|Peru

Pedro Castillo apela à unidade «sem vencedores nem derrotados» no Peru

Pedro Castillo, vencedor das presidenciais peruanas ainda à espera de proclamação, visitou a cidade de Cusco, onde traçou uma agenda política e apelou à «mais ampla unidade do povo peruano».

O candidato à Presidência do Peru Pedro Castillo durante a campanha eleitoral (imagem de arquivo) 
Créditos / Kawsachun News

«Comecemos esta nova etapa sem ódios e diferenças. Aqui não há vencedores nem vencidos, aqui há uma só família, que é o povo peruano», disse Castillo esta sexta-feira, tendo adiantado a agenda do que será o seu futuro governo perante a Assembleia Nacional de Governadores Regionais (ANGR).

Manifestando respeito e agradecimento pela vontade popular expressa, disse esperar que o Júri Nacional de Eleições (JNE) diga a sua palavra (sobre os pedidos de anulação de actas da candidata derrotada Keiko Fujimori) para que o país sul-americano possa enfrentar urgências como a luta contra a Covid-19, a descentralização e a reactivação económica.

Num discurso para os governadores do país que o reconheceram tacitamente como presidente, Castillo reiterou o apelo à «mais ampla unidade do povo peruano», tendo acrescentado que «a vontade popular tem de estar acima dos apetites políticos», informa a Prensa Latina.

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Castillo saúda aqueles que estão a defender o «voto do povo»

Pedro Castillo, à espera de ser proclamado presidente do Peru e apontado como vencedor há mais de dez dias, apelou este domingo à criação de «um país livre de desigualdade e injustiças».

Mobilização em defesa da vitória de Pedro Castillo e contra o golpismo fujimorista, em Lima 
Créditos / RT

Castillo disse que vêm aí novos tempos e que, unidos, «conseguiremos um Peru Livre de desigualdade e injustiças, um Peru Livre de verdade», numa clara alusão ao nome do seu partido.

Numa mensagem que escreveu na rede social Facebook por ocasião do Dia do Pai (que, tal como na grande maioria dos países latino-americanos, se celebra no Peru no terceiro domingo de Junho), o candidato da esquerda à Presidência do Peru, vencedor da segunda volta das eleições, realizadas há 15 dias, saudou todos os pais peruanos e do mundo.

Expressou ainda «admiração» por aqueles que saem de suas casas para defender o «voto do povo», participando em manifestações.

Castillo sublinhou o facto de, este sábado, centenas de milhares de compatriotas de todo o país terem participado em manifestações e concentrações contra as «manobras» para adiar ou frustrar a sua proclamação como presidente, com fins desestabilizadores ou golpistas, refere a agência Prensa Latina.

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Castillo pede às autoridades eleitorais que não adiem a proclamação

O processo de escrutínio eleitoral, concluído esta terça-feira, confirmou Pedro Castillo como o candidato à Presidência do Peru mais votado. A adversária, Keiko Fujimori, recusa-se a reconhecer a derrota.

Pedro Castillo foi o candidato mais votado na segunda volta das eleições presidenciais no Peru e, desde quinta-feira passada, é referido como «presidente não proclamado» (imagem de arquivo) 
Créditos / operamundi.uol.com.br

Discursando perante milhares de apoiantes que se juntaram frente à sede do seu partido, Perú Libre, Castillo agradeceu as felicitações recebidas por parte de partidos políticos e organizações sociais, bem como de governadores e autarcas, que assim reconheceram a vontade expressa pelo povo.

«Nessa mesma linha, peço às autoridades eleitorais que de uma vez por todas deixemos de adiar e continuemos a pôr o povo peruano em perigo, e que seja respeitada a vontade popular do país», disse, citado pela Prensa Latina.

Agradeceu o apoio dos manifestantes e felicitou-os por defender de forma pacífica «o voto dos homens humildes que estão nas terras mais esquecidas, porque o voto do povo peruano é um voto digno».

Aludiu deste modo aos pedidos realizados pela candidatura da neoliberal Keiko Fujimori ao Júri Nacional Eleitoral para anular muitos milhares de votos de regiões pobres que apoiaram maioritariamente o candidato da esquerda, numa tentativa de reverter uma derrota eleitoral que não aceita.

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Uma semana depois das eleições, o Peru continua sem presidente proclamado

Com 99,935% do escrutínio eleitoral realizado, Pedro Castillo tem uma vantagem superior a 49 mil votos, impossível de reverter, mas a candidata neoliberal, Keiko Fujimori, insiste na «fraude».

Pedro Castillo durante a campanha eleitoral 
Créditos / Brasil de Fato

A segunda volta das eleições presidenciais no Peru realizou-se no passado dia 6 de Junho e, no portal do Gabinete Nacional de Processos Eleitorais, com 99,935% do escrutínio efectuado, o candidato da esquerda, Pedro Castillo, aparece à frente de Fujimori, com 8 883 185 votos (50,14%) contra 8 783 765 (49,86%).

A estratégia da fujimorista passa por tentar reverter o resultado denunciando fraude e anulando centenas de actas eleitorais com votos das regiões andinas, onde a votação foi amplamente favorável a Castillo.

Num encontro que promoveu com a imprensa estrangeira, Fujimori disse que pretendia chamar a atenção da comunidade internacional para «factos graves recentes» e insistiu na acusação de uma alegada fraude nas mesas de voto, pela qual acusa o Perú Libre, partido de Castillo.

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Ainda sem proclamação, a vitória no Peru é de Castillo

O candidato Pedro Castillo garantiu uma vantagem de 63 441 votos na contagem oficial, impossível de ser superada, mas não foi ainda proclamado por causa das acusações de fraude da sua rival Keiko Fujimori.

CréditosStringer / Epa/Lusa

O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) divulgou esta quinta-feira que Castillo tem 8 791 778 votos e Fujimori 8 720 337, o que corresponde a 50,2% e 49,7%, respectivamente, com 99% das urnas contadas.

O Júri Nacional de Eleições (JNE), de acordo com a lei, pode proclamar o vencedor ao final da contagem ou quando a diferença entre os votos daquele que está em primeiro lugar for maior do que aqueles das urnas que falta verificar, como é o caso.

No entanto, a contestação a 802 urnas que contêm aproximadamente 500 mil votos, especialmente nos territórios andinos onde Castillo ganhou por uma ampla margem, impedem que o professor da escola rural seja proclamado o novo presidente.

Fujimori anunciou quarta-feira à noite que contestava esses votos por «irregularidades», as quais terá de provar com fundamentos específicos na lei eleitoral, para conseguir anular mesas de voto depois de o acto eleitoral estar completado.

Os especialistas eleitorais consideram a maioria das insinuações de fraude inconsistentes.

Por sua vez, o candidato de esquerda lançou uma mensagem nas redes sociais na qual agradeceu aos seus apoiantes, que continuam a resistir nas ruas em defesa da decisão popular, pediu calma e exortou-os a não cair em provocações «daqueles que querem ver este país no caos».

Descartada a possibilidade de anulação de eleição

Um especialista em trâmites eleitorais e um ex-procurador concordaram hoje, ao advertir que é juridicamente impossível anular a acta da última votação no Peru, como afirma a candidata Keiko Fujimori.

O advogado Jorge Jáuregui, especialista em direito eleitoral, que no domingo passado assegurou à RPP Notícias que o sistema de processamento de actas no Peru «é muito e fiável», descartou a viabilidade dos mais de 800 recursos de anulação apresentados pelo Fuerza Popular, partido de Fujimori, por a legislação actual estabelecer que esse procedimento é para ser apresentado durante e não depois do pleito.

Acrescentou que a justiça eleitoral estabelece motivos muito limitados para anular uma acta, como pressão violenta, suborno e outras acções externas durante a votação, e exige provas múltiplas e conclusivas do momento da infracção.

O ex-procurador Ronald Gamarra, jurista que faz parte da equipa que defende os votos de Castillo, afirmou estar confiante de que todas as impugnações serão rejeitadas e que o voto do cidadão é inatacável.

Considerou inadmissível e um abuso do direito a tentativa de roubo ou sequestro dos votos de 200 mil eleitores, especialmente das populações pobres das regiões andinas.

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Questionada sobre os problemas de legitimidade que teria um governo seu com base na anulação dos votos de 200 mil cidadãos, apenas respondeu que o Júri Nacional de Eleições se deve pronunciar sobre as acusações para confirmar quem ganhou as eleições de domingo passado, tendo acrescentado que trava «uma batalha contra o comunismo» e, segundo refere a Prensa Latina, deixando no ar a possibilidade de uma «intervenção estrangeira», que não fundamentou.

