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|Economia

2022, o ano em que o défice da balança de pagamentos voltou

O regresso do défice da nossa balança de pagamentos espelha, de forma clara e transparente, onde nos conduziram as políticas de destruição ou alienação dos sectores estratégicos da nossa economia. 

Porto de Lisboa 
CréditosMário Cruz / Agência Lusa

O Instituto Nacional de Estatística (INE) acabou de divulgar as mais recentes estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022.

Confirmou que, no último ano, o PIB cresceu em termos reais 6,7%, o crescimento mais elevado desde 1987, depois de em 2021 ter crescido 5,5% e de ter registado em 2020 uma queda histórica de 8,3%, na sequência do impacto da pandemia sobre toda a actividade económica.

Uma análise da evolução trimestral do PIB mostra-nos, no entanto, que o aparente forte dinamismo registado no crescimento económico do ano passado se concentrou no primeiro trimestre e acabou por resultar mais de um efeito estatístico, do que de qualquer dinâmica de crescimento que se possa ter verificado.

Foi de tal forma assim que, antes do ano de 2022 se ter iniciado, já se sabia que mesmo que o crescimento económico fosse nulo nos quatro trimestres de 2022, comparativamente com o último trimestre de 2021, a nossa economia iria crescer pelo menos 3,9% neste ano.

Mais de metade desse crescimento registado em 2022 resultou, pois, do crescimento registado em 2021, da mesma forma que em 2021 foi inevitável o crescimento de 5,5%, dada a forte queda verificada no ano de 2020, devido à pandemia.

«Uma análise da evolução trimestral do PIB mostra-nos, no entanto, que o aparente forte dinamismo registado no crescimento económico do ano passado, se concentrou no primeiro trimestre e acabou por resultar mais de um efeito estatístico, do que de qualquer dinâmica de crescimento que se possa ter verificado.»

Em síntese, expurgado o efeito estatístico, a nossa economia cresceu efectivamente no último ano cerca de 3,8%, e não 6,7% como aponta o INE.

Ora, se deve ser assinalado como positivo o facto de este nível efectivo de crescimento do PIB em 2022 ter sido bem superior à média do crescimento económico que tem vindo a ser registado nas últimas décadas no nosso país, uma análise mais profunda deste crescimento mostra-nos que ele foi conseguido à custa de um défice externo da nossa balança de pagamentos, que já não se verificava desde 2011.

O forte crescimento em termos reais das nossas exportações de bens (8,7%) e do consumo final das famílias (5,8%), bem como algum crescimento do investimento (2,7%), dada a incapacidade de resposta do nosso aparelho produtivo, agravaram os nossos défices da balança alimentar e energética, que atingiram a preços correntes cerca de 5,9 mil milhões de euros e 11,6 mil milhões, respectivamente, e só encontrou resposta num crescimento ainda mais acentuado das nossas importações (9,8%), quer seja de bens de consumo, bens intermédios ou de bens de investimento.

E, desta forma, Portugal em 2022 voltou a uma situação de défice da nossa balança de pagamentos, (- 1071 milhões de euros, cerca de 0,5% do PIB) medido através das suas balanças corrente e de capital.

Segundo dados divulgados pelo Banco de Portugal em Fevereiro passado, se a balança de capital, continuando a beneficiar dos empréstimos a fundo perdido ao investimento, provenientes do quadro comunitário 2020 e do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), apresentou um saldo positivo de 2,1 mil milhões de euros, já a balança corrente, apesar dos melhores resultados de sempre da balança de serviços, 21,5 mil milhões de euros, e dos muito bons resultados da balança de rendimentos secundários (graças em particular às remessas dos emigrantes), viu fortemente agravado o seu défice para 3,2 mil milhões de euros, já que o défice da balança de bens chegou aos 26,5 mil milhões de euros e o défice da balança de rendimentos primários mais do que duplicou em relação a 2021, atingindo os 3,6 mil milhões de euros.

O regresso do défice da nossa balança de pagamentos, onze anos depois, espelha de forma clara e transparente onde nos conduziram as políticas de destruição ou alienação dos sectores estratégicos da nossa economia ao longo das últimas décadas. Dependência externa, cada vez mais acentuada para a satisfação das nossas necessidades básicas, bem expressa no agravamento da nossa balança alimentar e balança energética, logo que o consumo e o investimento crescem a um ritmo um pouco superior, e acentuada perda de soberania, bem espelhada nos lucros e dividendos que anualmente grandes investidores estrangeiros (institucionais e outros) repatriam para os seus países de origem, na esmagadora maioria dos casos dentro do espaço comunitário.

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