A 5 de Novembro de 2015, rebentaram os diques da Barragem do Fundão, uma das barragens com resíduos da exploração mineira da empresa Samarco, junto à localidade de Bento Rodrigues (Mariana, Minas Gerais), libertando uma torrente de 62 milhões de metros cúbicos de lama tóxica que destruiu fauna, flora e habitações ao longo de 650 quilómetros, na bacia do Rio Doce, que abrange mais de 200 municípios no Sudeste do Brasil.
A lama tóxica destruiu a localidade de Bento Rodrigues, matando pelo menos 19 pessoas (residentes e funcionários da Samarco), e afectou comunidades rurais na área da bacia hidrográfica do Rio Doce, entre Minas Gerais e o estado de Espírito Santo. As estimativas mais recentes apontam para o empobrecimento de cerca de 700 mil pessoas, em 43 municípios, devido ao impacto da ruptura e da destruição nos seus modos de vida.
Este desastre, tido como a maior catástrofe com excedentes de minério a nível mundial, foi também considerado «o maior crime ambiental da história do Brasil» – designado como o «crime da Samarco» – empresa controlada pelas accionistas Vale do Rio Doce e BHP Billiton.
Passados poucos mais de três anos – a 25 de Janeiro de 2019 –, rebentaram os diques da barragem Mina Córrego do Feijão, também da Vale, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte e mais conhecida por Barragem do Brumadinho. A ruptura provocou a morte de 179 pessoas, na sua grande maioria soterradas pela avalanche de lama tóxica. Mais de cem continuam desaparecidas.
MST na linha da frente, com o povo
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) tem estado na «linha de frente», com o povo, para garantir que haja Justiça e que «a Vale pague pelo seu crime», e reforçando o seu projecto de reforma agrária nas áreas atingidas. Bruno Diogo, do MST de Minas Gerais, falou à Página do MST a propósito disto e da intenção do movimento de reflorestar 5000 hectares nos assentamentos da bacia do Rio Doce.
Questionado sobre o principal problema que as famílias do MST atingidas pela Barragem do Fundão enfrentam, Diogo afirmou que o processo de recuperação e reparação dos danos ambientais, económicos «não poderia ser tão moroso», uma vez que as famílias atingidas têm «extrema pressa» em recuperar as suas formas de rendimento e de trabalho.
No que respeita ao processo de luta do MST contra a Vale, Bruno Diogo disse que «estes últimos cinco anos foram de muitas marchas, actos políticos e ocupações de áreas improdutivas em terras das empresas mineradoras». A Vale é a empresa com maior responsabilidade nos crimes ocorridos nas barragens, acusou, alertando que novas barragens podem rebentar no estado de Minas Gerais, um vez que «estão em risco iminente».
Questionado sobre o papel do Brasil no sector do minério e sobre a relação deste papel com as rupturas dos diques de barragens, Diogo disse que «o Brasil governado por Bolsonaro não tem perspectiva de desenvolvimento económico que favoreça a indústria nacional. Voltámos ao passado, quando éramos colónia e apenas exportávamos produtos primários». Em seu entender, «a exportação de commodities do agronegócio e do minério de ferro apenas deixa o ónus social e ambiental para o povo brasileiro», tratando-se de um «modelo de dependência de exportação de produtos sem agregação de valor [que] só garante os lucros a uma pequena parcela de empresários». Para o povo trabalhador, sobram o desemprego e os crimes ambientais, acusa.
Sublinhando que as principais reivindicações do MST, nos territórios atingidos, se centram na consolidação da reforma agrária popular, Bruno Diogo explicou que o movimento tem uma proposta de substituição à mineração, que passa pela divisão das terras e a produção agroecológica.
«Propomos substituir o minério por comida sem agrotóxicos. Propomos substituir a extracção de minério pelo trabalho das famílias camponesas. Propomos substituir a abertura de novas cavas e construções de barragens pela implantação de sistemas produtivos que conciliam o plantio de árvores com a produção de alimentos, como é o caso das agroflorestas», frisou.
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