Mensagem de erro

User warning: The following module is missing from the file system: standard. For information about how to fix this, see the documentation page. in _drupal_trigger_error_with_delayed_logging() (line 1143 of /home/abrilabril/public_html/includes/bootstrap.inc).

Sugestões natalícias sem visitar presépios

As sugestões, tanto de música como literárias, são meramente indicativas navegando à vista por preferências pessoais, sofrendo os vícios da época festiva que sempre nos assaltam.

«Elle», de Paul Verhoeven
«Elle», de Paul VerhoevenCréditos

Primeiro, o cinema por ter Ken Loach como a sua estrela cintililante em Dezembro. Uma estrela que sempre esteve fora e contra o star system que inquina a nossa cultura pós-moderna.

Ken Loach tem a raríssima qualidade de ter sido sempre, sem uma falha nem uma rasura, um cineasta política e socialmente empenhado e ser quem abriu os caminhos para a renovação do cinema inglês, rasgando novos horizontes por onde caminharam realizadores como Mike Leigh, Stephen Frears, Larry Clarke, David Leland e muitos os outros. Em Inglaterra há um cinema antes e outro depois de Ken Loach, o que diz tudo sobre ele como artista.

Todos os seus filmes mergulham com coerência numa cultura política marxista. Toda a sua extensa obra, sem nenhuma concessão, está centrada na descrição das condições de vida da classe operária, nos dramas pessoais e familiares provocados pela destruição das políticas públicas de bem-estar social, nas tragédias dos emigrantes clandestinos.

Filmes e documentários para a televisão fazem um retrato real e feroz do lado sombrio da Grã-Bretanha pré, durante e pós-Thatcher mais as derivas do trabalhismo terceira via, a social-democracia thatcherista de traição aos revisionistas que ainda se iludiam com uma democracia que queriam que fosse o terreno da luta de classes pacífica.

O capital se antes esfregava as mãos agora chamava-lhes um figo. Um retrato que se torna universal neste nosso tempo em que numa extensão sem precedentes, cada vez mais habitantes do planeta perdem a esperança e são atirados para a exclusão, a riqueza global vai-se concentrando num número cada vez menor de mãos. Em que em nome da racionalização e da modernização da produção, se regressa ao barbarismo dos primórdios da revolução industrial.

É este mundo em mudança, doente em retrocesso sem dignidade e sem uma gota de dignidade para oferecer, que Kean Loach filma demonstrando que não há realismo sem humanismo. De Kean Loach no circuito comercial, «Eu, Daniel Blake», em várias salas de cinema e um documentário sobre a sua vida e obra «Versus – A vida e os filmes de Ken Loach», de Louise Osmonde, no cinema Ideal, em Lisboa.

Ken Loach Créditos

Na Cinemateca Portuguesa um ciclo justamente intitulado «Ken Loach – A Obstinação do Realismo». Uma oportunidade rara para descobrir este realizador (quase) desconhecido em Portugal.

Este Dezembro na Cinemateca, a Cinemateca é sempre uma referência para os cinéfilos, tem mais motivos para lá se ir. Outro ciclo a não perder é o dedicado a Fonseca e Costa. Seria autor central da nossa cinematografia, um dos realizadores nucleares na renovação do cinema em Portugal. Depois da estreia do seu último filme «Axilas», em Maio deste ano, a Cinemateca apresenta, assim, uma retrospetiva integral do seu trabalho e um bem elaborado catálogo, tanto da obra realizada em cinema como séries de televisão e trabalhos promocionais realizados ao longo das últimas cinco décadas, ficando apenas de fora participações como ator ou em publicidade, onde fez, como muitos outros realizadores da sua geração e por questões de sobrevovência, algumas incursões de referência.

Cinema ainda no circuito comercial: «Elle», de Paul Verhoeven, em que Isabelle Huppert, sempre no gume da navalha e ainda mais extraordinária na sua já extraordinária capacidade de representação em que qualquer gesto, qualquer olhar é significamte. Sem ela, provavelmente «Elle» não existiria, certamente não seria este filme inquietante e que inquieta, não seria a história em que as evidências nunca são o que parecem ser, em que a vítima se torna uma agressora, moralmente ambígua e politicamente incorrecta.

Como estamos em época natalícia são de referir vários programas musicais que celebram a época festiva. Em Lisboa, no grande Auditório da Fundação Gulbenkian, com o Coro e Orquestra Gulbenkian dirigidos pelo maestro Jorge Matta, «Natais do Mundo», música da Europa, Israel, América Central e do Sul e dos Estados Unidos da América, dia 18 de Dezembro, dois concertos um às 11h outro às 16h. Com os mesmos intérpretes e a participação de Eduarda Melo, soprano; Carolina Figueiredo, meio-soprano; Marco Alves dos Santos, tenor; Tiago Matos, barítono; «Te Deum», na Igreja de São Roque a 31 de Dezembro, às 17h.

Dois «Te Deum», os de Charpentier e o de Arvo Part. Ainda em Lisboa, o Teatro de São Carlos, entre 1 e 23 de Dezembro, propõe um Festival de Natal que ocupa três espaços, Sala Principal e Foyer, Estúdios da Victor Cordon-Centro Educativo e Grande Auditório do CCB.

Concertos Corais, Concertos e Oficinas para Crianças e Jovens e Concertos Sinfónicos para Famílias, num total de 13 concertos. Consulte o programa onde encontrará muitos concertos ou outras actividades com interesse para que o Natal tenha muita música.

