A investigação, ainda não publicada e a que a agência cubana teve acesso, analisa o apoio declarado de vários órgãos de comunicação, com uma linha marcadamente de direita, ao golpe e ao governo golpista que se lhe seguiu.
Os dois jornalistas mostram que determinados diários assumiram uma linha de activismo político a favor das acções violentas levadas a cabo pela direita boliviana, apoiada por militares e polícias, para tirar do poder o presidente Evo Morales e o Movimento para o Socialismo (MAS).
Na sequência da renúncia de Morales, instalou-se no país andino-amazónico um governo ilegítimo liderado pela autoproclamada Jeanine Áñez, que essa imprensa apoiou fervorosamente desde o início, com o propósito de o legitimar e de neutralizar qualquer crítica ao modo como foi constituído.
Bejerano e Molina referem a campanha sistemática que um desses diários em particular empreendeu para eliminar as ligações de Áñez ao golpe de Estado, bem como as tentativas repetidas de criminalizar a oposição, sobretudo o MAS, e de apresentar a acção do novo governo como pacificadora, num país que a direita tinha mergulhado no caos e na violência.
Justificação da repressão
O apoio mediático ao governo golpista chegou ao ponto de justificar sistematicamente a repressão e a perseguição política, apontam os investigadores, que dão como exemplo a cobertura dos massacres de Senkata e Sacaba, nos quais, de acordo com as conclusões preliminares de uma comissão parlamentar, foram mortas pelo menos 37 pessoas que exigiam democracia e o regresso de Evo Morales, que se exilou no México e depois na Argentina.
De acordo com o estudo – a que a Prensa Latina teve acesso –, em ambos os casos o discurso da comunicação social vitimizou as forças de segurança, procurando fazer crer que, ao dispararem, estavam a responder ao fogo dos manifestantes.
«Não faleceram polícias nem militares em Sacaba», esclarecem os autores do estudo, referindo que um jornal, num artigo intitulado «Fuego cruzado entre cocaleros y FF.AA. deja al menos seis muertos», afirmou sem provas que os manifestantes tinham «armas de fogo e outros objectos letais».
No que respeita a Senkata, em El Alto, os órgãos de comunicação deram conta, igualmente sem provas, da utilização de dinamite por parte dos grevistas, para assim justificarem o uso da força contra um acto de terrorismo e um atentado.
Outro exemplo do apoio da comunicação social dominante ao governo golpista foi a cobertura quase nula dos grandes protestos anti-governamentais que foram ocorrendo ao longo do ano. Os principais canais de TV, que deram ampla cobertura aos protestos contra a alegada fraude do MAS nas eleições de 2019 (uma versão, hoje, mais que desmontada), deram curtas informações sobre as manifestações anti-Áñez, refere a agência cubana com base na investigação.
Em muitos casos, referem Susana Bejarano e Fernando Molina, descreveram os protagonistas das manifestações como membros de «hordas» e «turbas», visando minimizar o impacto das mobilizações e apontá-los como «inimigos da ordem e da constitucionalidade».
A Prensa Latina não indica se o estudo se detém na «secção internacional» da cobertura mediática, que mereceria extensas e aprofundadas abordagens.
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