O artista egípcio, a quem o Instituto Goethe outorgou em 2022 a mais alta distinção oficial atribuída pelo Estado europeu, devolveu o prémio à procedência, na semana passada, em sinal de protesto contra «a cumplicidade de Berlim na agressão de Israel a Gaza».
Abla não refutou a importância e o significado da atribuição da medalha pelo Instituto Goethe, mais ainda quando ele foi uma das primeiras pessoas de origem árabe a receber a distinção.
Sublinhou, no entanto, que não a podia manter consigo. «Não faz sentido que o governo alemão fale de igualdade e justiça e, ao mesmo tempo, ignore as dificuldades e os direitos dos palestinianos e ajude a armar Israel», declarou ao Middle East Eye.
O artista plástico disse esperar que o seu gesto «desperte a consciência de todos» e encorajou outros artistas a actuar de diversas formas contra aquilo a que chamou «a visível injustiça» na Faixa de Gaza, onde mais de 31 100 pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, foram mortas como resultado da mais recente agressão israelita, desde Outubro.
Também criticou os lançamentos de ajuda, por via aérea, para o mar ao largo de Gaza, tendo afirmado que «o mais doloroso» para ele era ver as pessoas «a correr para a água para apanhar» a ajuda.
«Também me causou impacto ver todas as crianças em Gaza à procura dos seus pais e famílias sob os escombros. Custa-se ver os protestos pelo mundo fora e não poder participar neles no Egipto», acrescentou.
Não é caso único: sul-africana também rejeitou a medalha Goethe
A escritora Zukiswa Wanner, primeira mulher africana receber a distinção atribuída pelo Instituto Goethe, em 2020, rejeitou-a também na semana passada.
«Portanto, não consigo permanecer em silêncio ou manter uma condecoração oficial de um governo tão insensível ao sofrimento humano», afirmou a escritora, editora e jornalista sul-africana.
Em comunicado, disse que, em vez de condenar veementemente o genocídio desde o Holocausto, a Alemanha se tornou um dos maiores exportadores de armas para Israel.
«Gostava que o governo alemão, reflectindo e dizendo "nunca mais", reconhecesse que "nunca mais" devia ser para todos», acrescentou.
A escritora africana disse que, meses antes da guerra de agressão, esteve nos territórios palestinianos ocupados e viajou por diversas cidades, incluindo Ramalhah, Hebron, Jerusalém Oriental, entre outras.
«Como escritora proveniente de um país com uma historia de apartheid, aquilo que experienciei comoveu-me e levou-me a escrever um longo ensaio, Vignettes of a People in an Apartheid State», disse.
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