Muita música também no programa Natal em Lisboa 2016, da EGEAC. Começou a 1 e acaba a 17 de Dezembro. Em várias igrejas de Lisboa, algumas bem notáveis como a de São Roque ou São Vicente de Fora, isto sem desmerecimento das outras, vários concertos com diversos agrupamentos musicais em que participam muito jovens e já talentosos músicos da Escola do Conservatório de Lisboa, da Escola Superior de Música, do Instituto Gregoriano, do Coro Juvenil da Universidade de Lisboa e consagrados como os Coros Vivarte e Ricercare ou Os Músicos do Tejo.

Consultem o programa. As entradas são livres sujeitas à lotação dos espaços. Aproveitam para visitar belos edíficios do nosso património monumental.

No Porto, na Casa da Música, também se celebra o Natal: de 11 a 23 de Dezembro. «Música para o Natal» é um excelente e variado programa que se inicia com «O Quebra-Nozes», com os personagens mais famosos dos contos russos e de todas as histórias de Natal.

As aventuras do herói vão ser contadas pela Orquestra Sinfónica do Porto, maestro Michail Jurowski. Segue-se a música barroca com a Orquestra Barroca e o Coro que cantam a natividade com uma das obras mais representativas da música sacra do Barroco, a «Missa para o Santíssimo Natal», de Alessandro Scarlatti. Outros agrupamentos convidados, o Coro do Círculo Portuense de Ópera, comemorando o seu 50.º aniversário na companhia da Orquestra Sinfónica da ESMAE, e a Banda Sinfónica Portuguesa, completam o programa.

Em época natalícia, para quem anda à procura das normais ofertas nesta época, sugestões que são isso mesmo, restritas à música sinfónica e ao jazz, o que deixa de fora muitas outras igualmente interessantes.

Na música sinfónica os «Lieder de Schubert», por Mathias Goerne, acompanhado ao piano por Elisabeth Leonskaja e Christoph Eschenbach; «The Art of Nikolaus Harnoncourt», uma antologia desse genial maestro que foi uma das figuras centrais do que chamou talvez impropriamente «Nova Música Antiga», com as suas mais recentes incursões na época clássica; «Dixit Dominus», Vivaldi, Haendel e Mozart em magnificentes interpretações da Capella Raial da Catalunya dirigida por Jordi Savall; «Cantiga-Trobadores de Galiza e Portugal», pelo Ensemble Resonet, que recria a música de trovadores e jograis portugueses e galegos dos séculos XIII-XVII. 

Pedro Neves Trio Créditos

No jazz, revisitar o free jazz de Albert Ayler, um saxofonista errático quase maldito, «Albert Ayler Quartet», em raríssima gravação em estúdio, e uma nova geração de músicos portugueses que dispara sempre bem em várias direcções, «Black Hole», pelo quarteto de Eduardo Cadinho, «05:21» pelo trio de Pedro Neves e «A Vida de X» pelo quarteto de Miguel Ângelo.

Nos livros assinalem-se, por razões diferentes, duas feiras do livro. Em Lisboa, a já tradicional Festa do Livro da Fundação Gulbenkian onde até 22 de Dezembro encontra mais de 500 obras editadas pela fundação que podem ser compradas a preços reduzidos.

Livros, catálogos, roteiros de exposições, manuais universitários e clássicos da literatura e da filosofia de mais de quatro décadas de publicações da Fundação, uma oportunidade a não perder. Se vive no Algarve ou vai ao Algarve, a não perder também em Faro a Feira do Livro no Centro Trabalho do PCP. Muitos livros com algumas surpresas e a presença de autores algarvios Adão Contreiras, Carina Infante do Carmo, Damião Pereira e Fernando Martins que a animam culturalmente.

Livros para o Natal são muitos. A oferta de livros infanto-juvenis reforça-se nesta época. Outros livros são de ter em atenção. A reedição de clássicos é uma quase norma dos editores nacionais, a ela não deve ficar indiferente até porque algumas são edições revistas, algum destaque deve ser dado aos clássicos russos, embora nem sempre se perceba porque se reedita e bem «Quarteto de Alexandria», de Lawrence Durrel, num só volume que torna pouco manuseável tão notável romance que deve figurar em qualquer biblioteca.

Capa da edição

Algumas e limitadas sugestões para quem ainda não tem estes livros. De autores portugueses, «Não se pode morar nos olhos de um gato», de Ana Margarida de Carvalho, «Deus-Dará», de Alexandra Lucas Coelho, «Era uma vez um homem», de João Nuno Azambuja, «A escada de Istambul», de Tiago Salazar e «Karen», de Ana Teresa Pereira.

Cinco romances marcantes a que se acrescentam três livros de poesia. «Roturas e ligamentos» de Rita Taborda Duarte, «Poesia completa» de Manuel de Barros e «Obra completa de Ricardo Reis».

Dos estrangeiros, «A bilioteca à noite», de Alberto Manguel, sobre o enigma e o fascínio das bibliotecas com base na sua mítica biblioteca pessoal. Dois escritores norte-americanos bem conhecidos: Henry Miller, «O tempo dos assassinos», e Philip Roth, com um dos seus primeiros livros, «Quando ela era boa», não devem ser ocultados por um (quase) excesso de oferta.

A vida de marinheiro de Joseph Conrad marca o seu universo literário, «Histórias aquáticas» são três contos notáveis desse polaco que por opção se tornou num dos grandes escritores de língua inglesa.

Por aqui ficamos, desta vez foram as exposições e os museus omitidos mas não esquecidos. Não deixem de ver a obra de Pedro Chorão na Cordoaria Nacional e na Fundação Carmona e Costa, e a de Sofia Areal na galeria João Esteves da Silva, em Lisboa.

No Porto, até 31 de Dezembro, Amadeo Souza Cardozo, indesculpável não ver. As sugestões, tanto de música como literárias, são meramente indicativas navegando à vista por preferências pessoais, sofrendo os vícios da época festiva que sempre nos assaltam.

Boas Festas para todos.

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui