|evasão fiscal

Transferências para paraísos fiscais ascenderam a 6,8 mil milhões de euros em 2020

Cerca de 6,8 mil milhões de euros foram transferidos para offshores em 2020, um valor que supera em 14,30% o de 2019, e que teve entre os principais destinos Suíça, Bahamas, Hong Kong.

Créditos / remessaonline

Em causa estão, nas estatísticas hoje publicadas no Portal das Finanças, as transferências de residentes e não residentes que os bancos estão obrigados a reportar através do chamado Modelo 38 até ao final de Março de cada ano e onde têm de ser incluídas as transferências que excedam 12 500 euros, individuais ou fraccionadas, e que aparentem estar relacionadas entre si.

Os dados mostram que em 2020 foram realizadas transferências no valor total de 6 845 057 024 euros, mais 14,30% (cerca de 900 milhões de euros) do que em 2019, tendo a maior parcela (4 831 771 988 euros) sido realizada por residentes.

Os valores indicam que as transferências de não residentes praticamente se mantiverem idênticas ao ano anterior, mas entre os residentes registaram uma subida de 21,4%, ainda assim ligeiramente abaixo do valor registado em 2018.

|

Paraísos fiscais continuam apetecíveis e incólumes

Novas revelações comprometem poderosos da política e dos negócios com paraísos fiscais. Os Paradise Papers são um novo episódio numa longa história, mas continuam a faltar medidas para combater a evasão fiscal.

O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês) revelou um novo conjunto de documentos obtidos pelo jornal germânico Süddeutsche Zeitung (mais de 13 milhões), que revelam a utilização de esquemas de evasão fiscal através de offshore.

Depois dos Lux Leaks (envolvendo o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker), dos Swiss Leaks e dos Papéis do Panamá, as novas revelações vêm juntar nomes como o dos secretários de Estado, Rex Tillerson, e do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, de financiadores das campanhas de Donald Trump e do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, das rainhas Isabel II (Reino Unido) e Noor (Jordânia), ou de algumas das maiores multinacionais do mundo, como a Apple, a Nike e a Uber.

Os documentos revelam ligações que passam pela Appleby, um escritório de advogados especializado em mediar negócios com empresas offshore no Caribe, sedeado no paraíso fiscal de Bermuda, e pela Asiaciti, uma empresa de gestão de investimentos offshore no Sudeste Asiático, sedeada em Singapura.

Apesar de os Papéis do Panamá já terem sido divulgados há mais de um ano, a investigação jornalística ainda não resultou em alterações substantivas na regulação do sector financeiro e no combate aos paraísos fiscais.

União Europeia pouco faz para combater fuga ao fisco a nível transnacional

O Parlamento Europeu constituiu uma comissão de inquérito, em que participaram quatro deputados portugueses, e fez propostas de alteração à directiva da Comissão Europeia sobre o combate à evasão fiscal, aprovadas em Março. Apesar disso, a eficácia das medidas continuaram largamente dependentes da boa vontade do sector financeiro, já que as entidades reguladores e fiscalizadoras estão amplamente desprovidas de meios técnicos, financeiros e humanos para cumprirem o seu papel.

Vários países da União Europeia têm paraísos fiscais sob a sua jurisidição, como a Holanda, o Reino Unido ou o Luxemburgo. Em Portugal, as empresas registadas no Centro Internacional de Negócios da Madeira beneficiam de uma taxa de imposto sobre o rendimento de 5%, ao contrário dos 21% em vigor no restante território nacional. No caso dos dividendos e mais-valias, é mesmo possível alcançar uma isenção total de impostos.

A existência destas jurisdições tem sido justificada com argumentos de «competitividade fiscal», ainda que resultem em prejuízos fiscais. Nos últimos anos, muitas das maiores empresas portuguesas cotadas em bolsa constituíram sociedades na Holanda, onde a carga fiscal é mais baixa, e através das quais recolhem os lucros das suas actividades em Portugal. Devido à directiva europeia sobre o regime fiscal aplicado a estas sociedades, estão isentas de impostos sobre os dividendos que são canalizados para a Holanda.

Ligações entre BES/GES e jornalistas e políticos ainda escondidas

Ao longo de semanas, o Expresso, onde trabalha um dos jornalistas portugueses que integram o ICIJ, prometeu a divulgação de uma lista de políticos e jornalistas que terão sido avençados  do Grupo Espírito Santo (GES) e do BES. Mais de um ano depois, a lista não foi divulgada pelo semanário, apesar dos protestos do Sindicato dos Jornalistas, pela suspeita lançada e nunca concretizada.

Em Setembro, o sub-director de informação da SIC, José Gomes Ferreira, revelou detalhes sobre a forma como o GES/BES controlova o que se escrevia e dizia sobre os seus negócios nos média. Sob o manto de reuniões de trabalho ou apresentação de resultados, o GES/BES pagava autênticas semanas de férias, ora na neve ora em iates, a alguns dos jornalistas com mais espaço na nossa imprensa em matérias económicas, como o próprio José Gomes Ferreira.

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

A Suíça, com 1,58 mil milhões de euros de transferências de residentes e 1,29 mil milhões de euros por parte de não residentes, surge como o principal destino destas movimentações financeiras, seguida das Bahamas (988,8 milhões de euros) e de Hong Kong (com 953,7 milhões de euros).

Nestes dois últimos casos, é o volume de transferências de não residentes que explica os lugares cimeiros ocupados por estas duas jurisdições.

De acordo com os dados oficiais, aqueles valores tiveram por trás um total de 99 632 transferências, uma queda de 5,4% face ao número observado em 2019, sendo 87 674 de residentes e 11 958 de não residentes.

Desta forma, e apesar de o número de transferências ter mantido a tendência de descida que se tem verificado nos últimos anos, o valor transferido para territórios com regime de tributação privilegiada aumentou em 2020.


Com agência Lusa

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui