|direito à habitação

PSP e IHRU despejam várias famílias em Aveiro, sem apresentar alternativas

Pelo menos uma dezena de famílias está a ser alvo de despejo no Bairro do Griné, em Aveiro, a mando do IHRU, que por mais de uma década se recusou a assumir responsabilidades pelo edificado a seu cargo.

Foram erguidas duas tendas, improvisadas pelos próprios, junto ao bloco de apartamentos onde residiam e do qual foram despejados no dia 19 de Abril. Estão previstos mais despejos nos próximos dias. 
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Mais de uma dezena de famílias estão a ser ameaçadas de despejo em Aveiro, pela PSP e o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU). Duas famílias, que incluem cinco crianças com idades compreendidas entre os oito meses e os sete anos, já se encontram em situação de sem abrigo, instaladas em tendas erguidas pelos próprios, junto às suas antigas casas. 

A maior parte destas famílias vive no Bairro do Griné há mais de 10 anos: um bairro que se encontra profundamente degradado, com muitos dos seus fogos emparedados, consequência de uma total inacção do IHRU, responsável pelo bairro, ao longo das últimas décadas.

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Drama dos despejos motivou manifestação na Invicta

O Movimento pelo Direito à Cidade promoveu um protesto esta manhã, junto à Câmara Municipal do Porto, para alertar para a «pressão imobiliária e turística» na cidade.

A especulação imobiliária nos grandes centros urbanos tem criado problemas sociais
Créditos / CC-BY-SA-3.0

A notícia da Lusa, avançada pelo JN, dá conta dos testemunhos de quem já foi despejado da casa onde morava e de quem receia passar pela mesma situação. 

«Tenho de entregar a chave amanhã (quarta-feira), porque fui despejada da casa onde vivo, em Miragaia, desde que nasci, há 38 anos. O presidente da Câmara diz que dentro de dois ou três meses tenho casa. Entretanto, estou a viver no chão de casa da minha tia com a minha filha de 16 anos», revelou à agência uma das residentes que se manifestou esta manhã. 

No protesto, junto ao parque de estacionamento das viaturas da Câmara do Porto, os moradores empunhavam palavras de ordem como «Não aos despejos», «Mais habitação, menos especulação», «Habitação sim, mais hotéis não» e «O nosso desejo é nem mais um despejo».

António Dias, de 42 anos, reside há 21 na rua da Arménia e, uma vez que «o prédio foi vendido», receia vir a ser despejado. «Pago uma renda de 250 euros, que já não é coisa pouca. Tenho medo que me obriguem a sair. Vivo com um filho de cinco anos. É lamentável o que se passa no Porto, com tantos despejos por causa do turismo», afirmou. O morador adiantou ainda que Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, «está muito interessado na Cultura, mas esqueceu-se da habitação».

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Foram estas famílias, muitas delas com filhos menores de idade, que realizaram as obras, por conta própria, garantindo as condições mínimas de habitabilidade, ainda que sem a sua situação regularizada. A falta de resposta dos órgãos responsáveis obrigou estes cidadãos a garantir, pela sua própria acção, o cumprimento do direito à habitação.

A comissão concelhia de Aveiro do PCP, em comunicado divulgado junto dos órgãos de comunicação social, corrobora estes factos: «a estas famílias nunca foi garantida a regularização da sua situação, não obstante o Instituto da Segurança Social ter dela conhecimento e daquelas famílias o terem solicitado ao longo de anos».

«Entre as próximas famílias com aviso de despejo, estão mulheres em avançado estado de gravidez». A CPCJ já foi notificada da ocorrência e tratou de ameaçar uma das famílias de que, se não encontrar, por si própria, uma solução de habitação, as crianças lhes serão retiradas.

O Estado furta-se a cumprir o direito à habitação

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PCP quer revogar «lei dos despejos» de Cristas

O PCP quer a revogação da lei desenhada por Assunção Cristas e o BE anunciou propostas para a alterar. Para o CDS-PP, a solução é menos impostos para quem arrenda.

O presidente da Câmara Municipal de Loures (D), acompanhado por moradores de Santo António dos Cavaleiros durante a audição da secretária de Estado da Habitação, Ana Pinho, na Assembleia da República, em Lisboa. 10 de Abril de 2018
CréditosManuel de Almeida / Agência LUSA

O grupo parlamentar do PCP apresentou, no início de Fevereiro, uma proposta de revogação do novo regime de jurídico do arrendamento urbano – apelidada de «lei dos despejos» por estruturas de inquilinos, como a Associação de Inquilinos Lisbonenses –, aprovada em 2012 quando a actual presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, era ministra da tutela.

Em declarações à imprensa, o BE começou por anunciar, na semana passada, a apresentação de propostas de alteração à «lei dos despejos» de Cristas. Ontem, à TSF, o deputado Pedro Soares anunciou que a proposta será de «alterações cirúrgicas».

O CDS-PP de Cristas não quer ouvir falar de revogação da lei (tal como o PSD) e avançou ontem com uma proposta alternativa que, afirmam, vai resolver os problemas do arrendamento. O deputado Álvaro Castello-Branco anunciou a apresentação de uma proposta de redução da taxa liberatória em sede de IRS para rendimentos com arrendamento.

Isto significa que os  proprietários poderiam passar a pagar, no limite, apenas 12% de IRS, contra os actuais 28%, caso mantivessem contratos de longa duração. Uma taxa inferior à que se aplica, por exemplo, a um trabalho que aufira cerca de mil euros mensais.

Ontem, a secretária de Estado da Habitação, ouvida no Parlamento, não assumiu qualquer compromisso com mexidas na lei e a deputada Helena Roseta afirmou que o PS «ainda não assumiu uma reforma profunda, mas não está fechado o dossier».

A audição teve como pano de fundo a intenção da seguradora Fidelidade de avançar para o despejo de várias famílias que residem em prédios que detém em Santo António dos Cavaleiros (Loures). Ana Pinho revelou que está em contacto com a Fidelidade para encontrar uma solução, mas nenhum dos inquilinos que já receberam cartas a anunciar que o contrato de arrendamento não seria renovado foi contactado pela seguradora entretanto.

Ao Público, a representante da comissão de moradores que se constituiu entretanto, Ana Rita Pires, disse que estão «esperançosos, mas não estamos iludidos». «Ficávamos mais esperançosos se a lei fosse alterada», acrescentou.

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É de lamentar que o Estado não só não tenha «cumprido o seu dever de garantir a cada cidadão o direito à habitação», como ainda seja um organismo como o IHRU, um instituto público, a dinamizar o despejo.

O PCP «valoriza as acções já tomadas pelos moradores em defesa do seu direito constitucional à habitação e demonstra a sua solidariedade e disponibilidade para a luta pela salvaguarda dos seus direitos», tendo já questionado o Governo PS sobre o assunto, na Assembleia da República.

É indispensável que o Governo, o IHRU e a Câmara Municipal de Aveiro garantam, para já, uma habitação de emergência e a cessação imediata das acções de despejo já agendadas sem garantir uma alternativa de habitação condigna.

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