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Dentro da cabeça de Cardoso Pires

Um dos maiores escritores portugueses do século XX é novamente levado ao Cinema. «Sombras Brancas», uma adaptação de De Profundis Valsa Lenta, de José Cardoso Pires, chega às salas em Abril.

Fumar ao Espelho, de José Cardoso Pires, <em>Diário de Bordo</em> (1998), realizado por Manuel Mozos. 
"Fumar ao Espelho", de José Cardoso Pires, Diário de Bordo (1998), realizado por Manuel Mozos. CréditosManuel Mozos

José Cardoso Pires, o escritor substantivo, que perseguia adjectivos da sua própria prosa, depurava-a, até a deixar, como ele próprio dizia, «no osso» marcou uma geração, mas não apenas a das letras. Também no cinema foi um autor cuja obra atraiu cineastas. Desde A Balada da Praia dos Cães (adaptado em 1987 por José Fonseca e Costa) até a sua obra magna, o romance o Delfim (realizado por Fernando Lopes, em 2002, com argumento de Vasco Pulido Valente).

Chega agora a vez de De Profundis Valsa Lenta, um dos seus últimos livros, uma autoficção publicada um ano antes da sua morte, em 1998, e que relata a realidade difusa e fragmentada que se instalou no cérebro desgovernado do escritor, vitimizado por um AVC, aos 71 anos. 

Com estreia marcada para 20 de Abril, o filme «Sombras Brancas» é realizado por Fernando Vendrell e tem argumento assinado por Rui Cardoso Martins. Cardoso Pires é interpretado pelos actores Rafael Gomes e Rui Morisson, e a sua mulher, Edite, pelas actrizes Ana Lopes e Natália Luíza.

E é talvez o mais inadaptável dos enredos e dos temas. Em De Profundis, Valsa Lenta, Cardoso Pires narra as suas deambulações cerebrais, a sua perplexidade perante as rotinas hospitalares, os questionamentos médicos, perante os objectos do quotidiano, sobretudo perante as palavras. De súbito, não era a célebre página em branco que o atormentava. Mas o seu próprio cérebro estava em branco, assomado de uma frieza e de uma indiferença perturbadora para os seus amigos e familiares. 

Como se os seus pensamentos tivessem sido sequestrados, andassem a monte. Nunca Cardoso Pires descreve o que lhe acontecia com desespero, era antes um estado de estranhamento, que se tornava quase curiosidade por esse bizarros labirintos de evasão da memória, em que se baralhavam presente e passado. E agora José?

Uma manhã acordou e não se lembrava do nome. Ou tinha uma vaga lembrança: «Parece que é Cardoso Pires», respondeu à mulher. Já no hospital descreve a apatia que sentia perante tudo o que o rodeava, como se um náufrago à tona de qualquer comoção ou afecto. Recorda como dava nomes aleatórios às coisas, inventava um vocabulário absurdo que, na altura, lhe parecia justo e adequado. E uma forma de escrita que só para ele fazia sentido. Estava acometido de uma espécie de afasia que lhe afectava a fala e a fluência.

Entretanto, intrometiam-se memórias, ou antes uma espécie de ecos, como se ele estivesse parado num tempo sem tempo, em que as palavras lhe chegavam «cegas», numa «travessia das trevas brancas». 

«Isto de alguém se recomeçar assim depois de nulo é algo que deslumbra e ultrapassa».

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