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As gerações de construtores das 40 Festas do Avante!

Nós, os construtores

É já nos dias 2, 3 e 4 de Setembro a 40.ª Festa do Avante!. Depois de divulgarmos o programa, mostramos um pouco da história da construção desta Festa, pela boca de quem tem o papel activo.

Da esquerda para a direita: Francisco Corrula (69 anos, serralheiro civil), Francisco Palma (75 anos, electromecânico), Susana Ramalho (43 anos, tradutora) e Kaoê Rodrigues (de 19 anos, estudante de História)
Da esquerda para a direita: Francisco Corrula (69 anos, serralheiro civil), Francisco Palma (75 anos, electromecânico), Susana Ramalho (43 anos, tradutora) e Kaoê Rodrigues (de 19 anos, estudante de História)CréditosElsa Severino / AbrilAbril

A Festa do Avante! não é um festival como os outros. Os seus nove palcos têm concertos dos mais diversos estilos musicais, mas também tem presente o teatro, o cinema, a ciência, o desporto, ou a mais variada cultura regional, da qual se destaca a gastronomia, e também internacional, com vários países do mundo representados.

Este evento político-cultural organizado pelo PCP traz ainda questões políticas à discussão com os visitantes, através de debates ou do que chamam «brigadas de contacto», que basicamente conversam com os visitantes da Festa sobre temas da situação política e social actual.

Não se trata de uma Festa diferente apenas pelo seu eclético programa, mas também pela forma como se constrói. As Festas foram e são construídas com o trabalho voluntário, a que os comunistas chamam «trabalho militante», de milhares de pessoas ao longo de 40 anos. Mais novos ou mais velhos, são muitos homens, mulheres e jovens que passam pela experiência de construção de um evento que muitos designam como «Terra dos sonhos». E a participação também passa por quem não é militante do PCP.



 

Elsa Severino / AbrilAbril

Aquilo a que se chama «jornadas de trabalho» (trabalho de construção ao fim de semana) começa logo desde Junho, e quisemos saber o que trazia tanta gente a trabalhar neste espaço, abdicando de fins-de-semana de praia ou mesmo de férias. Nada melhor que os próprios construtores, representantes de diferentes gerações, para nos revelar.

«aprendi a fazer chão porque estava ao pé de um camarada que me ensinava»

Kaoê Rodrigues

Francisco Corrula tem 69 anos, foi serralheiro civil, e participa desde a construção da primeira Festa do Avante!, em 1976, na FIL. É com visível emoção que nos diz que «é uma vivência extraordinária. É uma Festa em si de solidariedade, de amizade, e cada um dá aquilo que pode, do melhor que sabe». Já Kaoê Rodrigues, de 19 anos, estudante de História e militante da Juventude Comunista Portuguesa, destaca que o que se está a construir é «um espaço colectivo», e revela-nos que «há malta que vem para aqui depois do trabalho para ajudar». «Eu próprio abdiquei das minhas férias», revela, afirmando que «os jovens têm no seu espírito que estão a construir algo grandioso, e por isso prescindem de várias coisas para dar aqui o seu contributo».

Susana Ramalho tem 43 anos e é tradutora. Diz-nos que na Festa «as pessoas estão alegres a fazer isto, porque é viver durante um tempo aquilo que nós gostávamos que fosse a nossa sociedade todos os dias». Susana acredita que há motivação para fazer uma coisa que se acha importante, e sublinha: «estás a fazer da forma como acreditas que uma sociedade justa devia funcionar – com entre-ajuda, com solidariedade, com organização. Porque na realidade isto é uma organização brutal, em que tu chegas, e sem ninguém ser obrigado a fazer nada, sem ninguém te impor nada, existe uma organização e existe uma gestão das mais valias de cada um».



 

Elsa Severino / AbrilAbril

«Quando tu fazes uma coisa, que tem um objectivo final que tu entendes que vale a pena, tens sempre mais facilidade em aprender»

Susana Ramalho

Eugénio Palma já tem 75 anos, foi electromecânico, e já participa na construção da Festa desde a primeira que ocorreu na Ajuda, em 1979. Quando confrontado com a pergunta sobre o que o faz continuar a participar no trabalho de construção, ele afirma emocionado que «hoje é precisamente a recordação de todos os anos por que tenho cá passado», lembrando-se «dos camaradas» que o acompanharam aqui e deixando uma mensagem para os que já não estão em condições de cá trabalhar: «que se recomponham, e que mesmo não podendo vir trabalhar, pelo menos venham cá à Festa».