No sábado, participando numa mobilização em Lima com milhares de apoiantes, Keiko Fujimori acusou ainda o actual presidente peruano, Francisco Sagasti, de interferir no processo eleitoral para alegadamente favorecer Castillo.

Já o candidato do Perú Libre, em declarações à imprensa, pediu «paciência» e «serenidade» à população, instando-a a «não cair na provocação» e lembrando que «a campanha eleitoral já terminou», sendo agora «o momento da cerimónia».

Pedidos de anulação sem fundamento

Fernando Tuesta, ex-presidente do GNPE, disse à imprensa que os pedidos de anulação dos votos fazem parte de «uma estratégia legal, política e mediática» e que, sem eles, o Peru já teria um presidente proclamado.

Acrescentou que as denúncias carecem de fundamentação legal, uma vez que são alheias às quatro causas específicas que podem conduzir à anulação de uma acta eleitoral após a jornada eleitoral, pelo que os juízes devem fazer prevalecer a validade do voto, que expressa a vontade popular, refere a Prensa Latina.

Como exemplo, referiu que uma das alegações – de que dois membros de uma mesa de voto têm o mesmo apelido e seriam parentes – seria válida para impugnar a acta antes ou durante a eleição, mas não para dar lugar à eliminação dos votos de 250 eleitores da mesa.

Por seu lado, o analista Martín Tanaka considerou «pouco responsável falar de fraude sem ter provas conclusivas», acrescentando que apenas existiram irregularidades ou erros normais, e não uma máquina capaz de armar uma operação fraudulenta, como alega Fujimori.

Também a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) considerou o processo eleitoral de 6 de Junho «limpo» e «sem graves irregularidades», indica a TeleSur.

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«O povo peruano levantou a cabeça para dizer que vamos democraticamente salvar esta pátria, este país e que o voto de La Molina, Miraflores e San Isidro [zonas ricas de Lima] tem o mesmo peso cidadão e cívico que o do povo do recanto mais distante», frisou ainda Castillo, que fez um apelo à unidade e disse que não pode haver «ilusões», uma vez que «a batalha para acabar com as grandes desigualdades do país começa agora».

Também disse ser necessário estar atento «contra a desestabilização, a divisão e os golpes contra a democracia», referindo-se a políticos e antigos comandantes militares alinhados com Fujimori que pretendem levar por diante um plano de anulação da segunda volta das eleições presidenciais, prolongando os recursos contra o processo eleitoral até 28 de Julho, quando o novo governo deve tomar posse. Se não houvesse então um presidente proclamado, o Parlamento podia convocar novas eleições.

Fujimori, ao perder por pouco mais de 44 mil votos, trava «uma batalha contra o comunismo» 

Ao concluir o escrutínio – nove dias depois da jornada eleitoral, celebrada a 6 de Junho –, o Gabinete Nacional de Processos Eleitorais (GNPE) informou que Castillo obteve 8 835 570 votos (50,125%) e a sua adversária 8 791 521 (49,875%).

Também ontem, a candidata neoliberal à Presidência do Peru discursou perante apoiantes reunidos frente à sede do seu partido, Fuerza Popular, para afirmar que se recusava a aceitar a derrota e que a conclusão do processo de escrutínio pelo GNPE não era o mais importante.

Isso, defendeu, são os pedidos de anulação de actas eleitorais por alegadas irregularidades, que mais uma vez não fundamentou. Disse, no entanto, estar segura de que o JNE lhe irá dar razão.

Ontem, Fujimori anunciou que a equipa de advogados com que procura anular as actas de algumas das regiões onde se registou uma votação amplamente favorável a Castillo tinha sido reforçada com o ex-titular do Tribunal Constitucional Óscar Urviola.

Outro plano da ofensiva que Fujimori diz travar «contra o comunismo» é levado a efeito pelos seus apoiantes, que, refere a Prensa Latina, têm assediado as casas dos membros dos organismos eleitorais, para os pressionar.

Para dar força à estratégia de Fujimori, junto às instalações do seu Fuerza Popular, ontem não faltaram palavras de ordem «anti-comunistas» e Castillo foi acusado de «representar o terrorismo».

