No dia 24 de Março deste ano, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, assinou o decreto 117/2021 no qual determina que a política oficial do seu regime é a de «reconquistar» a Crimeia à Rússia; e identifica o porto de Sebastopol como alvo prioritário desta estratégia. A iniciativa foi acompanhada pelo transporte de avultados meios de guerra, incluindo comboios de tanques, em direcção ao Leste ucraniano, a região onde Kiev tem mantido um cerco e actos de guerra contra as populações civis, essencialmente a cargo de unidades militares e paramilitares nazis.
A decisão de Zelensky provocou uma reacção simétrica por parte da Rússia: reforço das capacidades militares na Península da Crimeia e nas imediações da fronteira oriental da Ucrânia. A comunicação social corporativa, sobretudo a «de referência», só conta esta parte da história, encaixando-a na narrativa da «agressão russa». Para se ter uma noção da real gravidade da situação, porém, é necessário conhecer o cenário completo.
«os jogos de guerra “Defender Europe 2021» [envolvem] 40 mil efectivos de 25 países europeus, norte-americanos e africanos para «demonstrar a capacidade dos Estados Unidos em ser um parceiro estratégico nos Balcãs, Mar Negro, no Cáucaso, Ucrânia e em África”»
Volodymyr Zelensky não retirou o decreto da sua cartola porquesimplesmente lhe apeteceu ou porque o considere como a mais aconselhável maneira de desviar as atenções da caótica situação interna em que o golpe Euromaidan mergulhou a Ucrânia desde 2014. As circunstâncias demonstram que este ex-comediante de TV transformado em presidente está sob o controlo directo de Richard Moore, chefe dos serviços secretos britânicos MI6, que o recebe em Londres e dirige pessoalmente o cumprimento do guião belicista que ele próprio traçou para ser cumprido a partir de Kiev. Esta ligação foi demonstrada pela televisão Rossiya 1 e está, naturalmente, associada à integração da Ucrânia, do Mar Negro e das regiões bálticas em geral nas gigantescas manobras militares da NATO «Defender Europe 21» que estão a decorrer até finais de Junho.
Moore foi antigo embaixador britânico na Turquia, pelo que terá facilitado os contactos entre Erdogan e Zelensky, que têm recentes desenvolvimentos terroristas na região do Mar Negro.
Zelensky tem, portanto, as costas bem quentes. Por isso, o seu chefe de Estado-Maior, o general Ruslan Komchak, anunciou que se «prepara para realizar uma ofensiva na Ucrânia Oriental», operação essa em que «está prevista a participação de membros da NATO». Será?
Ao que a NATO tem respondido, sobretudo durante reuniões efectuadas em meados de Abril em Bruxelas, que está ao lado do regime ucraniano na sua defesa da «integridade» do país – declaração curiosa de uma aliança que se dedica a desintegrar países: Jugoslávia, Iraque e Líbia falam por si.
«Integridade» da Ucrânia significa, neste contexto, o regresso da Crimeia à soberania de Kiev e o reforço da repressão contra as populações russófonas das províncias da região do Donbass – Donetsk e Lugansk – que não reconhecem o regime de base nazi nascido do golpe de 2014. Foi precisamente para evitar uma situação de repressão militar como a que vigora no Donbass que a população da Crimeia votou massivamente em referendo a sua reintegração na Rússia, da qual fora separada por acto administrativo assumido nos anos cinquenta do século passado pelo dirigente soviético Nikita Krushchov.
Acontecimentos vertiginosos
Quando Zelensky assinou o decreto que espoletou a situação em desenvolvimento no terreno e nas chancelarias, o secretário da Defesa norte-americano e chefe do Pentágono, Lloyd Austin, declarou o «apoio inabalável dos Estados Unidos à soberania da Ucrânia». Washington sinalizou assim que não se tratou de um acto isolado do chefe do regime ucraniano e que existe uma interrelação entre o decreto presidencial e a invasão do Mar Negro e da Ucrânia pela NATO sob a cobertura dos jogos de guerra «Defender Europe 2021». Exercícios estes envolvendo 40 mil efectivos de 25 países europeus, norte-americanos e africanos para «demonstrar a capacidade dos Estados Unidos em ser um parceiro estratégico nos Balcãs, Mar Negro, no Cáucaso, Ucrânia e em África».
Ninguém no seu perfeito juízo iria supor que a Rússia ficaria impávida e serena perante tais acontecimentos. Pelo que estamos a viver as incidências de uma inquietante provocação montada para apresentar as medidas defensivas adoptadas por Moscovo como uma evidência da «agressão russa».
Dado o sinal por Austin, os acontecimentos tornaram-se vertiginosos.
No dia 6 de Abril, o chefe do regime de Kiev telefonou ao secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, para lhe testemunhar que «a NATO é a única maneira de terminar com a guerra no Donbass» e, portanto, a «sua presença deve ser permanente e um poderoso travão à Rússia, que continua a militarização em larga escala e dificulta as movimentações de navios mercantes».
Em 10 de Abril, Zelensky foi recebido em Istambul pelo «sultão» Erdogan, como já se percebeu por intercessão directa do chefe do MI6. Na sequência do encontro, 150 soldados turcos foram deslocados para Mariupol, cidade ucraniana do Mar Negro, de modo a enquadrar o contingente de mercenários «islâmicos» que os serviços secretos turcos (MIT) estão a recrutar sobretudo em Idlib, na Síria, para combater na Ucrânia tal como têm feito na Líbia e no Azerbaijão.
Em Mariupol encontra-se também a chamada Brigada Islâmica Internacional que a Turquia criou recorrendo a mercenários tártaros.
Antes de se avistar com o presidente turco, Volodymyr Zelensky tinha feito um acordo com o Qatar sobre o arrendamento de um porto no Mar Negro, precisamente Mariupol. O Qatar tem sido um dos países que fornece forças especiais para processos susceptíveis de envolver intervenções da NATO, como aconteceu na Líbia.
A «contenção» de Kiev
Em 13 de Abril reuniu-se em Bruxelas a Comissão NATO-Ucrânia, para avaliar «o estado da segurança» neste país; o ministro dos Negócios Estrangeiros de Kiev, Dmytro Kauleb, informou sobre «os últimos desenvolvimentos» e a oportunidade serviu para o chefe de Estado Maior Komchak reafirmar o lançamento da «ofensiva na Ucrânia Oriental». Os participantes na reunião comprometeram-se a assegurar a «integridade territorial» da Ucrânia, acusaram os «rebeldes do Leste» de «quebrar o cessar-fogo» e a Rússia de reforçar os dispositivos militares, sobretudo na Crimeia. Exigiram a «retirada militar russa da Ucrânia», isto é, da Península da Crimeia – território russo.
