O mês de Março, na programação da Fundação José Saramago (FJS), é dedicado à obra do Nobel português Ensaio sobre a cegueira.
Nesse contexto, serão projectados no Auditório da FJS, na próxima quarta-feira, 13 de Março, pelas 18h30, excertos de Se podes olhar vê, se podes ver repara e Ensaio sobre o teatro, os dois documentários realizados por Rui Simões sobre a encenação, produzida pelo grupo de teatro O Bando em 2004, daquela obra literária. A seguir à projecção o leitor terá oportunidade de conversar com o realizador e alguns dos actores que integraram o espectáculo. A entrada é livre, sujeita à lotação da sala.
Os documentários da peça
O documentário Se podes olhar vê, se podes ver repara (2004) recebeu a Menção Especial do júri no FIKE em 2004 (Évora) e foi considerado o melhor documentário do Caminhos do Cinema Português em 2005 (Coimbra), e Ensaio sobre o teatro (2006) recebeu o Prémio Especial do Júri da Juventude no Famafest 2007 (Famalicão).
Rui Simões, o realizador de ambas as obras, estudou Realização de Cinema e Televisão no Institut des Arts de Deffusion em Bruxelas. Iniciou uma relação profissional com o cinema ainda na Bélgica, como fotógrafo de cena, mas é em 1974, em plena Revolução de Abril, que desembarca em Lisboa e realiza um conjunto de filmes marcantes sobre a realidade portuguesa da altura. Desde 1982 criou imensos trabalhos, a maior parte na forma de documentário, desenvolvendo, também obras relacionadas com as artes (pintura, dança, teatro, arquitectura, música, etc.). Em 1986 fundou a produtora e distribuidora Real Ficção, que continua a dirigir.
A encenação de Ensaio Sobre a cegueira pela Cooperativa de Produção Artística Teatro Animação O Bando CRL (Teatro O Bando) marcou, à altura, o 30.º aniversário da companhia fundada em 1974 e desde então liderada por João Brites, num percurso marcado pelo questionamento de valores universais. Na apresentação da peça pode ler-se que a mesma, «tomando como ponto de partida a alegoria "fechar os olhos para ver melhor” – que de forma quase literal deu o nome ao projecto Deixar de Ver para Ver Melhor, primeira investida na obra de Saramago –, O Bando retoma a reflexão sobre a cegueira, não daqueles que estão privados do sentido da visão, mas dos que vendo, não enxergam. A mensagem parece clara: "Quando todos fecharmos os olhos e os voltarmos a abrir, será possível ver, construir e criar um mundo diferente, mais justo, mais livre.”»
Uma exposição teatral: «a matéria invisível»
Na sede da FJS poderá também ser vista durante o mês de Março uma exposição retrospectiva do espectáculo teatral encenado pel’O Bando a partir da obra literária homónima de José Saramago. A ideia partiu da vontade do colectivo teatral de partilhar com o público, e em especial com o público que visita a Fundação, o trabalho desenvolvido em torno da referida obra.
A exposição resulta de um apurado trabalho de pesquisa e recolha de materiais, graças ao arquivo criado pelos produtores do Teatro O Bando, Natércia Campos e André Pato, e ao próprio espólio existente na sede da companhia, em Vale de Barris, Palmela. Documenta integralmente o processo de trabalho, desde a sua conceptualização, criação, metodologias da companhia, processo de ensaios e carreira do espectáculo.
Como muito bem se escreve na apresentação afixada na página da FJS, ao visitar a exposição – o que pode fazer de segunda-feira a sábado, das 10h às 18h, até 30 de Março – o visitante acederá a «essa matéria invisível que permite fazer nascer um espectáculo teatral».
Um motivo acrescido para visitar a Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, rua dos Bacalhoeiros n.º 10, em Lisboa.
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