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«Dia da Terra» trágico em Gaza

Israel reprimiu com brutal violência uma marcha lembrando os seis palestinianos mortos em 1976, em luta contra a expropriação das suas terras. Desta feita fez 16 mortos e mais de um milhar de feridos.

Pelo menos oito palestinianos foram mortos e cerca de 500 ficaram feridos esta sexta-feira em protestos na Faixa de Gaza. Exército israelita matou jovem de 16 anos e um agricultor, que estaria a colher salsa. Faixa de Gaza, Palestina, 30 de Março de 2018.
Pelo menos oito palestinianos foram mortos e cerca de 500 ficaram feridos esta sexta-feira em protestos na Faixa de Gaza. Exército israelita matou jovem de 16 anos e um agricultor, que estaria a colher salsa. Faixa de Gaza, Palestina, 30 de Março de 2018.CréditosIbraheem Abu Mustafa / Agência Lusa

A 30 de Março os palestinianos comemoram o Dia da Terra. Nesse dia, em 1976, no Norte de Israel, foram assassinados seis palestinianos que protestavam contra a expropriação de terras para dar lugar a aldeamentos judaicos. Cerca de 100 outras pessoas ficaram feridas e centenas foram presas durante a greve geral e as grandes manifestações de protesto que, no mesmo dia, ocorreram no território do Estado de Israel.

Este ano, como nota em comunicado o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), a comemoração atingiu uma dimensão inusitada ao tornar a celebração deste dia o primeiro de uma «Grande Marcha do Regresso» – uma reclamação do direito de regresso dos refugiados aos seus lares, tal como prescreve a resolução 194 das Nações Unidas –, a qual se pretende estender até 15 de Maio, quando se completarão 70 anos sobre o Dia da Catástrofe («Nakba», em árabe) sobre a expulsão de mais de 700 000 palestinianos por Israel, em 1948.

Não obstante o seu carácter eminentemente pacífico a «Grande Marcha do Regresso» foi marcada, desde as suas primeiras horas, por uma brutal repressão cujas consequências foram estimadas, inicialmente, em seis vítimas mortais e algumas centenas de feridos para, com o final do dia, atingirem o trágico balanço de 16 mortos e cerca de 1500 feridos – segundo Ashraf al-Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde em Gaza, em declarações registadas pela Press TV.

Um enorme manifestação

Do que não há dúvidas é de que se tratou de uma das maiores manifestações palestinianas junto à fronteira Gaza-Israel, em anos recentes. Famílias inteiras palestinianas – homens e mulheres, jovens e crianças – acamparam a poucas centenas de metros da barreira de segurança israelita, respondendo aos apelos lançados pelo movimento de resistência Hamas.

Foram dezenas de milhar (fontes militares israelitas referem «30 mil») os manifestantes que se dispuseram em cinco pontos ao longo da fronteira de 65 quilómetros, ergueram tendas, desenharam campos de futebol, cantaram, preparando-se para um protesto de seis semanas – referiram autoridades locais à Al Arabiya.

O trágico desenlace

Antes dos protestos, Israel reconhecia já ter «duplicado o dispositivo militar ao longo da fronteira», incluindo «unidades paramilitares de fronteira, forças especiais e atiradores de elite (snipers)1» – conjunto de unidades que considera «adequadas ao controlo de distúrbios», como refere o Daily Star, de Beirute. Blindados e tanques também reforçaram o dispositivo.

São os próprios militares israelitas a reconhecer terem sido apenas algumas «centenas de jovens palestinianos» – das dezenas de milhar de manifestantes – os que ignoraram «apelos dos organizadores e avisos dos militares israelitas para se manterem afastados» da fortemente fortificada vedação de fronteira. Para «fazer recuar» esses manifestantes, que alegadamente tentaram «danificar a vedação de segurança», com recurso a pneus incendiados e lançamento de pedras, foi lançado gás lacrimejante (incluindo a partir de drones), foram disparadas balas de borracha e mesmo tiros de munição real, incluindo disparos sobre alvos selectivos por snipers.

As forças de segurança israelitas alegaram terem sido disparados tiros, durante os protestos, «por dois operacionais do Hamas», que abateram, confirmando também não terem sofrido qualquer baixa. Ao fazê-lo, tacitamente reconhecem a brutal e injustificada violência com que actuaram, causadora dos restantes mortos e do mais de um milhar de feridos registados entre os manifestantes, neste que foi o primeiro e sangrento dia de seis semanas de luta.

O exército israelita ainda «bombardeou três locais do Hamas na faixa de Gaza, com disparos de blindados e através de ataques aéreos» – em represália contra os disparos recebidos pelas suas tropas.

Consequências

A indignação pela actuação israelita fez alastrar os protestos a outras áreas da Palestina, separadas geograficamente da faixa de Gaza, nomeadamente em Jericó, Nablus e Belém. Não só os palestinianos mas também a Turquia acusaram Israel de «uso desproporcionado da força».

O Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio emitiu um comunicado «denunciando o uso da força contra civis nos territórios ocupados da Palestina». A Liga Árabe condenou a «selvajaria» de Israel.

O Presidente Mahmoud Abbas anunciou também este sábado, 31 de Março, um dia nacional de luto na Palestina. Declarou também responsabilizar Israel pelas mortes dos manifestantes, apelando à comunidade internacional para intervir urgentemente, protegendo o povo palestiniano contra a «escalada diária de agressão de Israel».

Conselho de Segurança da ONU reúne-se de urgência para debater violência em Gaza

Segundo a Agência Lusa, o Conselho de Segurança das Nações Unidas devia reunir-se de urgência esta noite para discutir a violência na Faixa de Gaza. A reunião, segundo fontes diplomáticas convocada a pedido do Kuwait, ter-se-á realizado a partir das 23h30 (em Portugal). Este foi o dia mais sangrento em Gaza desde a guerra de 2014 entre Israel e o Hamas, segundo a mesma agência.

O MPPM alerta o Estado e o governo português

O MPPM alerta para o «contínuo agravamento da situação na Palestina» e reclama ao Estado português a «condenação das acções repressivas do Estado de Israel» e que exija deste o «respeito pelo direito de manifestação livre».

Os Estados Unidos da América (EUA) preparam-se para, coincidindo com o 70.º aniversário da Nakba, transferir a sua embaixada de Tel-Avive para Jerusalém – cidade que, já este ano, reconheceram como a capital do Estado de Israel. Será o corolário de dezenas de anos de impunidade.

Conforme assinala o MPPM, «Israel mantém desde 1967 a ilegal ocupação militar dos territórios palestinos da Cisjordânia, de Jerusalém Oriental e da Faixa de Gaza. A sistemática política de limpeza étnica dos palestinos continua; nos territórios palestinos ocupados prossegue a espoliação de terras e a expansão dos colonatos israelitas ilegais, dos postos militares e do vergonhoso Muro do Apartheid». Além disso, no seu interior, «Israel pratica uma política discriminatória dos seus cidadãos palestinianos, negando-lhes direitos que só reconhece aos seus cidadãos judeus».

  • 1. Segundo outra fonte, o tenente-general Gadi Eizenko, chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (IDF), terá dito na quarta-feira que iria alinhar «mais de 100 atiradores de elite seleccionados em todas as unidades militares, em especial nas forças especiais» e que, «se vidas estiverem em risco, há permissão para abrirem fogo». Ver «Israeli Soldiers on Gaza Border with Permission to Shoot Palestinian Protesters», Tasnim News Agency (30/03/2018)

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