Em declarações à imprensa, esta terça-feira, um porta-voz do Kremlin sublinhou ainda que a integração da Ucrânia na NATO não será aceite pela população do Donbass e só irá exacerbar a crise. A Rússia não vê sinais de que Kiev queira abandonar a «retórica belicosa», «acalmar-se de alguma forma» e assumir o controlo das Forças Armadas da Ucrânia na linha de contacto no Donbass, que «frequentemente são a causa de provocações» nessa parte do Sudeste do país, disse ontem à imprensa Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, citado pela TASS. Numa visita à Índia, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, afirmou que a Rússia espera que os países ocidentais pressionem a Ucrânia no sentido de cumprir o Acordo de Minsk sobre a guerra no Donbass, alcançado em Fevereiro 2015 entre a Ucrânia, a Rússia, a França e a Alemanha. O cenário de guerra continua a aprontar-se nas fronteiras da Rússia. A provocação de domingo passado já fez o seu caminho, mas outras poderão promover novos passos para uma situação incontrolável. Os acontecimentos em curso no Estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov, têm que se lhe diga. É que, muito para lá do óbvio carácter provocatório do comportamento do regime neonazi da Ucrânia, está a cumprir-se uma agenda secreta menos óbvia e potencialmente mais perigosa do que os factos a que vamos assistindo. Até onde nos levará este caminho? Sem fazer futurologia, poderemos fazer uma ideia repescando antecedentes, identificando protagonistas e antecipando desenvolvimentos, alguns dos quais estão inscritos no calendário. Dois navios militares e um rebocador ucranianos dirigiam-se no domingo passado ao Estreito de Kerch, em rota do Mar Negro para o Mar de Azov, ao que parece com destino à cidade de Mariupol, quando foram interceptados a tiro por navios russos. Registaram-se três feridos sem extrema gravidade, os barcos foram apresados, os tripulantes detidos. Mais uma malfeitoria da Rússia do inqualificável Putin, informa, a uma só voz, a comunicação social mainstream, sem dar-se ao trabalho de aprofundar minimamente a situação. Nem é preciso. De acordo com os dogmas estabelecidos, o regime da Ucrânia é neonazi mas “democrático”, goza das boas graças de entidades acima de quaisquer suspeitas como a União Europeia e a NATO; e a Rússia é a Rússia, fica tudo dito. Mas aprofundemos a situação por nossa conta e risco. Está comprovadíssimo que: - Os navios militares ucranianos receberam advertências russas por rádio informando as tripulações de que o estreito estava fechado por razões de tráfego e segurança; - Os comandantes das três embarcações fizeram-se de surdos em relação aos avisos: “ignorámos deliberadamente os pedidos russos para não avançarmos mais”, confessou o comandante Volodymir Lesovoy; - Os navios ucranianos transportavam armamento e munições: armas ligeiras e armas automáticas de grande calibre, de acordo com a mesma confissão; - A bordo seguiam agentes dos serviços militares de espionagem (SBU), segundo revelou o director desta entidade, Vasyl Hrytsak; - “Estava consciente de que as acções da Marinha Ucraniana no Estreito de Kerch eram provocatórias”, afiançou ainda o comandante Lesovoy.1 Foi, portanto, um dos responsáveis ucranianos envolvidos na operação quem a qualificou: “uma provocação”. É muito importante conhecer o contexto geográfico e geopolítico em que este incidente ocorre. A Rússia e a Ucrânia partilham águas territoriais tanto no Mar Negro como no Mar de Azov segundo normas estabelecidas por um acordo bilateral estabelecido em 2003. A situação, porém, alterou-se a partir do golpe de Estado fascista na Ucrânia, em 2014, seguido pela reintegração da Crimeia na soberania russa, conforme decisão tomada por grande maioria, em referendo, pela população da península. Uma vez que a Crimeia se tornou território russo, a segurança do Estreito de Kerch passou a ser assumida por Moscovo, pela aplicação automática dos artigos 19 e 21 da Lei Internacional Marítima. Foi neste âmbito que as autoridades russas pediram aos navios ucranianos para não avançarem, uma vez que tinham encerrado temporariamente a passagem devido a manobras de tráfego e à segurança da nova ponte que, desde o início deste ano, liga o território continental russo à Península da Crimeia. Deve dizer-se que, apesar do agravamento das tensões entre os dois países vizinhos, sobretudo a partir de 2014, os navios ucranianos, tanto civis como militares, têm passado normalmente o Estreito de Kerch segundo as normas internacionais, neste caso aplicadas através de meios russos. No entanto, assim como não reconhece a reintegração da Crimeia na Rússia, a Ucrânia não aceita agora que a segurança no Estreito de Kerch seja garantida por Moscovo, ponto de partida para a violação da Lei Marítima Internacional por parte de Kiev. Uma situação que não tinha antecedentes, apesar de, repete-se, as relações entre a Ucrânia e Moscovo se terem deteriorado sobretudo a partir de 2014. Pelo que é legítimo registar que alguma coisa determinou a mudança de comportamento da Ucrânia. É certo que durante todo este ano foram observados sinais de que as tensões estavam a aumentar na região do Mar de Azov. Um navio de pesca russo, registado na Crimeia, foi apresado e a sua tripulação humilhada no dia 24 de Março. As autoridades ucranianas recusaram-se a tratar os tripulantes como cidadãos estrangeiros e, depois de maus tratos psicológicos e físicos, acabaram por permitir que seguissem para a península mas confiscando-lhes os passaportes, atitude que viola normas internacionais. Em Outubro, outra embarcação russa, desta feita um petroleiro, foi retida no porto ucraniano de Khersen. O clima regional deteriorou-se, principalmente, a partir da inauguração da ponte ligando o território continental russo à Crimeia, sobre o Estreito de Kerch, uma obra que reforçou a agressividade da Ucrânia face à irreversibilidade da mudança de soberania da península. Embora as tensões tenham vindo a convergir em torno das normas de passagem do Estreito de Kerch, registaram-se outros acontecimentos de âmbito mais geral e regional que devem ser encarados à nova luz projectada pelo incidente de domingo passado. Um deles foi a decisão do Tribunal Constitucional de Kiev no sentido de alterar a Constituição do país de modo a abrir caminho para a integração na União Europeia e na NATO. O procedimento nada tem de surpreendente – a NATO e a União Europeia fomentaram o golpe que facilitou este passo – mas causa fissuras no tecido político e demográfico do país, além de ultrapassar mais uma linha vermelha em relação às posições russas quanto à instalação da NATO nas suas fronteiras. No dia 7 de Novembro, o governo da Ucrânia aprovou a Resolução 934 que produz alterações às normas sobre a aplicação da lei marcial, nomeadamente no que diz respeito à evacuação obrigatória de populações e à definição de categorias populacionais para estabelecer o modo como deve decorrer o processo. Em particular, o documento estipula “as tarefas e funções do comando militar, ministérios, outras autoridades executivas centrais, órgãos estaduais e órgãos de evacuação temporária para a implementação de medidas de um regime legal de lei marcial”. Em suma, nos últimos meses vêm-se registando alguns acontecimentos na Ucrânia, sobretudo este cuidado especial com a actualização da lei marcial, reveladores de que os acontecimentos no Estreito de Kerch não surgem do nada, encaixando-se antes numa cadeia de premeditação propícia a criar um incidente específico – “uma provocação”, como confessou o comandante Volodymir Lesovoy. A situação internacional e regional actual abre várias pistas sobre a razão de ser e a utilidade deste episódio. 