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«Mostraram que, quando o povo se une na defesa da sua dignidade, com alegria e com firmeza, não há máfia nem ameaça de golpe que o possa travar, [que] nenhuma manobra dobrará a sua vontade de mudança», acrescentou.

No sábado, uma enorme multidão juntou-se no centro de Lima, gritando palavras de ordem em defesa do reconhecimento da vitória de Castillo e contra Keiko Fujimori, a candidata neoliberal derrotada.

Numa tribuna aberta, dirigentes sindicais, agricultores, deputados, dirigentes de associações de moradores e de outras organizações falaram sobre as formas de defender a vitória eleitoral face às manobras do fujimorismo.

Fujimorismo insiste na «fraude», mas júris provinciais não encontram «provas» que fundamentem as alegações

A pouca distância, realizou-se também uma grande concentração de apoiantes de Fujimori, que, entre os habituais lemas anti-comunistas e ataques a alguns governos da região, defenderam a estratégia de prosseguir o questionamento dos resultados eleitorais, alegando «fraude», depois de o Gabinete Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) já ter dado como concluído o processo de escrutínio. Pedro Castillo obteve 50,125% dos votos e Keiko Fujimori 49,875%.

Entretanto, o Júri Nacional de Eleições (JNE) passou o dia de ontem a analisar os recursos interpostos pelos advogados de Fujimori, que pretende anular os votos de inúmeras mesas nas zonas rurais andinas, onde Castillo obteve uma ampla maioria.

Esses recursos, explica a Prensa Latina, foram rejeitados pelos júris eleitorais provinciais, por considerarem que os motivos alegados para a anulação das actas eleitorais não estão de acordo com a lei, nem existem provas que os fundamentem.

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Sobre a agenda do seu eventual governo, referiu que irá declarar como «emergências» a Educação e a Saúde, que devem ser direitos do povo e não apenas serviços, e também a Agricultura, que alimenta a população.

Reafirmou ainda a decisão de promover uma Assembleia Constituinte na qual os governadores participem, juntamente com os representantes do povo, e acrescentou que irá formar um governo «laborioso e austero, de luta contra a corrupção generalizada e a delinquência», e que a descentralização só será verdadeira se respeitar o carácter diverso e multi-étnico do país.

Agricultores agredidos em Lima

O presidente eleito mas não proclamado do Peru, Pedro Castillo, condenou de forma enérgica a agressão violenta a um grupo de agricultores que o apoiam e que, vindos do interior do país, realizavam um ritual andino à Mãe Terra na capital, Lima, por ocasião do Dia do Agricultor, 24 de Junho.

Castillo classificou os agressores como «grupos fujimoristas» e a TV peruana identificou alguns deles como membros do grupo anti-comunista La resistencia, que há vários anos assedia deputados, jornalistas e magistrados que de alguma forma atingem os interesses de Keiko Fujimori, que nega qualquer relação com eles.

Nos tempos mais recentes, refere a Prensa Latina, também participaram em acções de acosso às casas de titulares de órgãos eleitorais, para os pressionar a aprovar os recursos interpostos pela equipa de Fujimori para tentar reverter o resultado que saiu das urnas de voto.

Pedido de auditoria à OEA não avança

As manobras contra a eleição de Pedro Castillo como presidente do Peru sofreram um revés, na quinta-feira, com o fracasso do pedido de uma auditoria ao processo eleitoral à Organização de Estados Americanos (OEA), sendo que os observadores deste organismo emitiram um comunicado sem fazer qualquer referência a tal pedido e a apoiar os organismos eleitorais que o fujimorismo contesta.

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Castillo pede às autoridades eleitorais que não adiem a proclamação

O processo de escrutínio eleitoral, concluído esta terça-feira, confirmou Pedro Castillo como o candidato à Presidência do Peru mais votado. A adversária, Keiko Fujimori, recusa-se a reconhecer a derrota.

Pedro Castillo foi o candidato mais votado na segunda volta das eleições presidenciais no Peru e, desde quinta-feira passada, é referido como «presidente não proclamado» (imagem de arquivo) 
Créditos / operamundi.uol.com.br

Discursando perante milhares de apoiantes que se juntaram frente à sede do seu partido, Perú Libre, Castillo agradeceu as felicitações recebidas por parte de partidos políticos e organizações sociais, bem como de governadores e autarcas, que assim reconheceram a vontade expressa pelo povo.