Uma Festa onde se transmitem conhecimentos e convive-se entre gerações

Em grande parte, a Festa do Avante! é também construída por quem não tem qualquer formação naquilo que exige a sua construção. Sobre isto, Francisco Corrula lembra no entanto que, «como somos um partido da classe operária, há as várias especialidades – serralheiros, soldadores, carpinteiros, pedreiros – e cada um dá o seu contributo». Afirma ainda que «é uma transmissão que se mantém. Os mais velhos dão aos mais novos a experiência daquilo que sabem». Kaoê Rodrigues revela que «há sempre alguém mais experiente que nos ensina». E dá um exemplo seu: «aprendi a fazer chão porque estava ao pé de um camarada que me ensinava».

Eugénio Palma confirma que «a aprendizagem passa dos mais velhos para os mais novos. Mais tarde serão esses que estarão a ensinar outros». Já Susana Ramalho fala do sentido de militância. «Porque a militância faz-te ter uma dedicação a uma tarefa que te leva às vezes a quebrar limites que tu tinhas e isso vê-se na construção da Festa e nas outras coisas todas que fazemos. Quando tu fazes uma coisa que tem um objectivo final que tu entendes que vale a pena tens sempre mais facilidade em aprender». Por outro lado, fala da «capacidade que os camaradas têm de passar a palavra, de passar conhecimentos e ajudar a explicar como é que se faz, acompanhando o inicio da tarefa, que é uma coisa que na nossa vida, mesmo na profissional, nem sempre acontece».



 

Paulo Oliveira

Os construtores também falam do ambiente que se vive na construção da Festa do Avante!. Kaoê Rodrigues fala em centenas de jovens que participaram este ano nas jornadas de trabalho. Revela que, para quem vem, «é outra Festa que está a conhecer – é um bom sentimento, porque a malta volta sempre». Quanto à interacção entre gerações, o jovem afirma que há constante contacto, que aprendem com os mais velhos, e que esta interacção também se faz nos momentos de convívio. Eugénio Palma refere-se a um sentimento de colaboração que vai passando de geração em geração, que acredita que se manterá «daqui para a frente».

«Nós considerarmos que todos têm alguma coisa a contribuir. Novo ou velho, há sempre uma experiência que tu podes partilhar e isso cria um respeito entre gerações», afirma Susana Ramalho. «Encontramos gente de todos os pontos do país com vontade de conviver, discutir, de aprender. Gerações que vão continuar a interagir porque isto é uma Festa de futuro», sublinha Francisco Corrula.



 

Construção da Festa do Avante! de 1977 no Jamor

Ao longo destes 40 anos também se sentiram evoluções nos próprios mecanismos de construção, contam-nos os construtores. Modernização, novas ferramentas, melhores infra-estruturas, maior facilidade no trabalho.

Todos admitem que já fizeram de tudo um pouco, e alguns não aprenderiam várias coisas se não fosse na Festa. «Não, não aprendia de certeza. Não aprendia a fazer chão nivelado noutro sítio qualquer», revela Kaoê sorrindo.

Alguns revelam-nos as primeiras imagens que tiveram da Festa. Eugénio Palma lembra-se que a primeira tarefa na primeira Festa na Ajuda foi a de capinagem, e que na altura ainda não sabia como seriam os dias da Festa. A imagem mais forte que tem Susana é um concerto dos Trovante, «há muitos anos na Ajuda», quando ainda era criança.

Mas, nesta Festa, o trabalho não se resume à construção do espaço. Divulgação através de propaganda, a venda da Entrada Permanente (EP), a organização de transportes, a preparação de equipamentos e abastecimentos são exemplos de outras «tarefas». Tudo feito com o trabalho de militantes e simpatizantes.



 

Esta é a 40.ª Festa, e estará maior, com a aquisição e abertura da Quinta do Cabo. As expectativas são altas. Kaoê acha que vai ser «uma Festa de arromba», com mais espaço, mais festa. «Todas as festas são excepcionais, mas acho que esta deve subir mais a fasquia», diz-nos o jovem comunista. Susana acha que «vai ser uma festa enorme, melhor, maior, vai vir muita gente», e sublinha o facto de conseguirem ter 40 anos de Festa do Avante!, «com trabalho militante, com dedicação de tanta gente na construção e na própria Festa, sobretudo num contexto dos problemas que a população tem passado».

É já nos dias 2, 3 e 4 de Setembro, na Atalaia, Amora, Seixal, a Festa do Avante!, em que se pode entrar nos três dias por 23 euros.

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