Notícias dos últimos dias, de que o Governo está a negociar o terceiro prolongamento do contrato de concessão da Fertagus, entre Setúbal e Lisboa, sem mais oferta de serviço, deixaram os utentes «perplexos», afirma a Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul num comunicado, onde revela que já remeteu as suas preocupações ao gabinete do primeiro-ministro.
Segundo adiantou o Público, a prorrogação do contrato é uma forma de «compensar a empresa pelos elevados prejuízos que teve durante a pandemia, quando a procura desceu a pique e os comboios andaram quase vazios durante o confinamento». Acautela-se o interesse da empresa, enquanto os utentes continuam a lidar diariamente com as consequências de um serviço praticamente inalterado desde o início da operação, há quase 25 anos, como a sobrelotação de carruagens em hora de ponta e a «contínua degradação do serviço».
«Os utentes estão fartos de aglomerações, na entrada e saída das carruagens e durante as viagens, de atrasos constantes e de assistir à prestação de socorro médico a outros utentes que se sentem mal na sequência das condições em que viajam», constata a Comissão de Utentes. Apesar disso, critica, o Governo está a negociar um prolongamento da concessão «tal como ela está, sem perspectivas de aquisição de novas composições, da extensão do serviço à estação do Oriente ou do aumento de frequência nas horas de ponta».
A falta de comboios é um dos aspectos críticos, embora a Comissão defenda que se o Executivo tivesse adquirido os comboios quando os utentes o reclamaram, «já hoje estavam ao serviço, como os que podem adquirir este ano chegarão sempre antes dos que venham a adquirir em 2034 ou 2044». Os utentes vão mais longe, afirmando que, se não se consegue melhorar o serviço com a Fertagus, no modelo de parceria público-privado (PPP), devia ser considerada a integração desta ligação ferroviária na CP, «passando o serviço no Eixo Norte-Sul a ser reforçado com outros comboios daquela empresa, pelo menos até à aquisição de novos, que tanta falta fazem».
Em Junho de 2018, mais de 100 personalidades e instituições assinaram um manifesto a exigir o fim da PPP da Fertagus, defendendo que ganharia o País, com a redução do esbulho de recursos públicos em favor dos privados, mas também os utentes e os trabalhadores. Meses mais tarde, PS, PSD, CDS-PP e o deputado do PAN chumbaram um projecto de resolução a favor do fim da concessão da Fertagus, iniciativa que haveriam de repetir (com a abstenção do PAN) no ano seguinte.
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