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Na sindicalização falhada no Alabama, houve «interferências» e «abusos» da Amazon

Os trabalhadores de um armazém no Sul dos EUA votaram contra a sindicalização. Os organizadores prometem não deixar sem resposta «as mentiras, os enganos e as actividades ilegais da Amazon».

Trabalhadores a favor da sindicalização no armazém da Amazon em Bessemer, no Alabama 
Créditos / wbhm.org

Para avançar o processo de sindicalização no armazém de Bessemer, no estado do Alabama, bastava uma maioria simples. Mas, de acordo com os resultados divulgados pelo National Labor Relations Board no passado dia 9, dos 3215 votos emitidos pelos trabalhadores, 1798 foram contra a sindicalização e 738 a favor. Os restantes, refere o Peoples Dispatch, foram invalidados ou estão a ser avaliados.

Os resultados foram bastante frustrantes para os organizadores do processo, realizado por correspondência entre 8 de Fevereiro e 29 de Março. O Retail, Wholesale and Department Store Union (RWDSU), que ajudou a organizar os trabalhadores, destacou que há ainda 500 votos por contar, uma vez que a sua validade foi contestada, por vários motivos, pela Amazon.

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Centenas de trabalhadores da Amazon nos EUA exigem medidas de protecção

Os funcionários acusam a empresa de não garantir medidas de protecção adequadas e de se recusar a pagar baixa por doença. O protesto marcado para esta semana nos EUA é o maior desde o início da pandemia.

Os trabalhadores exigem também que Amazon deixe de exercer represálias sobre os funcionários que denunciam situações e defendem os seus direitos
Créditos / The Guardian

Centenas de trabalhadores dos armazéns da Amazon em todo o território dos Estados Unidos estão a recusar-se a comparecer no local de trabalho pelo menos num dos dias desta semana, alegando que estão doentes.

O protesto, que teve início na terça-feira, é o maior a nível nacional contra a resposta do gigante do retalho ao surto epidémico do novo coronavírus e foi organizado pelos grupos de defesa dos direitos dos trabalhadores United for Respect, New York Communities for Change e Make the Road New York, informa a TeleSur.

«"Estamos a protestar porque a Amazon está a pôr os seus lucros à frente da nossa segurança"»

De acordo com o United for Respect, pelo menos 300 funcionários anunciaram que iriam ficar em casa. Acusam a Amazon de não ter fornecido máscaras suficientes aos empregados, de não ter implementado as medições regulares de temperatura que prometeu e de se ter recusado a pagar aos trabalhadores baixa por doença.

«Estamos a protestar porque a Amazon está a pôr os seus lucros à frente da nossa segurança», disse Jaylen Camp, trabalhador num armazém da Amazon em Romulus (Michigan) e membro do United for Respect, ao The Guardian. «Nós não somos fundamentais para eles – eles apenas pensam em nós como números e quotas. Não estão a proteger a nossa saúde», frisou.

«[A Amazon] prepara-se para anunciar o que se espera serem lucros-recorde num quadrimestre»

Os protestos têm lugar numa empresa cujos lucros têm vindo a aumentar em função dos pedidos crescentes de entregas ao domicílio, no meio da pandemia, e que, segundo o jornal inglês, se prepara para anunciar o que se espera serem lucros-recorde num quadrimestre.

A contestação vai continuar até haver alterações nas medidas de protecção da empresa, afirmam os trabalhadores. Segundo os números divulgados pelo United for Respect, há trabalhadores infectados com o novo coronavírus em mais de 130 armazéns, por todo o país, sendo que, em alguns, se registam mais de 30 casos confirmados.

Em defesa dos direitos, da saúde e contra a repressão

Entre as exigências dos funcionários contam-se o «encerramento imediato» de instalações da empresa com casos de Covid-19, a realização de testes de despistagem e duas semanas de salário nesse período.

A Amazon prometeu pagar baixa médica aos trabalhadores a quem tivesse sido detectado o vírus ou aos que estivessem de quarentena, mas estes afirmam que tem sido difícil receber a baixa, e alguns têm ido trabalhar doentes, com febre, denunciou o United for Respect.

Os trabalhadores exigem ainda que a Amazon deixe de exercer represálias sobre os funcionários que denunciam situações e defendem os direitos dos seus colegas, sendo que a empresa detida pelo milionário Jeff Bezos é acusada de repressão sobre os trabalhadores que se organizam.

