceberam-se de que «todos queriam os cubanos», tanto os presidentes dos municípios como os pacientes, destacou.

Três observações a propósito

Sobre o programa «Mais Médicos», Dilma Rousseff explicou que, no que respeita às negociações entre a OPS, Cuba e o Brasil, a questão da remuneração dos médicos, como proposta por Cuba, ficou bem clara para todos. «Todas as partes aceitaram e entenderam perfeitamente porque existia uma garantia de retorno dos profissionais à sua pátria e condições de apoio às suas famílias», disse à Prensa Latina.

Esclareceu, para além disso, que o nível da medicina cubana é reconhecido internacionalmente, também pela OMS e a OPS. «Quando há um problema grave de saúde pública, é aos médicos cubanos, à medicina cubana que se recorre, pelo que os seus profissionais não tinham de ser avaliados novamente para integrar o "Mais Médicos"», frisou, apontando para a exigência feita por Bolsonaro.

Rousseff afirmou ser muito compreensível que Cuba tenha cessado a sua participação no programa. Actualmente, «existe um problema maior, decorrente das posições absolutamente radicais, ideológicas e de ofensa a um país que ajudou o Brasil», denunciou.

Sobre as afirmações, propaladas por Jair Bolsonaro e elementos da sua futura equipa governativa, de acordo com as quais «os médicos brasileiros vão ocupar as vagas deixadas abertas pelos cubanos», Rousseff disse que estão «a enganar o povo brasileiro» e anteviu a repetição do «fenómeno ocorrido quando do concurso aberto em 2013, em que alguns se apresentaram e, um ano e meio depois, se foram embora».

Com tudo isto, o Brasil «irá enfrentar um grande problema de saúde pública», que é da «responsabilidade de um governo que ainda não tomou posse», criticou.

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