«Foram 24 horas espantosas para os escritores demonstrarem coragem moral», escreveu Dan Sheehan no Literary Hub, referindo-se à demissão de Anne Boyer como editora de poesia da revista do New York Times (NYT), ocorrida na manhã seguinte a mais de uma dúzia de finalistas do National Book Award terem subido ao palco para se pronunciarem contra os bombardeamentos levados a cabo por Israel em Gaza e a favor de um cessar-fogo imediato.
Sheehan qualifica de «extraordinária» a carta de demissão em que Boyer «aponta directamente para a linguagem usada pelo seu empregador (agora ex-empregador) na cobertura da guerra contra Gaza».
«O lucro mortífero dos interesses petrolíferos e dos fabricantes de armas»
Anne Boyer é autora de vários livros de poesia e ensaio, entre os quais The Romance of Happy Workers (2008), Garments Against Women (2015) e A Handbook of Disappointed Fate (2018). Recebeu os prémios Firecracker (2016), Whiting e Cy Twombly (ambos em 2018), de poesia, e os prémios Whiting (2018) e Windham-Campbell (2020), em não-ficção. A sua mais recente obra, The Undying: Pain, vulnerability, mortality, medicine, art, time, dreams, data, exhaustion, cancer, and care (2019), ganhou o Prémio Pulitzer de não-ficção geral de 2020.
Demitiu-se na passada quinta-feira do NYT por discordar da guerra conduzida contra o povo de Gaza por Israel, com o apoio dos EUA, e da cobertura noticiosa feita pelo jornal dessa guerra. Demitiu-se por não poder «escrever sobre poesia no tom “razoável” de quem pretende acostumar-nos a um sofrimento irracional. Chega de eufemismos macabros. Chega de paisagens infernais higienizadas verbalmente. Chega de mentiras belicistas».
A autora rejeita a ideia de que esta guerra traga segurança para Israel, os EUA ou a Europa, e muito menos para o povo judeu, «caluniado por aqueles que afirmam falsamente lutar em seu nome». Para estes, «o único lucro é o lucro mortífero dos interesses petrolíferos e dos fabricantes de armas», previne.
Esta é «uma guerra continuada contra o povo da Palestina, povo que resistiu durante décadas de ocupação, deslocações forçadas, privação, vigilância, cerco e tortura». Por tudo isto, «às vezes, a mais efectiva forma de protesto para os artistas é a recusa», explica Anne Boyer aos seus leitores.
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