A exoneração do cargo, ontem publicada no Diário Oficial da União, foi assinada pelo ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. O Brasil de Fato questionou o Ministério sobre o motivo da exoneração, mas, até ao momento, não teve resposta.
Por seu lado, Vinhas disse à imprensa que desconhecia a razão pela qual fora despedida. O departamento que comandava é responsável pela monitorização da devastação florestal no Brasil e publicou, na sexta-feira passada, um estudo que dá conta de outro recorde de desmatamento na Amazónia.
De acordo com levantamento do Inpe, a devastação ambiental na Amazónia em Junho deste ano é a maior registada nos últimos cinco anos, tendo em conta igual período. A área desmatada foi de 1034,4 km², 10,65% superior ao registado no mesmo mês do ano passado (934,81 km²).
Ainda segundo os dados divulgados pelo Inpe, registam-se 14 meses consecutivos de crescimento da desflorestação por comparação com igual período do ano anterior. No total, foi devastada uma área de 7566 km², face aos 4589 km² no período compreendido entre Agosto de 2018 e Junho de 2019. O aumento é de 65%.
Alertas
Organizações de defesa do ambiente têm vindo a alertar para o problema desde o início do governo de Jair Bolsonaro. Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirma que o Brasil está no seu pior momento da agenda ambiental.
«Enquanto o Planalto [sede do governo] se esforça para tentar enganar o mundo de que preserva a Amazónia, a realidade dos números revela que o governo Bolsonaro está colaborando na destruição da maior floresta tropical do planeta», disse, citado pelo Brasil de Fato.
Vários ataques ao Inpe
Tendo em conta a divulgação de dados que efectua, o Inpe tem sido alvo de ataques por parte do presidente brasileiro. Quando, em Julho de 2019, os dados apontavam também para a desflorestação histórica da Amazónia, Bolsonaro classificou-os como «sensacionalistas», procurou ridicularizá-los e atacar a ciência.
Ricardo Galvão, na altura o director do Inpe, recusou-se a maquilhar os dados e, acusado de estar ao serviço de «organizações ambientais estrangeiras», foi demitido, a 2 de Agosto.
Galvão, muito apoiado pelos cientistas brasileiros, defendeu os dados e refutou as acusações. Numa entrevista ao Brasil de Fato, em Setembro do ano passado, disse não se arrepender do trabalho feito mas afirmou que teme a perda do prestígio internacional alcançado pela ciência brasileira nas últimas décadas.
Em Dezembro, a revista britânica Nature escolheu-o como um dos dez cientistas do ano.
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