8% expectativa de Poroshenko nas sondagens para as próximas eleições presidenciais na Ucrânia, antes do incidente de Kerch A imposição da lei marcial é uma delas – e já foi consumada. Através desta decisão, o presidente da Ucrânia e a estrutura nazi-fascista que o envolve, com pólo no Batalhão Azov e respectivas ramificações, ficam de mãos livres para prosseguir o seu caminho no sentido da pretendida instauração plena de uma ditadura, sempre a pretexto do combate à “ameaça russa”. Confrontado com eleições marcadas para Março de 2019 e creditado pelas sondagens nuns minguados oito por cento de popularidade, o presidente Piotr Porochenko só tem a ganhar em consagrar-se o mais rapidamente possível como comandante-em-chefe de uma nação em estado de guerra contra um inimigo poderoso. A partir de agora, e pelo menos até finais de Janeiro – estas situações são facilmente prorrogáveis –, o presidente pode ilegalizar partidos, reforçar a censura à comunicação social, aterrorizar estratos populacionais com invasões de residências, prisões arbitrárias e confiscação abusiva de materiais. E também reforçar a ofensiva militar e a repressão de índole fascista sobre as populações da região de Donbass, sobretudo Donetsk e Lugansk. Quem sabe se Porochenko não conseguirá mesmo evitar as eleições presidenciais, facilmente adiáveis como prorrogáveis são os estados de excepção, desde que continue nas boas graças do Batalhão Azov cumprindo a sua agenda fascista? «A partir de agora, e pelo menos até finais de Janeiro – estas situações são facilmente prorrogáveis –, o presidente pode ilegalizar partidos, reforçar a censura à comunicação social, aterrorizar estratos populacionais com invasões de residências, prisões arbitrárias e confiscação abusiva de materiais» Este facto não fere, como não feriu em 2014, as férreas convicções “democráticas” da União Europeia e da NATO, que já garantiram estar sempre do lado da Ucrânia, como disse alto e bom som o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg; ou como fez o próprio Conselho de Segurança da ONU, ao tomar o partido de Kiev quanto ao processo de discussão do incidente do Estreito de Kerch. Palavras e actos que, em nível subliminar, contemplam respostas aos apelos menos diplomáticos feitos pelo ex-comandante da NATO James Stavridis – “metam o Putin na ordem!” – e pelo embaixador ucraniano em Berlim, Andrij Melnik - “ponham o Putin no lugar!” Melnik pediu ainda mais: novas sanções contra a Rússia, a que Trump e Bruxelas se preparam para fazer a vontade; bloqueio de todas as importações de gás natural e petróleo da Rússia e “congelamento” do gasoduto NordStream 2, que tem início em território russo e termo na Alemanha. Este assunto já fia mais fino: a senhora Merkel parece não estar pelos ajustes e muitos governos europeus não estarão dispostos a pagar a energia a preços descomunais por causa de três tiros num barco de dois canos nos apertos da entrada do Mar de Azov. A situação tem ainda, obviamente, outras repercussões latentes, relacionadas com o previsto diálogo entre Trump e Putin, à margem da próxima reunião do G20. De Bruxelas a Washington há muita gente que não deseja encontros entre os dois presidentes, por causa do mito segundo o qual o dirigente russo “mete no bolso” o norte-americano. E o estado a que as coisas chegaram pode fazer-lhes a vontade; ou, pelo menos, concentrar na falsa questão ucraniana as palavras que deveriam dedicar-se a problemas reais como a Síria e a Península da Coreia, por exemplo. Agora com poderes reforçados, o presidente Porochenko já pediu mais navios de guerra da NATO para o Mar Negro; e a Rússia, pelo sim pelo não, vai despachar sistemas defensivos S-400 para a Península da Crimeia. Isto é, o cenário de guerra continua a aprontar-se nas fronteiras da Rússia; e se a provocação de domingo passado já fez o seu caminho, outras poderão promover novos passos para uma situação incontrolável. Com a Europa “democrática” e a aliança militar “democrática” encorajando, dando força e cobrindo sempre a Ucrânia fascista como sua ponta de lança. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Kiev passou da crítica ao quadro político para resolver a crise no Donbass para ameaças de acção militar e espero que (...) as capitais europeias exijam que [o presidente ucraniano] Zelensky implemente o Acordo de Minsk», disse Lavrov, citado pela TeleSur, no final de uma reunião com o seu homólogo indiano, Subrahmanyam Jaishankar. Por seu lado, o ministro ucraniano para os territórios temporariamente ocupados, Alexey Reznikov, disse ao canal ICTV que Kiev não enviará delegados a Minsk quando forem retomadas as consultas do Grupo de Contacto Trilateral (integrado por Rússia, Ucrânia e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa – OSCE). Reznikov advogou a busca de «uma cidade e de um país diferentes», argumentando que «a Bielorrússia está sob influência da Rússia» e «não tem confiança» nela. A tensão entre ambos os países agudizou-se depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter aprovado um decreto que visa a recuperação da Crimeia, reintegrada na Rússia após o referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado fascista em Kiev, com a decisão favorável da esmagadora maioria da população do território. Moscovo enviou tropas para a fronteira com a Ucrânia e acusou Kiev de ter levado a cabo «múltiplas» acções de provocação na «linha de separação» com as forças militares das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no Donbass. Ambas as partes se acusaram de violações do cessar-fogo e pela escalada do conflito. Peskov recordou esta terça-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, manteve há alguns dias uma conversa com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, Emmanuel Macron, na qual expôs as preocupações de Moscovo com a situação na Ucrânia e, em particular, com as acções do país vizinho para agravar o cenário de conflito no Sudeste. Em declarações à imprensa, Dmitry Peskov disse ainda que o Kremlin tem sérias dúvidas de que a adesão da Ucrânia à NATO a ajude a lidar com os seus problemas internos, tendo sublinhado que, com esse passo, Kiev só irá agravar «a crise», uma vez que a ideia da integração na NATO é «profundamente inaceitável» para os milhões de pessoas que vivem nas autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, refere a TASS. O aviso do Kremlin sobre o reforço das fronteiras russas ocorre depois de Kiev se ter referido à «postura pró-activa» dos EUA no «apoio à soberania» e «restauração da integridade territorial» ucraniana. Moscovo alertou que não irá ficar de braços cruzados caso a NATO destaque tropas para a Ucrânia, um passo que «levaria a um novo aumento de tensões perto das fronteiras» e que «requererá medidas adicionais por parte da Rússia para garantir a sua segurança», afirmou esta sexta-feira à imprensa Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. Antes disto, revela a RT, o Ministério ucraniano da Defesa emitiu um comunicado sobre a conversa telefónica mantida dia 1 de Abril com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que comunicou aos ucranianos a «postura pró-activa» do seu país «no apoio à soberania e aos passos para restaurar a integridade territorial da Ucrânia». «Os EUA não deixarão a Ucrânia sozinha face à escalada da agressão da Rússia», afirmou o Ministério ucraniano da Defesa, que acusa Moscovo de anexar e ocupar a Crimeia, e de apoiar o movimento de resistência antifascista na região do Donbass, no Leste do país, onde recentemente, lembra a RT, se registaram novos episódios de violência na linha de demarcação com os territórios das repúblicas de Donetsk e Lugansk. Na entrevista que a RTP1 transmitiu esta segunda-feira, Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, falou dos «muitos desafios complexos» com que a Aliança Atlântica se depara, mas nada do expansionismo militarista e das guerras de rapina que promove. Quem tiver visto e ouvido, de cabo a rabo, a conversa de Stoltenberg ontem à noite na RTP terá ficado com a impressão de ter acabado de ver e ouvir o cavaleiro branco de uma «santa aliança» pronta a dar cabo dos negrumes do mundo: terrorismo, o Daesh ou chamado Estado Islâmico, as ameaças cibernéticas, a assertividade da Rússia, a proliferação de armas na Coreia do Norte, os conflitos que «existem» no Norte de África, no Médio Oriente, Iraque, Síria, Afeganistão. Conflitos que por aí «há», que por aí «surgiram», e a que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO, na sigla em inglês) tem de fazer frente. Apesar de ter passado uma boa parte da entrevista a falar da Rússia, no início o secretário-geral da NATO rejeitou a ideia de que a Aliança Atlântica esteja a «enfatizar a tensão com a Rússia na Europa de Leste», sublinhando que «a maior operação militar de sempre» da NATO decorre no Afeganistão. Não fez, no entanto, qualquer menção ao histórico, mais recente ou afastado, do intervencionismo dos «aliados da NATO» no país da Ásia Central. Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans. Referindo-se à acção global da Aliança Atlântica, disse que esta integra «a coligação global para derrotar o Daesh» e que a NATO «fez muitos progressos nessa coligação, derrotando o Daesh no Iraque e na Síria». Mais à frente, não se quis comprometer em excesso, afirmando que a NATO não está no terreno no Norte da Síria: «Apoiamos a coligação com aviões-radar, mas não estamos no terreno», disse. «Também não se esperava que falasse de Reagan e talibans.» Nem «ai», nem «ui» sobre o facto de a coligação internacional que opera na Síria o fazer sem autorização do governo de Damasco e sem um mandato das Nações Unidas. E, aqui, também não houve menção ao esforço da Rússia – ao lado de Damasco. «A Nato está preparada para defender qualquer aliado, contra qualquer ameaça, é essa a mensagem principal, o ideal principal da NATO», disse, salientando que «a razão pela qual a NATO é forte e unida não é para provocar um conflito, mas sim para evitar um conflito». Percebe-se o ultraje sentido por quem olha para o mundo e vê as guerras de agressão e saque do capitalismo, as operações de desestabilização fomentadas pelos Estados Unidos da América no pátio traseiro global – as de agora e outras mais –, tendo a NATO por braço armado. O ex-primeiro-ministro norueguês trouxe ainda à tona a ideia da «paz na Europa durante quase 70 anos, um dos mais longos períodos de paz durante séculos na Europa», sem lhe ocorrer a menção da destruição da Jugoslávia e do golpe de 2014 na Ucrânia, com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia (UE), com a guerra subsequente no Donbass, onde a população rejeitou a ameaça fascista e se ergueu em armas. Sobre a Rússia, Jens Stoltenberg afirmou que «é possível combinar defesa, dissuasão e diálogo». Ou seja, deu sequência ao discurso do vizinho maléfico que acossa a Europa em paz com os seus bandos de hackers e as suas campanhas de propaganda e desinformação. O secretário-geral da NATO disse mesmo que a Rússia está «mais assertiva». Tão marota que até usa «ferramentas diferentes» e, por isso, a impoluta NATO «está a responder com o reforço das ciberdefesas». A UE também já se precaveu. «Parceria estratégica» com a Rússia é coisa que não existe – não por falta de tentativa da NATO, frisou, mas porque Moscovo «decidiu tentar reestabelecer esferas de influência e, de certa forma, controlar os seus vizinhos, como vimos na Geórgia, Moldávia e na Ucrânia». E isto é algo que a NATO, tutelada pelos Estados Unidos da América, carregada de arsenais em prol da paz no mundo e a cavalgar há anos sobre os despojos da União Soviética e amigos, não pode tolerar. Assim, a NATO vai procurar uma forma de dizer que «são firmes», que «são fortes», mas tentando reduzir a tensão, para evitar um conflito e manter um diálogo, disse Stoltenberg. Já a Rússia não tem nada de se preocupar com o facto de estar rodeada por países que se tornaram membros da NATO, pois foi uma decisão de «nações soberanas e independentes». E, se preocupações tem quanto à existência de uma Frente Leste da Aliança Atlântica, a culpa é sua, «consequência directa das [suas] acções agressivas contra a Ucrânia», justificou Stoltenberg, aludindo à situação no Donbass, no Leste da Ucrânia, e à reintegração da Crimeia na Federação Russa. O secretário-geral da NATO insiste que a integridade territorial e a soberania da Ucrânia foram violadas na Crimeia e no Donbass, por forças apoiadas pela Rússia e com apoio militar russo, mas, como se estivesse num universos paralelo, não fez uma alusão, ao golpe de 2014 em Kiev, ao fascismo na Ucrânia – ou na Polónia ou na Letónia. Nem se referiu como, em Julho do ano passado, a NATO promoveu os Irmãos da Floresta, que lutaram «contra o Exército Vermelho pelas suas pátrias», no Báltico, e que integravam muitos membros das SS nazis ou colaboradores com as forças nazis invasoras. O secretário-geral da NATO afirmou que os EUA têm mostrado que «estão empenhados nos laços transatlânticos», acrescentando que Washington está mesmo a aumentar a presença militar no continente europeu, depois de anos de declínio. «É um compromisso que vemos não são só em palavras, mas também em factos», frisou Stoltenberg. Não abordando a questão do aprofundamento da militarização da UE, a criação da chamada cooperação estruturada permanente (CEP) e a complementaridade – que já defendeu noutros momentos – entre aquilo a que chama Defesa Europeia e a NATO, o responsável da Aliança Atlântica sempre se referiu à necessidade de cooperar em matéria de defesa na UE para «resolver a fragmentação da indústria de defesa europeia». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Peskov, por seu lado, sublinhou que a percepção da Rússia como inimigo e adversário é «deslocada» e «inadmissível», uma vez que Moscovo «não ameaça ninguém e nunca o tinha feito», baseando toda a sua política neste principio, informa o portal russo. Na quinta-feira, em resposta a alertas do lado ucraniano sobre movimentações de tropas russas junto à fronteira, Peskov já tinha afirmado que a transferência de tropas dentro da Federação Russa não devia preocupar ninguém, nem constitui uma ameaça para ninguém, revelou a TASS. O funcionário do Kremlin reafirmou que «as tropas russas nunca participaram, nem estão a participar agora em conflitos armados em solo ucraniano», acrescentando, citado pela mesma fonte, que «nem a Rússia, nem os países europeus, nem outros países do mundo gostariam de ver a guerra civil na Ucrânia incendiar-se outra vez como resultado das provocações e dos passos provocadores dos militares ucranianos». No Donbass, região do Leste da Ucrânia de maioria russa, onde as populações se insurgiram contra o golpe de Estado fascista de Maidan que depôs Viktor Yanukovich, em 2014, patrocinado pela União Europeia e os Estados Unidos, e onde foram autoproclamadas as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, a situação agudizou-se no passado dia 26 de Março, segundo a RT, com a morte de quatro soldados das Forças Armadas ucranianas, perto da localidade de Shumy, embora outras fontes assinalem, já há algum tempo, a violação repetida do cessar-fogo por parte das tropas ucranianas. O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Milhares de mulheres e homens deram corpo à resistência. Quando se cumpriam quatro anos da rebelião antifascista que se espalhou como pólvora por todo o leste da Ucrânia, atravessei a fronteira através da Rússia num autocarro onde viajavam meia centena de antifascistas de vários países. Respondendo ao apelo do grupo musical italiano Banda Bassotti, que tocou duas vezes em Portugal na Festa do «Avante!», percorreram durante uma semana os territórios em resistência visitando orfanatos, hospitais, fábricas, sindicatos e autarquias. No primeiro dia, entre Rostov-sobre-o-Don, cidade russa no Norte do Cáucaso, e a fronteira com a auto-proclamada República Popular de Lugansk (RPL), atravessámos cerca de uma centena de quilómetros de estepe. Enquanto viajávamos por terras de cossacos, Mitya Dezhnev explicava-me como teve de fugir da sua terra para a Rússia e de como não podíamos deixar esquecer os comunistas que todavia resistiam na Ucrânia controlada por Kiev. «Queres ouvir uma canção que era muito popular no tempo da União Soviética?», perguntou-me em inglês antes de começar num quase perfeito português a cantar o «Avante, camarada!». Foi