Por culpa da política de direita praticada pelo PS, os ávidos seguidores da privatização do Serviço Nacional de Saúde instrumentalizam os problemas existentes para desferir mais ataques. O debate realizado hoje na Assembleia da República foi demonstrativo disso mesmo.
A abrir o debate, Francisco Sousa Vieira, deputado do PSD, começou por fazer um diagnóstico do SNS, sendo que, à boleia do mesmo, esgrimiu um conjunto de argumentos reveladores da mais profunda desonestidade intelectual.
O deputado social-democrata abordou a falta de médicos de família, as longas listas de espera, o descontentamento dos profissionais e o falhanço da negociação entre o anterior governo e diversas estruturas representativas de trabalhadores. No fundo, somente concluiu o óbvio. A questão é que, aquando da necessidade de se concluir o porquê de tais problemas, o deputado acusou o PS de ter estado refém «da doutrina da extrema-esquerda».
O PSD optou, então, por ignorar que o PS colocou em prática a política que gostaria de ter colocado em prática e está pronto para continuar. Num exercício de passa-culpas que visa esconder os interesses comuns, o deputado Francisco Sousa Vieira procurou alimentar a narrativa da influência do PCP e do Bloco de Esquerda nas escolhas e opções do PS para, de forma descomprometida, defender o negócio privado da saúde.
Assentando toda a intervenção nas lacunas do SNS provocadas pelo sub-financiamento, o PSD vincou que o «estatismo» originado em 2015 «provocou a destruição do SNS» e, ignorando a fragilidade do resultado do seu partido nas eleições de 10 de Março deste ano, Francisco Sousa Vieira defendeu que houve uma recusa desse tal caminho, claramente confrontando o que seria um projecto de esquerda com a privatização da Saúde defendido pela direita.
Na resposta o PS, mais uma vez, colocou a tónica na «fragilidade» e «impreparação» do novo Governo, relembrando as recentes demissões da direcção executiva do SNS, caracterizando-as como «saneamento político».
À direita, o Chega sobre o SNS nada disse, como é norma e, além das polémicas da espuma dos dias, apenas perguntou se o PSD iria governar com PS, numa tentativa desesperada para fazer acordos com «um partido do sistema». Quanto à IL, mais uma vez vincou qual o caminho a seguir (o da privatização), não fosse a CEO da Luz Saúde um dos seus apoiantes.
À esquerda, nas críticas ao PSD, ao seu discurso e visão, Paula Santos, do PCP, começou por dizer que «o que falhou não foi o Estado, foram as opções políticas de PS, PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega». A comunista perguntou ainda ao deputado Francisco Sousa Vieira quais os compromissos do PSD, o que tem o seu partido a dizer aos enfermeiros que amanhã estarão a realizar greve, e o que tem a dizer aos restantes profissionais, que se confrontam com os problemas criados pela política de destruição do SNS.
Já o Bloco de Esquerda disse que esperava mais do debate agendado pelo PSD, mas, dada a ausência da ministra e de ideias do PSD, não havia muito para discutir sobre o SNS. Seguindo a deixa do PCP, o Bloco de Esquerda questionou também quais as ideias para o sistema de saúde português e por que razão nada foi colocado.
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