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O problema do liberalismo é que acaba quando se esgota o dinheiro público

O milagre neoliberal continua na Argentina. A uma semana das eleições intercalares, chega nova remessa de 20 mil milhões de dólares dos EUA, a juntar aos 20 já oferecidos. Trump retira dinheiro se Milei não ganhar.

Javier Milei e a sua irmã, Karina Milei, celebram a vitória do primeiro nas eleições presidenciais. Buenos Aires, Argentina, 19 de Novembro de 2023
Javier e Karina Milei. Karina, nomeada pelo irmão para o cargo de Secretária Geral da Presidência da Nação Argentina, recebeu subornos para facilitar contratos relativos a medicamentos para pessoas com deficiência.CréditosNatasha Pisarenko / AP Photo

«Estamos a trabalhar numa linha de crédito de 20 mil milhões de dólares para complementar a nossa linha de swaps, com bancos privados e fundos soberanos que, acredito, estariam mais focados no mercado de dívida», anunciou Scott Bessent, Secretário do Tesouro dos Estados Unidos da América, em declarações prestadas esta quarta-feira. Depois de investir 20 mil milhões de dólares para sustentar o peso argentino, em queda acentuada, o Governo de Donald Trump tenta agora mobilizar nova tranche para aguentar o desastre neoliberal de Javier Milei.

Esta necessidade urgente de enterrar 40 mil milhões de dólares na economia argentina não é motivada pela benevolenta mundividência do Governo norte-americano. A 26 de Outubro de 2025, realizam-se as eleições intercalares legislativas em que metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado vai a votos. Nas eleições locais de Setembro, o partido de Milei ficou a 13.4 pontos percentuais da oposição de esquerda na província de Buenos Aires, uma estrondosa derrota.

Trump nem tentou esconder o desígnio de influenciar as eleições argentinas – «se ele perder, não vamos ser generosos com a Argentina», afirmou, à margem de um encontro com Milei na Casa Branca, na terça-feira, «estou com este homem porque a sua filosofia é correcta. Ele pode ganhar ou não – acho que vai ganhar. Se ganhar, ficamos com ele; se não ganhar, vamos embora».

«Estamos a ajudar uma grande filosofia a conquistar um grande país. Queremos vê-la a ter sucesso». O sucesso pode reflectir-se no nível de vida das elites argentinas, mas as ruas contam outra história. Há várias semanas que grandes manifestação, de diferentes sectores da sociedade, são mobilizadas para protestar contra as políticas de auteridades, desde pensionistas a professores e estudantes do ensino superior e secundário.

No final de Agosto, numa das acções circenses que realiza frequentemente em público, Milei e a sua clique foram apedrejados por dezenas de manifestantes. O escândalo de corrupção que envolve a irmã do presidente da Argentina, um caso que evidencia o nepotismo a que o Estado argentino foi entregue, afundou ainda mais as taxas de aprovação de Milei, que estão nos níveis mais baixos desde a sua eleição (42%).

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