em 2014, uma semana depois do massacre que vitimou cerca de meia centena de pessoas em Odessa, na Ucrânia, que as populações do leste do país se insurgiram contra o golpe de Estado patrocinado pela União Europeia e pelos Estados Unidos que depôs Viktor Yanukovich. O novo governo, imposto sem eleições, permitiu que grupos paramilitares fascistas dessem rédeas ao ódio anti-russo e anti-comunista. Sem qualquer protecção e ante a ofensiva fascista, milhares de mulheres e homens concentraram-se nas principais praças das localidades insurrectas e deram corpo à resistência. Primeiro, tomaram as instituições e desarmaram as forças de segurança e, depois, organizaram-se militarmente constituindo milícias antifascistas. Nessa semana, as principais regiões da industrial Bacia do rio Don, conhecida como Donbass, declararam a independência e constituíram-se em dois países: a República Popular de Donetsk (RPD) e a RPL. Depois de pesados bombardeamentos que vitimaram milhares de pessoas, o apoio militar russo foi decisivo para evitar a barbárie e a conquista destes territórios por Kiev. O cessar-fogo que formalmente se mantém é desmentido na prática pelos sucessivos confrontos na linha da frente. As sucessivas provocações patrocinadas pela NATO continuam a causar vítimas entre os civis que moram em localidades ao alcance da artilharia ucraniana. Empurrados, primeiro pelas perseguições e depois pela guerra, dezenas de milhares de ucranianos continuam exilados na Rússia ou nas zonas sob controlo das forças democráticas. Neli Zadiraka foi outra das pessoas que conheci nessa condição. É uma das deputadas da sede do poder legislativo da RPL, o Conselho Popular de Lugansk. Foi obrigada a abandonar a sua casa em Rubezhnoe, território da região ocupado pela Ucrânia. Foi ela que, em 2014, leu a declaração de independência da RPL e, por essa razão, é considerada terrorista pelo governo ucraniano. Neli apontou para a estrela vermelha do brasão da jovem república e explicou-me que se inspira nos símbolos e valores da União Soviética. Esse foi, aliás, um elemento presente em toda a viagem. Para além da preservação e do respeito pelos monumentos e símbolos, a presença da foice e do martelo é constante. Em conversa com vários habitantes de Lugansk e Donetsk, a chegada do fascismo ao poder na Ucrânia veio reforçar as convicções políticas dos cidadãos de ambas as repúblicas. Mas não é algo recente. Em 2012, nas últimas eleições antes do golpe fascista, o Partido Comunista da Ucrânia conquistou 13,2% dos votos em todo o país. Em Kiev, obteve somente 7,23% e no ocidente houve regiões em que aquele partido não superou os 2%. Mas no oriente, sobretudo, nas regiões de Donbass, os valores oscilaram entre os 18% de Odessa e os 29,46% de Sebastopol, na Crimeia. Em Donetsk, os comunistas chegaram aos 18,85% e, em Lugansk, atingiram os 25,14% dos votos. Em Makeeva, cidade vizinha de Donetsk, a organização local do Partido Comunista da RPD organizou uma iniciativa cultural que envolveu centenas de pessoas para receber gente de tantos países, numa cerimónia em que se entregaram os cartões a dois combatentes especiais. Um miliciano vindo do Texas e outro da Colômbia que escolheram atravessar o mundo para abraçar a causa antifascista ao lado dos soldados desta região. O colombiano decidiu baptizar-se com o nome de guerra Alfonso Cano em homenagem ao comandante histórico das FARC e contou-me que decidiu voluntarizar-se para combater o fascismo em Donbass como parte das suas convicções políticas. São muitos os combatentes internacionalistas que participam nos exércitos das duas repúblicas. Na companhia de Boris Litvinov, Primeiro Secretário do Partido Comunista da RPD, que foi, aliás, o primeiro a encabeçar o Soviete Supremo da RPD, o novo órgão legislativo daquele país, conhecemos um dos corações industriais da Europa. Antes de chegarmos a uma das mais importantes minas de carvão da Europa, erguia-se um muro escrito recentemente com spray: «Somos cidadãos da União Soviética». Em 2013, antes do golpe, a Ucrânia produzia 84,8 milhões de toneladas. Três anos depois, esses números baixaram para menos de metade: 41,8. O objectivo do imperialismo, quando interveio na Ucrânia, não foi apenas levar mais longe as fronteiras da NATO, violando uma vez mais os compromissos assumidos com os últimos dirigentes soviéticos. Foi também controlar um país com importantes recursos, sobretudo na região que agora resiste ao avanço das forças apoiadas pelos Estados Unidos e União Europeia. Nas últimas semanas, a guerra intensificou-se e muitas das pessoas com que conversei admitem que o governo de Kiev pode estar a preparar uma provocação a larga escala durante o Campeonato Mundial de Futebol. Petro Poroshenko, presidente da Ucrânia, acaba de ser recebido em Espanha por Pedro Sánchez, novo chefe do governo, e falava abertamente ao diário El País do falso assassinato do jornalista Arkadi Babchenko como uma técnica necessária para proteger os dissidentes. Sem qualquer vergonha, acrescentou que há uma campanha russa de notícias falsas para destabilizar o mundo. É este o carácter de um governante que anunciava meses depois do golpe que faria tudo para que as crianças da Ucrânia pudessem ir à escola e para que as de Donbass ficassem fechadas em caves. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Pelas mortes, o governo da Ucrânia responsabilizou «forças de ocupação russas», referindo-se, segundo a RT, a efectivos da República Popular de Donetsk, cujos representantes negaram qualquer ligação ao facto e, posteriormente, declararam que os militares ucranianos morreram por terem pisado um explosivo durante uma inspecção a campos minados. A este propósito, Peskov disse que «não tentava fazer passar os desejos por realidade». «Para nossa desgraça, a realidade na linha de contacto é bastante aterradora, têm lugar provocações por parte das Forças Armadas da Ucrânia, e não são casos isolados, mas múltiplos», afirmou. No que respeita à Crimeia, o governo russo considera a sua integração no país um facto consumado e inteiramente legítimo. A Ucrânia nunca reconheceu os resultados do referendo realizado em Março de 2014, pouco depois do golpe de Estado em Kiev, em que a maioria esmagadora da população do território se pronunciou a favor da reintegração na Rússia. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A observação de Peskov segue-se à afirmação feita, também esta terça-feira, pelo presidente ucraniano de que «a NATO é a única via para acabar com a guerra no Donbass», na sequência de uma conversa telefónica com o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg. Também ontem, o vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, disse à TASS que Moscovo tinha discutido a situação no Donbass com a administração norte-americana, alertando-a para as «consequências das políticas provocadoras de Kiev no Donbass», bem como para «o comportamento cada vez mais desafiante» dos seus apoiantes ocidentais, liderados pelos EUA. Na segunda-feira, um representante do Departamento de Estado norte-americano afirmou que Washington estava disponível para «interagir» com Moscovo sobre a situação no Leste na Ucrânia. Quanto às movimentações de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia e na Crimeia, considerou-as «credíveis», refere ainda a TASS, e instou a Rússia a não realizar acções «que possam conduzir a uma escalada». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Rússia acusa a Ucrânia de não assumir o controlo das suas forças armadas
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«A realidade na linha de contacto é bastante aterradora»
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Resistência antifascista em Donbass
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Na ocasião, Stoltenberg congratulou-se pelo facto de a NATO «ajudar a Ucrânia a concretizar as suas aspirações euro-atlânticas» e prometeu «continuar a desenvolver» a cooperação com este país, e também com a Geórgia, sobre as questões «da segurança no Mar Negro».
