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Na cadeia produtiva do café há trabalho escravo

O Brasil é responsável por 1/3 da produção global de café, mas nem tudo é «aroma, sabor, intensidade e prazer». Há violações sistemáticas, que incluem formas contemporâneas de escravidão, denuncia a Conectas.

Conectas e ADERE-MG denunciaram o travo amargo do café brasileiro, com base em relatos de trabalho análogo ao escravo
Conectas e ADERE-MG denunciaram o travo amargo do café brasileiro, com base em relatos de trabalho análogo ao escravo Créditos / Conectas

As regiões Sul e Sudoeste de Minas Gerais respondem a metade da produção brasileira, fazendo deste estado o maior produtor nacional do grão. No entanto, uma «parte dessa produção é feita às custas de violações sistemáticas, que incluem formas contemporâneas de escravidão […], identificadas em 17 fazendas que passaram por fiscalização nos últimos quatro anos», alertava a Conectas Direitos Humanos em 2018.

Com base nos relatos de 37 trabalhadores resgatados, corroboradas por autos de infracção e relatórios de inspecção do Ministério brasileiro do Trabalho, a 21 de Agosto do ano passado a Conectas e a Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE-MG) apresentaram uma denúncia junto da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Numa peça hoje publicada no portal Brasil de Fato, Marques Casares, especialista em comunicação e semiótica, e director da agência Papel Social, centrada na investigação em cadeias produtivas, lembra que «seis multinacionais foram denunciadas por financiar trabalho escravo em fazendas de café no Brasil»: Nestlé, Jacobs Douwe Egberts, McDonald’s, Dunkin’ Donuts, Starbucks e Illy.

Além de «aroma, sabor, intensidade e prazer», a bebida «tem também algo que você paga, mas não gostaria de consumir: trabalho escravo, violência, descaso com seres humanos», critica.

Mais de um ano volvido sobre a denúncia, Casares conversou com um dos coordenadores da ADERE-MG, Jorge Ferreira dos Santos, tendo-lhe perguntado o que mudou desde então, «o que as empresas fizeram para evitar que o trabalho escravo continuasse contaminando os seus negócios».

«A situação está pior a cada dia. As empresas não fizeram nada», denuciou Ferreira dos Santos, que apontou, inclusive, uma degradação, sobretudo no que respeita à fiscalização dos órgãos de governo. «Sem fiscalização, nada vai mudar», alertou.

O silêncio e outras hipocrisias do sector

O autor defende que as empresas precisam de dar uma resposta, mas lembra que as multinacionais «têm por hábito fazer de conta que não é com elas quando o assunto é violação de direitos». Não deixa de se surpreender, além disso, com «a hipocrisia de organizações que deveriam enfrentar o problema e ajudar a denunciar, mas que fazem cara de paisagem, em troca do cheque que chega todos os meses, a título de "apoio" para enfrentar o trabalho escravo e outras violações dos direitos humanos».

Marques Casares alerta ainda para o facto de «as empresas que mais violam os direitos humanos s[erem] as que mais injectam dinheiro em organizações que poderiam denunciá-las». No sector do café, a última jogada de marketing chama-se Pacto Setorial para a Sustentabilidade Social do Café.

O nome é «belíssimo», mas «em nada avança para conter as violações na cadeia produtiva do café», que que afectam principalmente as mulheres trabalhadoras, que envelhecem e morrem nas lavouras, sem nenhum tipo de garantia social», afirma.

A título de exemplo, refere que a ADERE-MG, que fez a maior parte das denúncias de trabalho escravo no café, nem sequer foi convidada para participar do pacto referido. «Esse pacto foi criado para nos calar, para calar a voz dos trabalhadores do café. É uma jogada de marketing para favorecer as empresas. Nunca fomos chamados para o debate. É um pacto "para inglês ver", puro marketing», diz Jorge Ferreira dos Santos.

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