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A China defronta o novo coronavírus

O tempo é – continua a ser – de cuidar dos vivos, de circunscrever os focos a círculos cada vez mais reduzidos de pessoas, de se desenvolverem medicamentos para tratamento e as vacinas adequadas.

Vista aérea do hospital Huoshenshan, na cidade de Wuhan, destinado a lutra contra o surto do novo coronavírus. Entrou ao serviço em 3 de Fevereiro de 2019, após ter sido edificado em apenas 10 dias pelas autoridades chinesas.
Vista aérea do hospital Huoshenshan, na cidade de Wuhan, destinado a lutra contra o surto do novo coronavírus. Entrou ao serviço em 3 de Fevereiro de 2019, após ter sido edificado em apenas 10 dias pelas autoridades chinesas.Créditos / YFC

Os sintomas iniciais dos primeiros pacientes, em Dezembro passado, eram bastante leves, aparentemente não mais do que uma gripe típica do inverno e, portanto, não eram motivo de preocupação especial. Somente após duas semanas, quando os sintomas se tornaram mais graves e os pacientes precisaram de hospitalização, os médicos especialistas se convenceram estar a braços com uma nova epidemia.

Depois disso, as coisas aconteceram muito rapidamente, com extensos testes e investigações, a descoberta do novo coronavírus, a descodificação de todo o seu genoma e a distribuição desse genoma para a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras autoridades, tudo realizado em cerca de duas semanas. A reacção rápida da China e os resultados sólidos geraram elogios em todo o mundo pelas autoridades. Anúncios públicos foram feitos ao mesmo tempo, revelando os factos disponíveis até este momento.

Foi nesse ponto que as autoridades imediatamente instituíram a quarentena efectiva, primeiro em Wuhan e depois na maior parte da província de Hubei, uma quarentena que agora se expandiu para várias outras cidades de outras províncias na tentativa de cercear o vírus e impedir um contágio mais amplo. E, novamente, a reacção rápida da China e os resultados sólidos geraram elogios de autoridades em todo o mundo.

Passaram a circular dois tipos de «teorias de conspiração».

A primeira surgiu à medida que o surto de coronavírus continuava a elevar as preocupações na China, os meios de comunicação da Rússia, onde um número crescente de comentaristas políticos acredita que o vírus é uma arma biológica dos EUA, a ser depois dirigida contra a Rússia. Baseando-se para isso em que, nomeadamente depois do colapso soviético, a presença de bio-laboratórios americanos já ter sido confirmada na Geórgia, Ucrânia, Cazaquistão, Azerbaijão e Uzbequistão. Apesar do Departamento de Estado norte-americano ter desvalorizado esses factos, declarando que se tratam de grupos inofensivos encarregados de desenvolver dispositivos médicos, a pergunta que se seguiu foi, «mas se eles são tão inofensivos, porque razão os americanos os tinham construído, não em casa, mas fora dela, noutros cantos do mundo?».

E a segunda com a pergunta da Casa Branca às autoridades para que investigassem a fonte da doença. O Washington Post referia que uma autoridade dos EUA lhe afirmara ser um sinal ameaçador que rumores falsos, desde o início do surto várias semanas atrás, tivessem começado a circular na Internet chinesa, alegando que o vírus faz parte de uma conspiração dos EUA para espalhar armas. Isso poderia indicar que a China estaria a preparar meios de propaganda para combater futuras acusações de que o novo vírus escapou de um dos laboratórios civis ou de defesa de Wuhan.

A Casa Branca passou a fazer perguntas sobre o novo vírus. Como relatou a ABC News, o director do Gabinete de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca (OSTP), em carta às Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina, solicitou que especialistas científicos «rapidamente» examinassem as origens do vírus a fim de abordar a disseminação actual e «informar a preparação futura de surtos e entender melhor os aspectos de transmissão animal/humana e ambiental dos coronavírus».

Para lá de o novo vírus ter circulado abrigado nas asas de morcegos, uma iguaria tradicional, a China recebeu indicações de que o genoma do novo vírus nunca poderia ocorrer por meios considerados naturais. De facto, o genoma do novo vírus acrescenta um novo «fragmento do meio» à proteína do SARS (síndrome respiratória aguda grave) que parece, de acordo com a sua análise, ter sido inserido no do SARS, usando a tecnologia «pShuttle». E essa técnica só pode ser feita em laboratório, não ocorrendo espontaneamente na natureza.