Ainda em Bruxelas e também em meados de Abril o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, avistou-se com os ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Alemanha, Itália e Reino Unido para proclamar o apoio à «integridade territorial» da Ucrânia; saudou a «contenção de Kiev» perante as «provocações russas» enquanto acusava Moscovo de «retórica incendiária», de multiplicar «ataques na zona de contacto» e de reforçar os dispositivos militares na região.
Enquanto isso, dois cruzadores norte-americanos movimentaram-se em direcção ao Mar Negro para juntar-se aos vastos meios navais e aéreos da NATO já ali presentes; e cinco aviões militares de transporte Hércules C-130 viajaram de Estugarda para Kiev. A Aliança Atlântica, entretanto, criou um centro de treino de tiro de precisão em Mariupol. Recorda-se que um dos episódios fulcrais do golpe Euromaidan foi a utilização de snipers georgianos que dispararam simultaneamente sobre manifestantes e polícias para acelerarem os confrontos e o desfecho «democrático» pretendido pela NATO e a União Europeia.
A Rússia, por seu lado, tem respondido à militarização da Ucrânia pela NATO sob pretexto dos exercícios «Defender Europe 21» com o reforço dos dispositivos militares na Península da Crimeia e na sua fronteira com a Ucrânia, neste caso através da recolocação do importante corpo de pára-quedistas de Pskov.
As razões do fenómeno
Sendo certo que Zelensky não agiu sozinho ao assinar o decreto sobre «reconquistar» a Crimeia poderá levantar-se uma interrogação clássica: porquê agora?
Na verdade, já não resta muito tempo aos Estados Unidos para tentarem alcançar um dos objectivos essenciais dos últimos anos que é o de impedirem a construção do gasoduto North Stream 2 acordado entre a Rússia e a Alemanha para abastecer a Europa de gás natural russo. Os trabalhos estão em fase de conclusão, apesar de várias empresas europeias se terem retirado devido às sanções de Washington, e continuam a ter o apoio da poderosa economia alemã.
«A realização das gigantescas manobras anuais “Defender Europe”, dedicadas aos mares Negro e Báltico e à Ucrânia em particular, definiu a janela de oportunidade própria para Zelensky atear o rastilho de uma situação altamente provocatória, que envolve a movimentação de capacidades nucleares»
Liquidar este projecto de cooperação é, para os dirigentes de Washington, uma via para entorpecer ainda mais as relações entre a União Europeia e Moscovo e, sobretudo, para perturbar gravemente a cooperação especial entre a Rússia e a Alemanha, que se desenvolve claramente à revelia das posições da União Europeia e, sobretudo, da NATO. Enquanto proclama a necessidade de preservar a «integridade» da Ucrânia, Berlim mantém a aposta no gasoduto, incorrendo na reprovação de Washington.
A realização das gigantescas manobras anuais «Defender Europe», dedicadas aos mares Negro e Báltico e à Ucrânia em particular, definiu a janela de oportunidade própria para Zelensky atear o rastilho de uma situação altamente provocatória, que envolve a movimentação de capacidades nucleares. Está implícita nestas movimentações a intenção de transformar a operação provocatória numa situação de tensão permanente a alto nível, terreno propício para os especialistas em criar focos de confronto que povoam a região, sobretudo os enraizados grupos nazis em que assenta a operacionalidade do regime de Kiev.
O presidente russo, Vladimir Putin, tentou deitar um pouco de água na fervura entrando directamente em contacto com o presidente francês e a chanceler alemã alertando-os para os riscos que estão a ser vividos e pelos quais a Europa pagará um preço incalculável se forem levados às últimas consequências. Merkel e Macron, porém, são peixes graúdos da NATO mas não são a NATO.
É tudo gente de «boas famílias», bem-parecida e muito fashion, instruída nas melhores universidades, defensora de causas para melhor as adulterar, mas sempre muito polida, com estilo. Intelligence Online, uma newsletter internacional que divulga recados dos serviços secretos ocidentais, publica um curto texto sob o sugestivo título «Biden vai acabar na Síria o que Obama começou». Mais palavras são desnecessárias: a frase vale pelas 10 ou 20 mil palavras de um programa de governo. Ilusões para que vos quero. Basta passar uma vista de olhos pelo currículo belicista do novo presidente dos Estados Unidos da América, Joseph Biden, para antever uma gestão a condizer, pesem embora os floreados e fogos-de-artifício com que foi celebrada a sua conturbada e controversa eleição. O asfixiante aparelho global de propaganda quis fazer passar ao mundo a imagem branqueadora de que uma nova era começa, estamos perante uma ruptura em relação à tragédia dos últimos quatro anos. Nada mais enganador. Como diria o último ditador fascista de Portugal, apresentando a sua «primavera», estamos perante uma «evolução na continuidade». Entre Trump e Biden a diferença é de estilo, de polimento, de verniz que tanto agrada à camada bem pensante da comunicação «de referência». A substância é a mesma, com mais globalismo e menos nacionalismo, uma espécie de «América primeiro em todo o lado» em vez de um doméstico «América primeiro». Antes de ser presidente, Biden foi vice-presidente de Barack Obama e senador durante décadas. Por isso é possível encontrá-lo apoiando vivamente o racismo institucionalizado na sociedade norte-americana – por muito que queiram limpar-lhe a imagem – e guerras imperiais a fio como as invasões de Granada (1983) e do Panamá (1989), a destruição da Jugoslávia com os bombardeamentos de Belgrado (1999), as invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003); ou então aconselhando os presidentes democratas e irmanando-se aos presidentes republicanos, de Reagan à família Bush conforme os casos. Não é excessivo lembrar que nestas gestas imperiais para exportar a «democracia», impôr medidas «humanitárias» ou cumprir o mandamento R2P (Responsabilidade para Proteger, uma invenção democrata) não existem diferenças de fundo entre democratas e republicanos, quanto muito praticam-se métodos mais ou menos elaborados de gestão da propaganda de guerra. Já como vice-presidente, Biden desempenhou papéis de primeiro plano na reactivação da guerra do Afeganistão (2009), na ocupação do Iraque, nas revoluções coloridas que ficaram genericamente conhecidas como «primaveras árabes», nas atrocidades que provocaram a destruição da Líbia, no golpe que levou o fascismo ao poder na Ucrânia (2014) e no lançamento da sanguinária agressão contra a Síria. É esse trabalho inacabado, o do desmantelamento e destruição da Síria, que Biden se propõe agora concluir como presidente – a crer nos vaticínios da comunidade dos serviços secretos ocidentais. E que serve apenas como exemplo pontual de uma agenda intervencionista à escala global, como é apanágio da bem-falante, neoliberal pura e tecnocrática elite democrata. Dois sinais imediatos revelam os contornos dessa agenda: o reforço da NATO e o regresso ao activo, mais coisa menos coisa, do esquadrão de dirigentes e assessores das administrações Obama, o presidente que, na história dos Estados Unidos, cometeu mais assassínios extrajudiciais explorando, principalmente, o crescente recurso aos drones. A revalorização da NATO na perspectiva norte-americana é uma consequência esperada do regresso dos democratas ao poder. Expoentes do globalismo neoliberal e da progressiva supressão dos Estados na via para o governo global – meta tão acarinhada pelo seu guru Henry Kissinger – têm numa Aliança Atlântica pluricontinental o instrumento militar transnacional para assegurar a gestão das guerras existentes, sejam os conflitos convencionais ou as guerras frias com a Rússia e com a China, sempre sob comando operacional dos Estados Unidos. Em relação ao gigante asiático, não existem indícios em Washington de um abrandamento do clima de confrontação instaurado por Trump, admitindo-se que possa ter cambiantes eventualmente na frente comercial; na vertente militar não será de excluir um endurecimento, olhando para alguns nomes que integram o esquadrão de dirigentes e assessores de Biden. Quanto ao novo presidente, o mote está dado: tanto Putin como Xi Jinping são «bandidos». O regresso à NATO, depois da deriva de Trump, será processado, como sempre, sob o comando operacional dos Estados Unidos mas com «partilha de responsabilidades», isto é, através do aumento das despesas militares dos Estados membros – e que já era uma exigência do antecessor de Biden. É grande a satisfação nas chancelarias europeias, principalmente as que respeitam o fundamentalismo atlantista, sentimento ecoado também pela comunicação de «referência», sempre rendida ao «charme» democrata, tão distante e afinal tão próximo da metodologia trauliteira da mais recente versão republicana. Quanto às despesas militares, não faltará dinheiro aos Estados membros. Do fundo da criatividade dos think tanks democratas surgiu a ideia de criar um banco da NATO, a instituição onde os governos poderão encontrar financiamento para constante «modernização» dos arsenais de guerra e reforço dos lucros dos colossos da indústria militar à custa dos bens dos contribuintes. A administração de Joseph Biden é nova, mas os seus principais membros nem tanto. Têm origem no núcleo central das administrações Obama, pelo que não surpreende que desejem prosseguir e terminar o que no fundo iniciaram. O que não pressagia nada de bom para o mundo. O novo secretário de Estado, a quem compete substituir o fascista e sionista cristão Michael Pompeo, é Anthony Blinken, um «príncipe da diplomacia» para a comunicação bem-falante mas, na realidade, um fanático da confrontação com a Rússia, um defensor da entrega de armas letais ao regime fascista da Ucrânia, um defensor do intervencionismo norte-americano como expressão de «dever moral», um fervoroso «excepcionalista» dos Estados Unidos como nação com o «destino manifesto» de guiar o mundo. Olhado como um sonhador do «romantismo transatlântico», Blinken desempenhou a função de secretário de Estado adjunto de Obama e nessa qualidade foi determinante para a sangrenta destruição da Líbia, o início da carnificina na Síria e também para o apoio militar e político à Arábia Saudita na agressão ao Iémen – a origem da maior crise humanitária da actualidade. Não lhe faltam também as credenciais como intrépido defensor de Israel: entre as suas primeiras decisões estão as de confirmar tudo o que Donald Trump fez contra o direito internacional em relação a Jerusalém Leste, aos Montes Golã e à colonização dos territórios palestinianos. Também não demonstrou qualquer intenção de «destituir» Guaidó na Venezuela e de abandonar o golpismo contra este país; defende inclusivamente que as sanções sejam «mais efectivas». Anthony Blinken resumiu assim no podcast Intelligence Matters o seu conceito para lidar com as guerras eternas em curso: «Operações sustentadas, de média dimensão, discretas, talvez realizadas por forças especiais para apoiar actores locais». Trata-se, afinal, de materializar o discurso de posse de Biden e segundo o qual os Estados Unidos se tornaram «a principal força do Bem no mundo». Apesar de democrata, Anthony Bliken trabalha amiúde com o neoconservador republicano Robert Kagan, autor da bíblia imperial intitulada «Projecto para o Novo Século Americano», usada como referência pelos últimos presidentes norte-americanos independentemente dos respectivos rótulos políticos. O novo secretário de Estado fez-se rodear por homens e mulheres com inegável pedigree e provas dadas nos tempos de Obama. Victoria Nuland, por exemplo, mulher do citado Robert Kagan, foi uma figura operacional do golpe na Ucrânia que levou ao poder organizações nazis, por acaso despreza a União Europeia e defende a aceleração e intensificação do confronto com a Rússia. A sua designação é qualificada como uma provocação directa a Vladimir Putin. Joseph Biden nomeou o general de quatro estrelas Lloyd Austin para secretário da Defesa e chefe do Pentágono. Foi comandante do CENTCOM, o comando norte-americano para as operações no Médio Oriente e chefiou, a partir do Verão de 2010, as tropas de ocupação do Iraque. Para muitos é um «criminoso de guerra». Assumiu posteriormente o comando