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Destruir 280 azinheiras para proteger a «sustentatibilidade do negócio»

A Boliden, que gere as minas de Neves-Corvo (Somincor), em Castro Verde, recebeu o aval do Governo PSD/CDS-PP para destruir 280 azinheiras, espécie protegida, e instalar painéis solares, reduzindo os custos da sua operação.

A Azinheira é uma árvore protegida em Portugal 
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As azinheiras são árvores protegidas pela Lei portuguesa, que reconhece a sua «importância ambiental e económica» para o País, representando os montados «um recurso renovável de extrema importância económica, a nível nacional e a nível local», afirma o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O abate destas árvores só pode ser autorizado mediante o aval dos ministros da tutela das florestas e da tutela do empreendimento, reconhecendo a imprescíndivel utilidade pública da intervenção.

Em despacho publicado em Diário da República (10078/2025), os secretário de Estado do Ambiente, João Esteves, e o secretário de Estado das Florestas, Rui Pereira, do Governo PSD/CDS-PP, autorizaram o abate de 280 destas árvores em Castro Verde. Os governantes consideram que «à medida que a mina vai sendo explorada, os custos de exploração aumentam, pelo que a sustentabilidade do negócio depende directamente da capacidade da Somincor de manter estes custos o mais eficientes possível». 

Também a Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), citada pela Rádio Castrense, descarta a necessidade de pedir uma Avaliação de Impacte Ambiental, não sendo o projecto de construção do parque de painéis solares susceptível de «provocar impactes negativos no ambiente».

Uma vez mais, é destacado «o relevante interesse público, económico e social do empreendimento, bem como a sua sustentabilidade, dado o relevante e sustentável interesse para a economia local e nacional, onde sobressai a referência à contribuição» da Somincor para a «transição energética, a criação de postos de trabalho no Baixo Alentejo, o que contraria a tendência de desertificação das últimas décadas».

Privatizada em 2004, no Governo PSD/CDS-PP de Durão Barroso, as minas de Neves-Corvo são actualmente geridas pela sueca Boliden, a terceira multinacional a adquirir o controlo da empresa nos últimos 20 anos. O primeiro acto de gestão do novo patronato, que já motivou algumas greves e protestos, foi o de alterar o modelo de escalas de trabalho, impondo ritmos ainda mais intensos numa profissão de alto risco.

CDU lamenta «perda de património natural, com danos ambientais ao nível da preservação»

Em nota enviada à comunicação social, a estrutura concelhia da CDU (PCP/PEV) de Castro Verde considera «legítimo questionar se foram, de facto, analisadas todas as alternativas técnicas viáveis — alternativas que poderiam permitir à empresa que explora as Minas de Neves-Corvo alcançar os seus objectivos de reforço energético e redução de custos sem recorrer a medidas com impactos ambientais tão significativos».

A coligação de comunistas e ecologistas reafirma a sua posição de que «o progresso económico e a transição energética não podem ser feitos à custa da destruição do património natural», nomeadamente de um montado de o abate de 280 azinheiras. Castro Verde, defende a CDU, «merece soluções sustentáveis, equilibradas e verdadeiramente responsáveis».

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