As alterações à mobilidade realizadas em virtude da realização das obras para acomodar a linha circular deixam perceber o que muitos denunciaram antes de o projecto baixar ao terreno: as deslocações no Metro de Lisboa serão sempre caóticas se não se travar o projecto. Esta quinta-feira, o PCP veio exigir medidas urgentes para minimizar os constrangimentos nos transportes públicos em Lisboa, em particular os decorrentes das obras no Metro no Campo Grande.
Estação de Telheiras encerrada e Linha Verde a funcionar com três carruagens, Linha Amarela cortada entre as estações do Campo Grande e da Cidade Universitária, autocarros da Carris a abarrotar e mais trânsito, tem sido este o cenário para os que diariamente se deslocam na capital desde que se iniciaram as obras de construção da linha circular.
Mas os constrangimentos não vão ser ultrapassados enquanto o projecto, que oportunamente mereceu críticas por parte de utentes e de trabalhadores, não for abandonado. «A obra em curso no Metropolitano de Lisboa resulta da opção errada pela linha circular, que desde a primeira hora o PCP denunciou e criticou, e que estando a sua execução a criar hoje todos estes problemas, criará outros se a mesma vier a estar em funcionamento, dificultando a mobilidade e o acesso à cidade, em particular, dos utentes do Metro que venham dos concelhos de Loures e Odivelas e das freguesias do Lumiar e Santa Clara», lê-se no comunicado dos comunistas.
Esta semana, o Governo veio admitir a possibilidade de outras soluções, como a chamada linha «em laço», que permitiria manter a ligação directa de Odivelas e de Telheiras ao centro da cidade. Para o PCP, a comunicação do Ministério das Infraestruturas fica a dever-se à luta dos utentes e à intervenção do partido sobre esta matéria, tanto na Câmara Municipal de Lisboa (CML), onde os vereadores comunistas apresentaram proposta para a realização de reunião urgente, que envolva todo o executivo da CML e os operadores de transportes da cidade, como na Assembleia da República.
Segundo nota do gabinete do ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro, este estará disponível para estudar a tal linha que não fecha – os comboios vindos de Odivelas entrariam na linha circular, fazendo todo o circuito pelo centro da cidade até Telheiras, e vice-versa.
Notícia divulgada na edição de hoje do Público reproduz vozes de especialistas que sempre estiveram contra a linha circular, recordando inclusive que estudos realizados pelo metro, com mais de 30 anos, já desaconselhavam a proposta. Mas revela também que optar nesta fase pela linha «em laço» vai obrigar a alterar o sistema de sinalização e a um investimento adicional.
Audição do Governo, mas Câmara não pode ficar «à margem»
Esta quarta-feira, o PCP pediu a audição urgente do ministro do Ambiente e Acção Climática no Parlamento para dar explicações sobre os problemas na construção da linha circular do Metropolitano de Lisboa e a possibilidade de esta ser cancelada. No início deste mês, já tinha requerido a audição, também com carácter de urgência, da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa, da Comissão de Trabalhadores do Metropolitano de Lisboa e do Presidente do Conselho de Administração do Metropolitano de Lisboa.
No requerimento lia-se que a suspensão, pelo Metropolitano de Lisboa, anunciada até 7 de Julho, dos troços entre Telheiras e Campo Grande (Linha Verde) e entre Campo Grande e Cidade Universitária (Linha Amarela), «agravada pela redução para comboios de apenas três carruagens na Linha Verde, bem como os trabalhos (e avarias) nas linhas, todas estas situações têm estado a criar nos últimos dias uma situação impraticável e perigosa, com os utentes a aglomerarem-se nos cais das estações e com as carruagens completamente cheias». Ao mesmo tempo denunciava que as «soluções de reforço», de serviços de transportes complementares, «não se têm mostrado suficientes».
Falta de planeamento e de articulação, nomeadamente entre o Metropolitano e outras entidades, como a Câmara Municipal de Lisboa, são outras das queixas apontadas pelos comunistas, que propõem medidas como o reforço da informação e apoio aos utentes nos locais afectados, a aplicação de soluções técnicas já utilizadas noutras obras desta dimensão, entre as quais a criação de um cais provisório na estação do Campo Grande, «aumentando as condições de segurança e possibilitando uma maior rapidez nas entradas e saídas dos comboios da Linha Verde e consequentemente uma maior frequência de composições».
A implementação diária de autocarros específicos entre os troços interrompidos, em regime de vaivém, todos os dias da semana e no horário completo do funcionamento do Metro, das 6h30 à 1h, e a criação de circuitos complementares aos circuitos existentes, nomeadamente entre Telheiras, Campo Grande, Cidade Universitária e Entrecampos, e entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, «a exemplo das soluções encontradas pela TML/Carris Metropolitana para a ligação entre o Cais do Sodré e Algés, aquando do encerramento da linha da CP», são outras propostas dos comunistas.
Sendo esta uma responsabilidade do Metropolitano, o PCP defende, no entanto, que a Câmara Municipal de Lisboa e restantes autarquias não pode, ficar «à margem das soluções» que se exigem.