Os desafios que a China enfrenta

Passados quarenta dias depois de ser identificado o grande perigo da epidemia (2019-nCoV) e de o número de mortos, apesar de elevado, ter passado a ser inferior ao número de doentes curados, a China defrontou e está a defrontar com êxito vários desafios.

1. A identificação do genoma distintivo deste vírus em relação a outras estirpes já conhecidas. O novo coronavírus, que pode provocar doenças respiratórias potencialmente graves como a pneumonia, foi detectado, pela primeira vez no final do ano em Wuhan, na província de Hubei, província do centro da China.

2. O tomar de medidas excepcionais sobre um conjunto de cidades do distrito de Hubei, que se traduziu nomeadamente no declarar a quarentena para cerca de 50 milhões de residentes, os quais, acompanhados pelos serviços de saúde, são declarados livres de perigo ou suspeitos de infecção e, a partir dessa quarentena, são identificados os que têm que receber tratamento. Que só em casos particulares acabam por falecer.

3. O terem-se concentrado os maiores esforços em aumentar as taxas de internamento e recuperação e diminuir a taxa de infecção e de mortalidade. E de se gerar confiança nos profissionais de saúde e pacientes por, no epicentro do surto, terem mostrado que casos graves, mesmo pacientes críticos, podem ser curados por meio de tratamento razoável e activo.

E que se está a trabalhar com eficácia para aumentar os salvamentos de vidas a uma taxa superior à taxa de mortalidade.

4. O suprir rapidamente as carências de profissionais de saúde. Mais de 11 000 funcionários médicos, incluindo 3000 especialistas em terapia intensiva e a melhor equipa de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do país, foram enviados para Wuhan. Até para renovar as equipas médicas que, estando a trabalhar há muito tempo, estão exaustas física e mentalmente.

Os principais especialistas em terapia intensiva da China também se reuniram em Wuhan para realizar consultas e realizar rondas nas enfermarias.

5. O resolver carências nas outras cidades acompanhadas na província de Hubei.

Montar um sistema de apoio individual em 16 províncias, com cada uma das províncias ajudando uma cidade em Hubei a combater a epidemia.

6. Montar em dez dias dois hospitais de campanha com dois pisos, no parque de exposições de Wuhan tornou-se matéria «viral» na internet e no You Tube. Estão já a receber as pessoas com suspeitas de poder ter contraído a doença, depois de no passado dia 3 terem sido entregues as chaves ao exército chinês. Segundo as autoridades chinesas, neles existem 1900 camas e podem ter a trabalhar cerca de 2000 profissionais de saúde. Mais de 1000 trabalhadores fizeram turnos para assegurar 24 horas de construção por dia.

7. A China acelerou a aprovação dos kits de testes para a nova pneumonia por coronavírus. O registo de sete produtos de teste de sete empresas foi aprovado pelo governo, expandindo a capacidade de fornecimento de kits de Teste de Ácido Nucleico.

8. Cerca de 10 000 camas hospitalares foram acrescentadas em Wuhan para atender pessoas com sintomas leves, pois a cidade transformou estabelecimentos públicos, como ginásios, em hospitais temporários.

Os laboratórios Mobile P3 e mais de 2000 equipes médicas de todo o país passaram a ter a tarefa de tratar pacientes e fornecer aconselhamento psicológico nesses hospitais temporários.

9. Apesar de terem começado a circular afirmações de que o sistema de saúde chinês não teria capacidade para enfrentar uma crise epidémica como a que se tem vindo a verificar, as mesmas foram sustidas através de uma partilha frequente de informação com a Organização Mundial de Saúde e com todos os governos do mundo, que também passará pelo envio de uma missão internacional liderada por aquela organização para a China1.