«Nessa mesma linha, peço às autoridades eleitorais que de uma vez por todas deixemos de adiar e continuemos a pôr o povo peruano em perigo, e que seja respeitada a vontade popular do país», disse, citado pela Prensa Latina.

Agradeceu o apoio dos manifestantes e felicitou-os por defender de forma pacífica «o voto dos homens humildes que estão nas terras mais esquecidas, porque o voto do povo peruano é um voto digno».

Aludiu deste modo aos pedidos realizados pela candidatura da neoliberal Keiko Fujimori ao Júri Nacional Eleitoral para anular muitos milhares de votos de regiões pobres que apoiaram maioritariamente o candidato da esquerda, numa tentativa de reverter uma derrota eleitoral que não aceita.

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Uma semana depois das eleições, o Peru continua sem presidente proclamado

Com 99,935% do escrutínio eleitoral realizado, Pedro Castillo tem uma vantagem superior a 49 mil votos, impossível de reverter, mas a candidata neoliberal, Keiko Fujimori, insiste na «fraude».

Pedro Castillo durante a campanha eleitoral 
Créditos / Brasil de Fato

A segunda volta das eleições presidenciais no Peru realizou-se no passado dia 6 de Junho e, no portal do Gabinete Nacional de Processos Eleitorais, com 99,935% do escrutínio efectuado, o candidato da esquerda, Pedro Castillo, aparece à frente de Fujimori, com 8 883 185 votos (50,14%) contra 8 783 765 (49,86%).

A estratégia da fujimorista passa por tentar reverter o resultado denunciando fraude e anulando centenas de actas eleitorais com votos das regiões andinas, onde a votação foi amplamente favorável a Castillo.

Num encontro que promoveu com a imprensa estrangeira, Fujimori disse que pretendia chamar a atenção da comunidade internacional para «factos graves recentes» e insistiu na acusação de uma alegada fraude nas mesas de voto, pela qual acusa o Perú Libre, partido de Castillo.

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Ainda sem proclamação, a vitória no Peru é de Castillo

O candidato Pedro Castillo garantiu uma vantagem de 63 441 votos na contagem oficial, impossível de ser superada, mas não foi ainda proclamado por causa das acusações de fraude da sua rival Keiko Fujimori.

CréditosStringer / Epa/Lusa

O Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) divulgou esta quinta-feira que Castillo tem 8 791 778 votos e Fujimori 8 720 337, o que corresponde a 50,2% e 49,7%, respectivamente, com 99% das urnas contadas.

O Júri Nacional de Eleições (JNE), de acordo com a lei, pode proclamar o vencedor ao final da contagem ou quando a diferença entre os votos daquele que está em primeiro lugar for maior do que aqueles das urnas que falta verificar, como é o caso.

No entanto, a contestação a 802 urnas que contêm aproximadamente 500 mil votos, especialmente nos territórios andinos onde Castillo ganhou por uma ampla margem, impedem que o professor da escola rural seja proclamado o novo presidente.

Fujimori anunciou quarta-feira à noite que contestava esses votos por «irregularidades», as quais terá de provar com fundamentos específicos na lei eleitoral, para conseguir anular mesas de voto depois de o acto eleitoral estar completado.

Os especialistas eleitorais consideram a maioria das insinuações de fraude inconsistentes.

Por sua vez, o candidato de esquerda lançou uma mensagem nas redes sociais na qual agradeceu aos seus apoiantes, que continuam a resistir nas ruas em defesa da decisão popular, pediu calma e exortou-os a não cair em provocações «daqueles que querem ver este país no caos».

Descartada a possibilidade de anulação de eleição

Um especialista em trâmites eleitorais e um ex-procurador concordaram hoje, ao advertir que é juridicamente impossível anular a acta da última votação no Peru, como afirma a candidata Keiko Fujimori.

O advogado Jorge Jáuregui, especialista em direito eleitoral, que no domingo passado assegurou à RPP Notícias que o sistema de processamento de actas no Peru «é muito e fiável», descartou a viabilidade dos mais de 800 recursos de anulação apresentados pelo Fuerza Popular, partido de Fujimori, por a legislação actual estabelecer que esse procedimento é para ser apresentado durante e não depois do pleito.

