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Editora de poesia do «New York Times» demite-se contra a guerra em Gaza

Anne Boyer resignou do cargo de editora de poesia do New York Times menos de um dia depois de finalistas do National Book Award terem condenado, em palco, a guerra conduzida por Israel em Gaza.

Anne Boyer no Centro Cultural Kirchner, durante o «Festival Internacional de Poesía Ya!». Buenos Aires, Argentina, 8 de Fevereiro de 2023 <br /> 
CréditosSilvina Frydlewsky / Ministerio de Cultura de la Nación

«Foram 24 horas espantosas para os escritores demonstrarem coragem moral», escreveu Dan Sheehan no Literary Hub, referindo-se à demissão de Anne Boyer como editora de poesia da revista do New York Times (NYT), ocorrida na manhã seguinte a mais de uma dúzia de finalistas do National Book Award terem subido ao palco para se pronunciarem contra os bombardeamentos levados a cabo por Israel em Gaza e a favor de um cessar-fogo imediato.

Sheehan qualifica de «extraordinária» a carta de demissão em que Boyer «aponta directamente para a linguagem usada pelo seu empregador (agora ex-empregador) na cobertura da guerra contra Gaza».

«O lucro mortífero dos interesses petrolíferos e dos fabricantes de armas»

Anne Boyer é autora de vários livros de poesia e ensaio, entre os quais The Romance of Happy Workers (2008), Garments Against Women (2015) e A Handbook of Disappointed Fate (2018). Recebeu os prémios Firecracker (2016), Whiting e Cy Twombly (ambos em 2018), de poesia, e os prémios Whiting (2018) e Windham-Campbell (2020), em não-ficção. A sua mais recente obra, The Undying: Pain, vulnerability, mortality, medicine, art, time, dreams, data, exhaustion, cancer, and care (2019), ganhou o Prémio Pulitzer de não-ficção geral de 2020.

Demitiu-se na passada quinta-feira do NYT por discordar da guerra conduzida contra o povo de Gaza por Israel, com o apoio dos EUA, e da cobertura noticiosa feita pelo jornal dessa guerra. Demitiu-se por não poder «escrever sobre poesia no tom “razoável” de quem pretende acostumar-nos a um sofrimento irracional. Chega de eufemismos macabros. Chega de paisagens infernais higienizadas verbalmente. Chega de mentiras belicistas».

A autora rejeita a ideia de que esta guerra traga segurança para Israel, os EUA ou a Europa, e muito menos para o povo judeu, «caluniado por aqueles que afirmam falsamente lutar em seu nome». Para estes, «o único lucro é o lucro mortífero dos interesses petrolíferos e dos fabricantes de armas», previne.

Esta é «uma guerra continuada contra o povo da Palestina, povo que resistiu durante décadas de ocupação, deslocações forçadas, privação, vigilância, cerco e tortura». Por tudo isto, «às vezes, a mais efectiva forma de protesto para os artistas é a recusa», explica Anne Boyer aos seus leitores.

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