«"Se não fizermos nada, continuaremos a ser tratados como números, gráficos e dividendos, e não como pessoas"»

Este mês, registaram-se protestos nos estados de Nova Iorque, Illinois e Michigan. O trabalhador que organizou a acção em Nova Iorque foi despedido, revela o The Guardian.

Outra exigência dos trabalhadores passa pela eliminação das quotas, de acordo com as quais um funcionário tem de registar um certo número de items e embalar um certo número de caixas por hora.

Se, por um lado, a Amazon pede aos trabalhadores que lavem as mãos durante 20 segundos depois de espirrarem, por outro, estas quotas não lhes dão tempo para se lavarem e manterem seguros, diz Jaylen Camp, do United for Respect.

«Tem de se dizer alguma coisa sobre o que se está a passar», sublinha. «Se não fizermos nada, continuaremos a ser tratados como números, gráficos e dividendos, e não como pessoas», diz.

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Tanto o sindicato do sector dos grandes armazéns, da venda por atacado e a retalho como outras vozes vieram a público sublinhar que se tratou apenas do «primeiro round», que a luta vai continuar e que os trabalhadores, que foram alvo de «intimidação e pressões», não vão desistir.

Em resposta aos resultados, o RWDSU salientou os «métodos de ataque aos sindicatos» e a «interferência constante» por parte da Amazon, que não só «limitou de forma significativa a actividade pró-sindical», como «amplificou a propaganda contra os sindicatos». Num comunicado, o RWDSU anunciou que vai avançar com um processo contra a Amazon por «práticas laborais injustas».

A estrutura sindical quer «determinar se os resultados da eleição deviam ser postos de parte em virtude da conduta patronal, que criou uma atmosfera de confusão, coerção e/ou medo de represálias e assim interferiu na liberdade de escolha dos seus funcionários».

«A Amazon não se poupou a esforços para manipular»

«A Amazon não se poupou a esforços para manipular psicologicamente [gaslight] os seus funcionários», afirmou Stuart Applebaum, presidente do RWDSU. «Não vamos deixar sem resposta as mentiras, os enganos e as actividades ilegais da Amazon», acrescentou.

«Entre as medidas da empresa contam-se "uma bateria de e-mails e mensagens de texto enviados aos trabalhadores, a contratação de serviços de consultoria para "quebrar o sindicato" e até "obrigar os funcionários a assistir a palestras e sessões de grupo anti-sindicais"»

O sindicato reafirmou queixas anteriores relacionadas com a blitzkrieg (do alemão: guerra relâmpago) de anúncios anti-sindicais por parte do gigante do retalho electrónico, que passaram por uma bateria de e-mails e mensagens de texto enviados aos trabalhadores, a contratação de serviços de consultoria para «quebrar o sindicato» e até por «obrigar os funcionários a assistir a palestras e sessões de grupo anti-sindicais», refere a fonte.

Entre as maiores interferências no processo denunciadas pelo RWDSU, está o facto de a Amazon ter ignorado a decisão da NLRB de permitir a existência de uma urna – para os trabalhadores ali poderem colocar os seus votos – no armazém; em vez disso, a empresa autorizou que os serviços postais lá instalassem uma caixa. Para Applebaum, «eles fizeram isto porque lhes permitia intimidar claramente os trabalhadores».

«A luta não acabou»

Apesar dos resultados, muitos funcionários do armazém de Bessemer continuam a resistir e a mostrar vontade de levar a luta para a frente. Darryl Richardson, que foi o primeiro a chegar-se ao RWDSU, em 2020, no sentido de organizar sindicalmente os trabalhadores e deu origem a todo o movimento, escreveu no Twitter: «A luta não acabou, mais um round

Chris Smalls, um antigo funcionário da Amazon no armazém de Staten Island, em Nova Iorque, foi despedido por organizar (com sucesso) os trabalhadores em defesa de condições seguras durante a pandemia.

Agora, foi um dos que enviaram uma mensagem encorajadora aos trabalhadores de Bessemer, instando-os a não desanimarem e lembrando-lhes que, noutros locais, os trabalhadores se estão a organizar – em defesa de melhores condições de trabalho e contra turnos muito longos – numa empresa conhecida por tudo fazer para «quebrar» os sindicatos e a actividade sindical (union busting).

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