Acrescentou que a justiça eleitoral estabelece motivos muito limitados para anular uma acta, como pressão violenta, suborno e outras acções externas durante a votação, e exige provas múltiplas e conclusivas do momento da infracção.

O ex-procurador Ronald Gamarra, jurista que faz parte da equipa que defende os votos de Castillo, afirmou estar confiante de que todas as impugnações serão rejeitadas e que o voto do cidadão é inatacável.

Considerou inadmissível e um abuso do direito a tentativa de roubo ou sequestro dos votos de 200 mil eleitores, especialmente das populações pobres das regiões andinas.

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No sábado, participando numa mobilização em Lima com milhares de apoiantes, Keiko Fujimori acusou ainda o actual presidente peruano, Francisco Sagasti, de interferir no processo eleitoral para alegadamente favorecer Castillo.

Já o candidato do Perú Libre, em declarações à imprensa, pediu «paciência» e «serenidade» à população, instando-a a «não cair na provocação» e lembrando que «a campanha eleitoral já terminou», sendo agora «o momento da cerimónia».

Pedidos de anulação sem fundamento

Fernando Tuesta, ex-presidente do GNPE, disse à imprensa que os pedidos de anulação dos votos fazem parte de «uma estratégia legal, política e mediática» e que, sem eles, o Peru já teria um presidente proclamado.

Acrescentou que as denúncias carecem de fundamentação legal, uma vez que são alheias às quatro causas específicas que podem conduzir à anulação de uma acta eleitoral após a jornada eleitoral, pelo que os juízes devem fazer prevalecer a validade do voto, que expressa a vontade popular, refere a Prensa Latina.

Como exemplo, referiu que uma das alegações – de que dois membros de uma mesa de voto têm o mesmo apelido e seriam parentes – seria válida para impugnar a acta antes ou durante a eleição, mas não para dar lugar à eliminação dos votos de 250 eleitores da mesa.

Por seu lado, o analista Martín Tanaka considerou «pouco responsável falar de fraude sem ter provas conclusivas», acrescentando que apenas existiram irregularidades ou erros normais, e não uma máquina capaz de armar uma operação fraudulenta, como alega Fujimori.

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Também disse ser necessário estar atento «contra a desestabilização, a divisão e os golpes contra a democracia», referindo-se a políticos e antigos comandantes militares alinhados com Fujimori que pretendem levar por diante um plano de anulação da segunda volta das eleições presidenciais, prolongando os recursos contra o processo eleitoral até 28 de Julho, quando o novo governo deve tomar posse. Se não houvesse então um presidente proclamado, o Parlamento podia convocar novas eleições.

Fujimori, ao perder por pouco mais de 44 mil votos, trava «uma batalha contra o comunismo» 

Ao concluir o escrutínio – nove dias depois da jornada eleitoral, celebrada a 6 de Junho –, o Gabinete Nacional de Processos Eleitorais (GNPE) informou que Castillo obteve 8 835 570 votos (50,125%) e a sua adversária 8 791 521 (49,875%).

Também ontem, a candidata neoliberal à Presidência do Peru discursou perante apoiantes reunidos frente à sede do seu partido, Fuerza Popular, para afirmar que se recusava a aceitar a derrota e que a conclusão do processo de escrutínio pelo GNPE não era o mais importante.

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No comunicado, a missão de observadores indica que acompanhou o trabalho dos júris provinciais que rejeitaram os recursos da equipa de Keiko Fujimori, bem como a resposta, igualmente adversa, do JNE às alegações da candidata, sublinhando que este trabalho foi realizado de forma legal e de acordo com os regulamentos vigentes.

A missão da OEA pediu responsabilidade, serenidade e que não se divulguem falsas notícias, tendo ainda repudiado o assédio de apoiantes de Fujimori às casas de autoridades eleitorais.

Em Lima, a candidata a vice-presidente pelo Perú Libre, Dina Boluarte, condenou as manobras do Fuerza Popular, partido de Keiko Fujimori, que continua deslegitimar o JNE.

Referindo-se a Fujimori e aos seus aliados, afirmou que se trata de «um grupo criminoso organizado que promove um golpe de Estado», tendo em conta o fracasso dos pedidos de anulação de actas. «Por muito que lhes custe», advertiu, Pedro Castillo vai tomar posse como presidente a 28 de Julho.

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