O presidente Trump argumentou que o acordo, assinado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, Rússia, China, França e Reino Unido), pela Alemanha, pela União Europeia e pelo Irão, em Julho de 2015, «falhou em travar as ambições nucleares» do país persa.
Trump assinou um memorando que repõe «de imediato» as sanções económicas que tinham sido retiradas após o acordo, como explicou o Conselheiro para a Segurança Nacional, John Bolton, um dos mais exuberantes partidários de um confronto com o Irão.
EUA querem bloqueio económico global
Com a medida, os EUA pretendem estrangular a economia iraniana, através de um autêntico bloqueio que atinge igualmente as empresas estrangeiras que tenham presença ou negócios com o Irão. Caso mantenham ligações a Teerão, como acontece com a petrolífera francesa Total ou com os fabricantes automóveis Renault e Peugeot, de acordo com a Vox, serão também sujeitos a sanções pelas autoridades norte-americanas.
Apesar do carácter unilateral da decisão de Trump, todos os restantes signatários do acordo reafirmaram o compromisso firmado em 2015 e lamentaram a retirada dos EUA. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean Yves Le Drian, anunciou ainda um encontro com os homólogos alemão e britânico para discutir as consequências económicas do anúncio norte-americano para a próxima segunda-feira, informa a Telesur.
Isolamento na denúncia do acordo
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, também expressou a sua «profunda preocupação» com a retirada dos EUA do acordo e apelou ao cumprimento das suas disposições pelos restantes signatários.
Também a China e a Rússia afirmaram que o acordo continua em vigor e assumiram o compromisso com o seu cumprimento, segundo a Al Jazeera. A defesa do acordo e da sua importância para a estabilização e a paz na região, assim como para garantir a não-proliferação de armas nucleares, foi corroborada pelo presidente francês, que expressou a posição dos três signatários europeus, através do twitter.
Só a aliança israelo-saudita celebra
As únicas reacções positivas ao anúncio de Donald Trump chegaram das potências regionais que têm apostado numa escalada com o Irão: Israel e Arábia Saudita. Tanto Benjamin Netanyahu como o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita saudaram a reposição do bloqueio económico. Recorde-se que o primeiro-ministro israelita foi protagonista de uma conferência de imprensa polémica a 30 de Abril, em que apresentou alegadas provas de que o Irão estaria a desenvolver armas nucleares, violando o acordo.
No entanto, essas provas foram descredibilizadas pela Agência Internacional de Energia Atómica, que já em 2009 não encontrou evidências de que o programa nuclear iniciado em 2003 ainda estivesse activo, relatou o jornal israelita Haaretz.
Irão exige «garantias» e diz que foram os EUA quem violou o acordo
Na sua reacção, o presidente da República Islâmica do Irão, Hassan Rouhani, afirmou que o seu país sempre cumpriu com os seus compromissos, ao contrário dos norte-americanos, em declarações emitidas pela PressTV.
De acordo com a agência noticiosa iraniana Fars, o presidente do Comité Nuclear do parlamento, Mojtaba Zonnour, anunciou uma inciativa legislativa para garantir que os restantes países se mantêm comprometidos com o acordo. Caso contrário, o governo deve aumentar a sua produção de urânio enriquecido – uma possibilidade que estará já a ser preparada pela agência governamental responsável, segundo revelou o presidente Rouhani.
Um falcão no topo da administração norte-americana
A decisão surge poucos dias depois da assinatura da histórica Declaração de Panmunjon pelos líderes coreanos, na qual o Norte e o Sul se comprometeram com a desnuclearização e a paz na Península Coreana, e menos de dois meses depois da nomeação de John Bolton como um dos principais conselheiros de Donald Trump.
Há mais de uma década que Bolton defende o «bombardeamento preventivo» do Irão, na linha da doutrina que levou às invasões do Afeganistão e do Iraque. No final de Fevereiro, menos de um mês antes de ser nomeado Conselheiro para a Segurança Nacional, John Bolton defendeu um ataque norte-americano na Península da Coreia, num artigo de opinião no The Wall Street Journal.
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