Os refugiados palestinianos Chatila e Reda já perderam o entusiasmo com Atenas, cidade escolhida para tentarem uma nova vida sem guerra, sem pobreza. No entanto, Atenas nunca os recebeu de facto e vivem à margem da lei, sem documentos, sem dignidade ou perspectivas. Mas há um novo objetivo que lhes traz esperança: ir para a Alemanha.
Este «buddy-movie à beira do abismo», como caracteriza o realizador Mahdi Fleifel, leva-nos, combinando um tipo pragmático e um tipo sensível, a percorrer as várias dificuldades enfrentadas pela dupla. O drama está sempre a oscilar entre o marasmo da condição de refugiados e as recorrentes desventuras que teimam em lhes acontecer quando tentam mudar de vida. As atuações de Mahmoud Bakri e Aram Sabbah, subtis e genuínas, trazem-nos breves momentos de leveza que são a excepção à cruel realidade dos refugiados.
Mesmo sem nenhuma imagem da Palestina, a tragédia «palestiniana» é transmitida de forma incontornável. Os primos Chatila e Reda poderiam ser refugiados de qualquer país, mas são da Palestina. A dupla já não vivia em Gaza ou na Cisjordânia antes de optarem por Atenas. A sua condição de expatriados é anterior, é desde suas vidas no Líbano como tantos outros palestinianos foram forçados a fazer nas últimas sete décadas. Uma terra que não é a deles e para onde também não lhes é aconselhado retornar. A dupla de protagonistas e tantos outros na história não querem ficar onde estão, mas também não conseguem avançar para um outro lugar, ou voltar de onde vieram e, muito menos, conseguem regressar à sua terra natal.
Mahdi Fleifel, ele próprio palestiniano exilado na Dinamarca, conta numa entrevista que a história do filme é uma fusão entre ficção e documentário. «Encontrei muitas pessoas como Chatila e Reda, aquelas que conseguiram e aquelas que não conseguiram. Reda é baseado na pessoa real», explicou o autor que criou os dois protagonistas a partir das duas facetas desta pessoa real que ele próprio documentou em 3 Logical Exits (2020) e A Man Returned (2016).
Não há espaço para moralismo em Uma Terra Desconhecida, porque também não há o olhar externo e julgador. Durante 1h45 de filme, vivemos perto dos personagens nas mais precárias instalações, alimentamo-nos mal como eles, e somos cúmplices de seus pequenos delitos, porque precisamos sobreviver e não nos é oferecido nenhum caminho alternativo.
Estreia em Portugal
A longa estreia em Lisboa esta quinta-feira, dia 24 de Julho, e terá sessões por todo território nacional a partir do dia seguinte. As cidades com sessões já confirmadas são: Lisboa (Cinema Ideal, Cinema City Alvalade e Cinema Nimas), Porto (Cinema Trindade), Almada (Almada Fórum), Coimbra (Casa do Cinema de Coimbra), Maia (Mira Maia Shopping), Ovar (Cinema Vida), Funchal (Fórum Madeira), sendo que novas cidades e sessões podem vir a ser anunciadas.
Para além do drama da tela, a distribuidora portuguesa do filme, a The Stone and the Plot, comprometeu-se com o drama real daqueles que hoje são vítimas do genocídio palestiniano. Um quinto da bilheteria do filme em Portugal será doada à Seeds of Hope Educational Tent, uma ONG que leva esperança e acolhimento através de programas de educação para milhares de crianças em Gaza.
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