A OMS declarou em 30 de Janeiro uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional, o que pressupõe a adopção de medidas de prevenção e coordenação à escala mundial. Na passada quarta-feira, a organização das Nações Unidas apelou à criação de um fundo de 675 milhões de dólares (613 milhões de euros) para combater o surto do novo coronavírus nos próximos três meses. E na passada segunda-feira o director-geral da OMS twittou: «Estou admirado com os milhares de trabalhadores da saúde na China, especialmente em Hubei, que estão a cuidar de pacientes e juntando dados sobre o novo coronavírus de 2019 para análise científica, enquanto estão sob imensa pressão».

Desde a OMS, a vários governos e institutos especializados, destacados investigadores de vários países e mesmo… Donald Trump, já reconheceram esta capacidade das autoridades chinesas estarem a dar as respostas à crise2.

10. A gestão da informação pública de maneira a torná-la tão rápida quanto o desenrolar de acontecimentos o permitisse, dando prioridade ao direito à informação devidamente validada pelos organismos competentes.

Bem como, com ela, combater alarmes infundados e criar um ambiente física e psicologicamente sustentado numa confiança que se baseia em factos e no conhecimento global do que se está a fazer.

11. Tais progressos procuram minimizar os efeitos da quarentena, o aparente isolamento.

Apesar do contacto através da internet chinesa, da permanente recolha de informação telefónica que sossegue todas as pessoas ou determine a sua deslocação para as unidades hospitalares provisórias.

E até uma aplicação móvel, desenvolvida por uma empresa de tecnologia do estado, por orientação do governo chinês, que avisa os utilizadores quando estão em risco iminente de contrair o coronavírus. O designado «detector de contacto proxy» ficou disponível para utilizadores chineses, que têm que fornecer apenas o nome, número de telefone e ID para instalação, segundo informou a Xinhua no passado dia 5 de Fevereiro. O aplicativo informa o utilizador se ele entrou em contacto com alguém infectado pelo vírus 2019-nCoV3

Enquanto se procuram medicamentos eficazes, aqueles que esperam e sofrem precisam saber que o medo nunca fará parte da cura.

12. Numa visita ao Instituto de Biologia Patogénica da Academia Chinesa de Ciências Médicas no passado dia 8 de Fevereiro, o primeiro-ministro chinês: sublinhou a dedicação e o trabalho árduo dos investigadores; pediu-lhes que comuniquem ao público o seu conhecimento oficial sobre como o vírus é transmitido e outros assuntos de interesse público para facilitar a prevenção e controle científicos; instou-os a «correr contra o tempo» para reunir sabedoria e estudar tratamentos de casos curados num esforço de pesquisa abrangente de medicamentos eficazes; e sublinhou o respeito à ciência e às regras científicas nessa pesquisa de medicamentos e vacinas para garantir segurança e eficácia.

13. Na história humana moderna, como responder a uma emergência de saúde sempre foi uma pergunta difícil para quem decide, pois precisa de sopesar urgência e prudência ao mesmo tempo.

«A reacção exagerada pode ser tão prejudicial quanto a reacção insuficiente», escreveu Jeremy Brown, director do Gabinete de Pesquisa em Cuidados de Emergência do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, num artigo publicado pelo Wall Street Journal, referindo-se a ela como uma das «lições».

Li Wenliang, médico de 34 anos, foi chamado pela polícia quando tentou avisar outros médicos sobre o vírus, em Dezembro. Enviou uma mensagem aos colegas num chat de grupo, dia 30, e depois foi chamado pela Secretaria de Segurança Pública, onde o obrigaram a assinar um papel em que era acusado de fazer «comentários falsos».

A difusão do facto, não validado, não respeitou o princípio de serem os porta-vozes das autoridades de saúde competentes quem faz a divulgação.

Pode parecer difícil de aceitar, mas fazer um anúncio público imediato seria imprudente, criando um alarme público desnecessário e até situações de pânico, além de prejudicar a confiança do público nos organismos de saúde. Obviamente, a principal preocupação é o bem-estar da população, mas as autoridades têm que reunir factos e informações suficientes para entenderem que objectivos se devem atingir e como irá isso ser feito. Esse processo de apuramento de factos deve levar apenas alguns dias ou talvez uma semana ou duas, no máximo, dependendo das circunstâncias. Declarações públicas na ausência de factos seriam prematuras e até irresponsáveis.

