Estas revelações foram feitas por Hiba Masalha, um advogado do Comité Palestiniano dos Assuntos dos Presos que visitou recentemente vários jovens palestinianos sob custódia israelita. O conjunto de testemunhos que reuniu constitui o relatório mais recente dos vários que, ao longo dos anos, recolhem casos bem documentados de abusos e maus-tratos a crianças e adolescentes palestinianos por forças israelitas, noticia a agência Ma'an.
Num comunicado emitido este sábado pelo comité, Masalha refere o caso de Muhammad Abd al-Hafith Atiyeh, de 15 anos, residente no bairro de Issawiya, em Jerusalém Oriental ocupada, que foi preso em sua casa na madrugada de 19 de Abril último, depois de «um grande número de tropas israelitas e membros dos serviços secretos» ter chegado pelas 3h e revistado a casa.
Nessa noite, outros 31 palestinianos, na sua maioria menores, foram detidos em Issawiya, no âmbito de uma campanha de detenções que as forças israelitas intensificaram nos bairros de Jerusalém Leste.
No testemunho recolhido, Atiyeh afirma: «Depois de ser algemado e levado para fora de casa», os soldados israelitas «agrediram-me violentamente, com as mãos, com paus, com as espingardas, e deram-me pontapés na cabeça e na barriga». Atiyeh disse que, em seguida, foi metido num veículo militar, entre dois soldados, com a cabeça para baixo. «Sempre que me mexia, eles batiam-me na cara», disse.
O jovem foi levado para um centro de detenção em Jerusalém Ocidental, e, de acordo com Masalha, foi obrigado «a ajoelhar-se com a cara no chão e as mãos algemadas atrás das costas durante dez horas».
O relatório refere muitos outros casos, como o de Muhammad Arafat Ubeidat, de 16 anos, residente no bairro de Jabal al-Mukabbir, em Jerusalém Oriental, e que foi detido em sua casa, às três da madrugada, a 19 de Maio último, depois de a Polícia e soldados israelitas terem invadido a sua casa.
Um comandante pediu a Ubeidat que assinasse um documento em hebraico e árabe a garantir que «ninguém lhe tinha batido ou agredido». Depois de assinado o documento, os soldados algemaram-no atrás das costas e meteram-no numa viatura militar.
O adolescente foi obrigado a fazer a viagem de cabeça para baixo, entre dois soldados, que «lhe batiam com os cotovelos e o esbofeteavam repetidamente». Ubeidat foi levado para o mesmo centro de detenção que Atiyeh, em Jerusalém Ocidental, onde foi interrogado durante seis horas, até à meia-noite, com as mãos e os pés presos à cadeira.
Durante o interrogatório, o jovem foi insultado e esbofeteado continuamente, e instado «admitir as acusações» [sobre factos que não cometeu]. Ubeidat passou 14 dias numa cela, sem qualquer acusação formada, período durante o qual foi submetido a 17 sessões de interrogatório. Nalguns dias, disse o jovem, tinha de enfrentar três ou quatro sessões. Foi depois enviado para a prisão israelita de Megiddo.
Mais acusações contra Israel
O relatório de Masalha, divulgado este sábado, surgiu dois dias depois de a Sociedade dos Presos Palestinianos ter emitido um comunicado em que denunciava os maus-tratos infligidos aos prisioneiros palestinianos na cadeia israelita de Etzion. Um dos casos denunciados refere choques eléctricos aplicados a um preso de 16 anos.
No mês passado, a organização Defense for Children International – Palestine (DCIP) divulgou um relatório em que apontava casos bem documentados de maus-tratos a crianças israelitas, por parte das forças israelitas, e no qual se denunciava a prática de interrogatórios duros com o objectivo de obter confissões forçadas – algo que, refere a Ma'an, a comunidade internacional há muito critica.
Interrogatórios até 90 dias
De acordo com o grupo de direitos dos presos Addameer, os interrogatórios às crianças palestinianas podem durar até 90 dias, durante os quais os menores são frequentemente colocados em situação de isolamento, ameaçados, espancados e abusados sexualmente. Também são reportados com frequência casos de «confissões arrancadas à força» e, neste âmbito, o facto de os documentos das confissões que os jovens são obrigados a assinar estarem redigidos em hebraico – uma língua que a grande maioria das crianças palestinianas não domina.
O Comité Palestiniano dos Assuntos dos Presos informa que as forças israelitas prenderam, desde o início do ano, 560 crianças só em Jerusalém Oriental ocupada. Destas, 110 continuam encarceradas em cadeias israelitas, incluindo quatro raparigas e dez rapazes em centros de detenção juvenis.
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