adjunto das Forças Armadas, no período que coincidiu com as fases iniciais das agressões contra a Líbia e a Síria. Actualmente era administrador da Raytheon, um dos gigantes da indústria de guerra dos Estados Unidos e dos que mais lucra com os conflitos alimentados pelo império. A designação de Austin foi considerada, apesar de tudo, uma surpresa. A favorita para chefe do Pentágono era uma funcionária imperial por excelência, Michèle Flournoy, recomendada por Hillary Clinton e que se bate, por exemplo, para que os Estados Unidos se armem de maneira a serem capazes de dizimar todos os submarinos, navios de guerra e mercantes chineses no Mar da China Meridional em 72 horas. Tanto zelo não foi, apesar de tudo, desperdiçado porque Flournoy não ficou longe da esfera do poder Biden. A empresa que fundou juntamente com o actual secretário de Estado Blinken, a Westexec Advisors, foi recrutada para aconselhar o Departamento de Estado sobre o Médio Oriente, em particular a Síria. Teremos, em breve, novidades destas áreas – e não serão boas. Jack Sullivan, no Conselho de Segurança Nacional, é outra recomendação de Hillary Clinton, esta directamente aceite. Sullivan gosta de brincar com o fogo. Esteve nas decisões que conduziram ao envolvimento da NATO na Líbia em aliança com os terroristas islâmicos – grupos estes que actualmente conduzem os movimentos jihadistas no Mali e no Níger, «justificando» a presença de tropas coloniais nessa região africana. E fez pressão para transformar em confronto assumido entre a Rússia e os Estados Unidos as escaramuças esporádicas ocorridas na Síria entre militares russos e norte-americanos. Biden nomeou Avril Haines como directora nacional de inteligência, cargo para o qual parece especialmente dotada. Como directora adjunta da CIA, nos tempos de Obama, coordenou o programa de assassínios selectivos com drones cometidos pelo presidente. Censurou o relatório sobre a tortura da CIA apresentado no Senado e tornou-se conselheira presidencial adjunta de segurança nacional, posição em que substituiu o actual secretário de Estado, Anthony Blinken. Uma das especialidades de Haines tem bastante actualidade. Em 2018, intervindo na Camden Conference, previu o aparecimento a breve prazo de um vírus que afecta o aparelho respiratório humano e que rapidamente se espalharia através do planeta; em Outubro de 2019, poucas semanas antes de identificado o «vírus de Wuhan», foi uma figura central do «Evento 201», uma reunião em Nova York na qual foi simulada a situação decorrente do aparecimento de um coronavírus de fortíssimo contágio e susceptível de matar milhões de pessoas em todo o mundo. A super-espia de Biden alia assim as capacidades de vidente aos reconhecidos talentos operacionais. William Burns foi colocado à cabeça da CIA. Começou a carreira ainda na administração de Reagan, um republicano de quem Trump tentou seguir o caminho; depois de ter sido embaixador na Rússia foi secretário de Estado adjunto de Obama, precisamente nos períodos das guerras da Líbia, da Síria e do golpe na Ucrânia. Por falar em CIA e respectivos braços, Samantha Power encabeça agora a USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional), instância que, a coberto da diplomacia, é um instrumento fundamental da ingerência norte-americana nos assuntos de outros países, designadamente as revoluções coloridas e outras operações de mudança de regime. Considerada uma intervencionista de choque, Samantha Power é discípula de Madeleine Albright, com quem se familiarizou na teorização sobre intervenções humanitárias e outras formas de provocar a substituição de governos que caiam em desgraça perante os Estados Unidos. Madeleine Albright, apesar da sua idade, continua no activo e é uma inspiração para os membros da administração Biden. A sua obra-prima, a destruição sangrenta da Jugoslávia, é o ponto alto dessa referência. A nova administração norte-americana conta com a activíssima e mediática colaboração da poderosa constelação que manipula a chamada sociedade civil de acordo com os interesses da clique globalista dominante do Partido Democrata. Tratam-se de entidades altamente financiadas, como por exemplo a Human Rights Watch, a Amnistia Internacional e a Freedom House, organizações não-governamentais da área dos «direitos humanos» e que têm como missão branquear as atrocidades cometidas pelos governos dos Estados Unidos nessa matéria. O financiamento desse universo é assegurado, em parte, pelas principais fundações norte-americanas associadas principalmente ao Partido Democrata, de entre as quais se destacam a Ford, a Rockfeller e outras instituições como o Brookings Institute, o Carnegie Endowment, o New Endowment for Democracy (NED) e também o Fórum Económico Mundial de Davos – o mesmo que prepara o Great Reset, o «grande reinício» do capitalismo à sombra dos efeitos sociais, geopolíticos e geoeconómicos da pandemia de Covid-19. Com uma influência avassaladora na comunicação social corporativa, este aparelho emanando do vetusto e enraizado Conselho de Relações Externas de que Kissinger foi um dos fundadores, alimenta a ideologia dominante do globalismo neoliberal, desde o capitalismo «verde» aos conceitos distorcidos de guerra e paz, à extinção progressiva da influência dos Estados, a manipulação do desenvolvimento tecnológico e a governação global apresentadas como zénite da evolução «progressista» da sociedade. Os meios que fabricam a opinião dominante incensam e adoram este aparelho do qual a clique do Partido Democrata é o agente executivo mais influente. É tudo gente de «boas famílias», bem-parecida e muito fashion, íntima de Hollywood e dos meios cor-de-rosa «chic», instruída nas melhores universidades, defensora de causas para melhor as adulterar, mas sempre muito polida, com estilo. Até parece que as vítimas das carnificinas e dos atentados à democracia que essa elite patrocina através do mundo são elas próprias responsáveis pelas incidências fatais que as atingem. A administração Biden simboliza tudo isto. Só tem ilusões sobre o seu papel quem não consegue ou não quer escapar à realidade virtual que nos oprime. José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Opinião|
Perfil da nova tropa de choque do império
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Outra circunstância que favorece o clima de elevada tensão instaurado é a reconstituição, em torno de Joseph Biden agora como presidente dos Estados Unidos, da equipa operacional da estrutura do Partido Democrata norte-americano que montou o golpe ucraniano de 2014 e que fez do regime assim implantado em Kiev um instrumento provocatório ao serviço do expansionismo da NATO e dos desígnios imperiais de Washington.
Anthony Blinken, secretário de Estado norte-americano, ele próprio de origem ucraniana, era membro do Conselho de Segurança Nacional e depois secretário de Estado adjunto no período em que a administração Obama/Biden promoveu o golpe.
Blinken canalizou através de Victoria Nuland, operacional do Departamento de Estado em funções no terreno, os cinco mil milhões de dólares para instaurar «um bom governo em Kiev», como recomendou o actual secretário de Estado.
Nuland esteve em pessoa na Praça Maidan, em Kiev; gravações de conversas nas quais participou dão conta do processo como foram escolhidos os dirigentes ucranianos empossados na ocasião, entre eles alguns quadros de chefia do arreigado sector nazi com passado hitleriano.
O interlocutor de Nuland nessas conversas foi Geoffrey R. Pyatt, actual embaixador dos Estados Unidos na Grécia, de onde dirigiu as operações que criaram, à revelia da vontade popular, um país conhecido como Macedónia do Norte, mais uma parcela da antiga Jugoslávia agora submetida às ordens da NATO e da União Europeia.
Pyatt era embaixador na Ucrânia em 2013/2014. Agora é o titular da diplomacia de Washington na Grécia, país que acolhe os jogos de guerra «Iniochos 21» da NATO, centrados no Mar Egeu e também com participação de tropas israelitas e dos Emirados Árabes Unidos, por sua vez integrados na macro estrutura dos exercícios «Defender Europe 21».
Biden, Blinken, Nuland, Pyatt – a equipa operacional do golpe Euromaidan está de regresso à Ucrânia, dando a ideia nítida de que pretende retomar o que iniciou e levá-lo até às últimas consequências nas fronteiras com a Rússia.
Entretanto, continuamos a ser informados de que tudo está a acontecer por causa da «agressão russa».
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