Tendo falecido depois de ter ficado infectado, gerou-se um movimento de simpatia para com ele, explorando sentimentos de que algo poderia estar a ser sonegado em termos de informação pública e que Li Wenliang tinha sido quem descobrira o vírus – ambas as coisas não verdadeiras. Aguarda-se o resultado de um inquérito, decidido pelo governo, à sua morte.

14. O desaconselhar, tal como a OMS faz, quebras no comércio internacional bem como nas viagens – apesar da primeira e única reacção de alguns governos ter sido terem-se apressado a impor essas restrições. Além do mais, a reacção exagerada é contraproducente e assustadora. As autoridades chinesas têm salientado que tais restrições podem ter o efeito de aumentar o medo e o estigma, com pouco benefício para a saúde pública. E poder originar casos de sinofobia, com incidentes recentes em vários países, de que são vítimas cidadãos chineses em viagens fora do seu país.

Em Portugal, o embaixador chinês Cai Run reconheceu que, «durante o combate à epidemia, a China e Portugal têm mantido coordenação e colaboração estreitas».

Cai Run lembrou que «o Governo chinês tem procurado ajudar as autoridades no repatriamento de portugueses».

No início da epidemia, a embaixada chinesa em Lisboa «comunicou atempadamente» às autoridades portuguesas a evolução da epidemia do novo coronavírus e que continuará a «assumir as obrigações internacionais» para assegurar a segurança das pessoas.

15. Numa circular, divulgada no fim de semana passado, o Conselho de Estado da China apelou a esforços para proteger os trabalhadores contra a infecção e, entretanto, para retomar a produção o mais rapidamente possível.

As empresas que fornecem suprimentos e serviços de controle de epidemias, como material médico e necessidades diárias de abastecimento, empresas de entregas e de logística estão entre os primeiros grupos a retomar o trabalho e já começaram a voltar à plena capacidade para combater o novo surto de coronavírus.

Para ajudar a combater o surto de pneumonia causada por este novo coronavírus, trabalhadores de muitas empresas de material médico disponibilizaram-se para regressarem ao trabalho antes do previsto.

Para outros sectores, a produção está a recomeçar de maneira consistente, mas mais gradual, pois as autoridades e empresários são cautelosos com a nova epidemia de coronavírus.

Para apoiar as pequenas e médias empresas (PME) na retoma do trabalho, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT) prometeu ajudar no fornecimento e transporte de matérias-primas, e proporcionar equipamentos de protecção, como máscaras e detectores de temperatura corporal. Os governos locais são incentivados a reduzir ou renunciar a impostos e taxas administrativas em certas PME, aumentar subsídios a programas de formação profissional e estender o prazo de pagamento das suas contas de electricidade e gás para as apoiar em tempos difíceis, disse o MIIT.

Da mesma forma, os governos locais receberam directivas para tomar medidas para ajudar as empresas de capital estrangeiro a retomar a produção e a operação de maneira ordenada. Um apoio especial será direccionado a grandes projectos de investimento estrangeiro, de acordo com o Ministério do Comércio, que pediu esforços coordenados para resolver as dificuldades e minimizar os impactos da epidemia. Agora, com o país a voltar ao trabalho, muitos estão confiantes de que o impacto económico potencial causado pela interrupção da produção nacional deve ser apenas um golpe pontual e de curto prazo contra a sólida base económica da China.

Segundo o vice-governador do banco central da China, a epidemia pode perturbar as actividades económicas no primeiro trimestre deste ano, mas, segundo as autoridades, é provável que a economia estabilize logo após a epidemia, já que o desencadear de resposta às procuras que não tiveram resposta, compensará o fraco desempenho económico anterior.

O tempo é – continua a ser – de cuidar dos vivos, de circunscrever os focos a círculos cada vez mais reduzidos de pessoas, de se desenvolverem medicamentos para tratamento e as vacinas adequadas. Enfim, suster a epidemia, mas também de relançar a economia. Para depois ficarão as considerações mais ou menos geoestratégicas, baseadas no aprofundamento científico do que tem vindo a acorrer desde Dezembro passado. Poder-se-ão então validar teorias.

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