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|Pedrógão Grande

Evocação de uma catástrofe

Foi há um ano. Eram 14h43 de 17 de junho de 2017 quando se iniciou um incêndio florestal em Escalos Fundeiros, no município de Pedrógão Grande, do qual resultou uma das maiores catástrofes ocorridas em Portugal.

Uma casa arde no concelho de Pedrógão Grande (17 de Junho)
Uma casa arde no concelho de Pedrógão Grande (17 de Junho)CréditosPaulo Cunha / Lusa

Potenciado pelo estado fenológico e carga disponível de combustível e por um fenómeno meteorológico extremo, este incêndio teve como consequência a morte de 64 cidadãos, 254 feridos, elevados danos em habitações, empresas, infraestruturas, culturas e floresta.

Foram muitos os relatórios produzidos, enquanto instrumentos de análise e estudo para identificar as causas, debilidades e responsabilidades que pudessem explicar tão dramática circunstância. Estes documentos disponibilizaram um vasto conjunto de indicadores, tanto do ponto de vista da explicação técnica e científica do ocorrido, como da identificação das lacunas de ação politica de sucessivos governos, que conduziram o território rural à situação de risco em que se encontra.

Muitas das medidas identificadas e propostas pelos mencionados relatórios foram adotadas pelo Governo, tanto impulsionadas por este incêndio como pelos que voltaram a flagelar a região norte e centro do país, de 14 a 16 de outubro do mesmo ano. Porém, foram-no de uma forma desgarrada, nuns casos justificadas pela emergência das situações em causa, mas noutros apenas pela necessidade de preencher a agenda mediática e responder à pressão das oposições parlamentares.

Um ano depois, com seriedade e rigor, ninguém pode garantir a impossibilidade de se repetirem incêndios florestais com as características dos verificados em 2017, potenciados por condições pirometeorológicas propicias, num cenário em que, de acordo com o mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) se prevê um aumento da temperatura global em cerca de 4,8 graus centígrados e uma diminuição da humidade no ar e nos solos.

Para alem disto, acresce a fragilidade de uma população envelhecida em territórios de baixa densidade, abandonados e sem perspetiva de futuro, circunstancia que aumenta o potencial de risco. Assim, o que importa é criar as efetivas condições para reduzir o risco e aprimorar os sistemas de alerta e socorro, para que as populações possam aumentar a sua resiliência para lidar com tais incêndios.

Mal refeita do choque do incêndio de Pedrógão Grande a sociedade despertou para a problemática dos incêndios florestais e deixou de considera-los como um acontecimento recorrente do verão português, como se de uma fatalidade se tratasse.  

Dir-se-á que é preciso renascer das cinzas e não insistir na discussão à volta do que aconteceu há um ano, concentrando esforços e ação para que a tragédia provocada pelos incêndios não se repita, uma vez que temos por adquirido que vamos continuar a enfrentar grandes incêndios. Discordo desta argumentação.

Sim é preciso continuar a analisar, estudar e concluir sobre o que aconteceu em Portugal em 2017. Sim é preciso continuar a debater as vulnerabilidades do território, dos sistemas de proteção e socorro das pessoas, bem como da ação politica –  a nível local e central – visando a melhoria da sua qualidade e adequação.

E isto porque não podemos remeter para o arquivo da memória – tantas vezes utilizado como instrumento de desresponsabilização individual e coletiva – o que deve continuar a ser matéria para reflexão e imperativo para a ação.

As 115 vítimas mortais dos incêndios florestais de junho e outubro de 2017, bem como todos os sobreviventes que viram as suas vidas totalmente devastadas em consequência da referida catástrofe, impõem que continuemos a procurar respostas, não numa perspetiva persecutória para pessoas e instituições, mas apenas para que todos ajudemos todos a agir melhor.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

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